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Ratzinger e a negação do evolucionismo

As actas do seminário em que Ratzinger pomposamente «examinou» a evolução vão ser publicadas ainda este ano, de acordo com a agência Reuters, para o ano segundo um teólogo português que participou no encontro.

Enquanto as actas não são disponibilizadas, pela primeira vez em toda a história destes debates anuais de Ratzinger, o que demonstra a importância do tema para a ICAR, podemos olhar para a imprensa católica para apreciar o que foi de facto discutido no dito seminário.

A evolução é um tema recorrente na prosa do corrente Papa, abordado por Ratzinger logo no seu discurso de tomada de posse, em que afirmou «nós não somos o produto casual e sem sentido da evolução». O evolucionismo é assim um perigo que urge eliminar, porque, como confirma Rafael Pascual, decano de Filosofia e director do Mestrado sobre Ciência e Fé no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum – o tal que oferece mui científicos cursos de exorcismo:

«criacionismo e evolucionismo são em si incompatíveis» embora o não sejam «criação e evolução, que, pelo contrário, se encontram em dois níveis diferentes».

Isto é, a ICAR pretende falaciosamente que a criação, ou seja, a origem das espécies, só pode ser abordada «na perspectiva filosófica e teológica» e não faz parte das competências da ciência explicar como surgiram e evoluiram as espécies que povoam o nosso planeta.

De facto, a Igreja precisa arranjar uma história que contemple a evolução, completamente impossível de negar – mesmo o mais ignorante dos créus sabe que o vírus da gripe evoluiu, especialmente agora em que todos esperam o que os acasos da evolução fazem ao vírus da gripe das aves – e negue o evolucionismo. A penas de ir perdendo clientes já que, à luz do conhecimento científico actual, os mitos cristãos são cada vez mais implausíveis e é necessário um grande esforço de dissociação para conseguir ser-se cristão e simultaneamente minimamente esclarecido cientificamente. E a Igreja sabe que acima de tudo precisa de arranjar uma forma «airosa» de alimentar os mitos sem alienar os seus clientes cientificamente mais cultos.

Em primeiro lugar, já conseguiram o primeiro objectivo, instilar dúvidas nos crentes analfabetos cientificamente sobre a aceitação do evolucionismo na comunidade científica, argumentando que a teoria da evolução deve ser vista como uma «teoria científica, com os argumentos a favor, mas também reconhecendo os limites e os problemas ainda por resolver», e como tal não deve ser apresentada «como uma espécie de dogma absoluto, definitivo e indiscutível».

Escolha de linguagem judiciosa que é um acumular de contradictio in terminus científicos, mas que joga com o desconhecimento do público em geral do método científico e joga com o léxico do quotidiano em que «teoria», entendida como palpite, tem um significado completamente distinto daquele que tem em ciência.

Ou seja, este tipo de linguagem faz crer aos clientes mais distantes da realidade científica que há dúvidas na comunidade científica sobre o evolucionismo, que não passa ainda por cima de um palpite «ateu», o que é completamente falso!

(continua)

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