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Karol Wojtyla: «a evolução aplica-se a todos os animais menos um» (1)

Se é verdade que o Papa Karol Wojtyla afirmou que «a teoria da evolução é mais do que uma hipótese», é também verdade que a considerava «incompatível com a verdade sobre o homem». A contradição é só aparente: lendo a sua «Mensagem à Academia Pontifícia de Ciências», compreende-se que Wojtyla pretendia conciliar o evolucionismo com a «revelação» judaico-cristã, limitando o campo de aplicação do primeiro a todos os animais à excepção do homem.

A ideia aparece claramente no final do quinto parágrafo, quando Wojtyla diz que «teorias da evolução que (…) consideram a mente como emergindo das forças da matéria viva, ou como um mero epifenómeno desta matéria, são incompatíveis com a verdade sobre o homem. Também não podem fundamentar a dignidade da pessoa». No início desse parágrafo, Wojtyla explicara claramente que a preocupação do «magistério da Igreja» com a evolução se deve às consequências desta para a «concepção do homem», que a ICAR considera que foi «criado» separadamente dos outros animais por «Deus». Portanto, a divergência fundamental com a ciência funda-se na repugnância católica em reconhecer que o ser humano é um animal.

No parágrafo seguinte, Wojtyla precisa que o ser humano constitui «uma diferença ontológica, um salto ontológico», e afirma que esta «descontinuidade ontológica» não contradiz a «continuidade física» do universo, porque o «momento da transição para o espiritual» não seria «observável» pelas ciências da natureza.

A cosmovisão «excepcionalista» de Karol Wojtyla seria compatível com várias situações: a «criação» do ser humano, mas não dos outros animais (existentes e passados); ou a aceitação da origem evolutiva do homo sapiens, seguida da «inoculação espiritual» da «alma» em momento histórico incerto.

Em qualquer dos casos, Wojtyla parte de várias premissas erradas: que o homem é um animal fundamentalmente diferente dos outros; que o universo foi «criado» para o homem; que o universo foi «criado» com um propósito ético benigno; que a separação disciplinar entre vários ramos do conhecimento corresponde a uma compartimentação das parcelas da realidade; finalmente, que existe uma hierarquia entre as disciplinas do conhecimento humano, com a teologia no topo.

(continua)

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