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Maomé e Cristo juntos contra Mozart

Foi cancelada a apresentação, em Berlim, da ópera de Mozart Idomeneu. A responsabilidade pela decisão cabe à directora da Ópera Alemã, Kirstin Harms, que a justificou com uma informação anónima segundo a qual haveria um «risco com final imprevisível para os funcionários e o público» se a ópera fosse apresentada. O chefe da polícia declarou que não houve uma ameaça concreta.

O líder do Conselho Islâmico Alemão elogiou a decisão, afirmando que «a encenação fere os sentimentos dos muçulmanos», enquanto o presidente da Comunidade turca na Alemanha a criticou, argumentando que «[recomenda] a todos os muçulmanos que aceitem determinadas coisas (…) a arte deve ser livre», o que demonstra que a Europa necessita é de mais muçulmanos educados no laicismo à maneira turca. E acrescento que as minhas convicções jacobinas e o meu gosto artístico estão ofendidos pela atitude de «respeitinho preventivo» da senhora directora da Ópera de Berlim.

Esta ópera de Mozart pode ser lida como uma defesa da rebeldia humana contra os deuses. Na encenação agora cancelada, a frase «os deuses estão mortos» é ilustrada com as cabeças decepadas de Poseidão, Buda, Cristo e Maomé. O encenador (o verdadeiro responsável pelas cabeças cortadas) opõe-se ao cancelamento da ópera e critica a sua directora. Refira-se que quando a ópera esteve em exibição, em 2003, cristãos extremistas presentes no público destruíram as portas da ópera em protesto contra o seu conteúdo iconoclasta. O respeito pela liberdade de expressão, como se verifica, não é um mandamento de religião alguma.

O governo, que mantém a intenção de ensinar a religião muçulmana nas escolas públicas, criticou todavia a decisão da ópera de Berlim.

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