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recortes de steven weinberg, prémio nobel da física de 1979

steven weinberg é um físico norte-americano, nascido em 1933, e vencedor do prémio nobel da física de 1979 (pela combinação das forças electromagnética e fraca na chamada força electrofraca, base do modelo standard da física de partículas moderna). é autor do artigo mais citado de todos os tempos em física teórica de altas energias. ao longo da sua vida, steven weinberg fez muitos comentários sobre religião. fazemos aqui uma colectânea (de fontes diversas) de algumas das suas melhores intervenções:


«[…] O esforço para compreender o universo é uma das poucas coisas que eleva a vida humana um pouco acima do nível da farsa, e lhe dá alguma da elegância da tragédia. […]»

«[…] Nada nos últimos quinhentos anos teve um impacto tão grande para o espírito humano como as descobertas da ciência moderna. […]»

«[…] Nada foi mais importante na história da ciência do que o trabalho de Darwin e de Wallace salientando que, não apenas os planetas, mas a própria vida, pode ser compreendida de uma forma naturalista. […] Eu sinto, pessoalmente, que o ensino da ciência moderna é corrosivo para a crença religiosa, e apoio-o completamente! Uma das coisas que de facto me tem guiado na vida, é o sentimento que esta é uma das grandes funções sociais da ciência–libertar as pessoas da superstição. […]»

«[…] Pela palavra Deus ou nos referimos a algo em concreto ou não nos referimos a nada em concreto. Se pela palavra Deus nos referimos a uma personalidade que se preocupa com os seres humanos, que fez tudo isto por amor para com os seres humanos, que nos vigia e que intervém, então eu tenho que dizer que, em primeiro lugar, como é que o sabemos, o que leva as pessoas a pensar isso? E em segundo lugar, isso é realmente uma explicação? Se isso é verdade, então o que o explica? Porque existe um tal Deus? Não é o final de uma cadeia de porquês, é apenas um passo, e as pessoas têm necessáriamente que dar o próximo passo. […]»

«[…] Eu penso que foi verdade no passado que existia uma esperança algo alargada que, ao estudarmos a natureza, descobrissemos enfim o sinal de um grande plano, um plano em que os seres humanos tivessem um destacado papel principal. E isso não aconteceu. Penso que cada vez mais e mais a descrição da natureza, do mundo exterior, tem sido a de um mundo impessoal governado por leis matemáticas que não têm qualquer preocupa&ccedilão especial com os seres humanos, um mundo em que os seres humanos aparecem apenas como um fenómeno do acaso e não o objectivo para o qual o universo está dirigido. […] Acredito que não existe qualquer propósito para o universo que possa ser descoberto pelos métodos da ciência. Acredito que o que encontrámos até agora, um universo impessoal que não está particularmente dirigido aos seres humanos, é o que continuaremos a encontrar. E que quando descobrirmos as leis últimas da natureza, elas terão uma impessoalidade fria e distante. […]»

«[…] Penso que foi gasta muita energia intelectual, ao longo dos séculos, no que diz respeito a assuntos religiosos. Pensem em todos os monges que se dedicaram aos detalhes da doutrina teológica — monges e rabinos e monges budistas e imãs, ao longo dos anos a dedicarem tanto talento e tanta energia às questões da teologia. De certa forma a ciência dá-nos uma forma alternativa de usar a nossa mente. Isto é mais alguma coisa em que podemos usar a inteligência humana. E tem várias vantagens. Tem a vantagem de termos formas de descobrir se estamos errados sobre as coisas. Eu já tive essa experiência na minha vida — a maior parte dos cientistas já teve — de ter uma teoria que eu pensava ter que estar certa ser provada errada através de experiências — é uma experiência muito libertadora. […]»

«[…] Penso que parte da missão histórica da ciência tem sido de nos ensinar que nós não somos fantoches da intervenção sobrenatural, que nós podemos construir o nosso próprio caminho no universo, e que temos de encontrar por nós próprios o nosso sentido de moralidade. […]»

«[…] A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem religião, encontramos pessoas boas a fazerem coisas boas e pessoas más a fazerem coisas más. Mas para encontrarmos pessoas boas a fazerem coisas más, para isso é necessário estar presente a religião. […]»

«[…] Esta tem sido o mais frequente motivo para nos matarmos uns aos outros – não apenas para pessoas de uma dada religião matarem as de uma outra religião, mas mesmo dentro de uma mesma religião. Afinal de contas, foi um muçulmano que matou Sadat. Foi um judeu devoto que matou Rabin. Foi um hindu devoto que matou Gandhi. E isto tem acontecido assim ao longo de séculos e séculos. Parece-me que em muitos aspectos a religião é como um sonho – por vezes um sonho bonito. Outras vezes um pesadelo. Mas é um sonho do qual me parece ser mais do que altura de acordarmos. Da mesma forma que uma criança aprende sobre a “fada dos dentes de leite” e é incentivada a deixar os dentes que caem debaixo da almofada – e nós gostamos que a criança acredite na “fada dos dentes de leite”. Mas eventualmente nós queremos que a criança cresça. Penso que é altura para a espécie humana crescer e amadurecer neste aspecto. […]»

«[…] Carl Popper lembrou que, apesar de terem sido feitas coisas terríveis fazendo uso dos frutos da ciência, nunca ninguém iniciou uma guerra por causa de um princípio científico, ou exterminou populações inteiras por estas não concordarem com um dado aspecto da ciência. […]»

«[…] A maior parte das grandes religiões do mundo co-existiram muito confortavelmente com a escravatura. […] Parte da evolu&ccedilão geral do conceito de moral, por parte da raça humana, pode ser creditada ao crescimento da ciência–um sentido de racionalidade, uma visão científica que nos diz que não somos assim tão diferentes uns dos outros, que não existe qualquer direito divino para os reis, e por aí fora, não existe nenhuma diferença racial intrínseca que nos possa permitir escravizar uma raça em proveito de uma outra raça. […] As pessoas simplesmente têm se tornado menos religiosas e mais morais. […]»

«[…] [Não sei] se estamos a caminhar para uma nova Idade das Trevas, onde os povos voltem a iniciar cruzadas e guerras santas e genocídios, ou se o curso natural do racionalismo e do humanitarianismo irá continuar, e a religião irá gradualmente desvanecer para algo de muito menor importância. […] Do meu próprio ponto de vista, apenas posso esperar que esta longa e triste história finalmente acabe algures no futuro próximo, e que esta progressão de padres e curas e monges e rabis e imãs e mullah‘s e bodisatvas finalmente acabe, e que nunca mais voltem. Espero que isto seja algo para o qual a ciência possa contribuir, e se for, então eu penso que essa pode ser a contribuição mais importante para a sociedade que nós podemos fazer. […]»


[também no esquerda republicana]

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