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Mês: Agosto 2006

11 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Terrorismo religioso em Londres

O incitamento ao crime e extermínio dos infiéis é um desígnio divino que vem expresso nos livros sagrados dos monoteísmos e é impresso na mente dos fiéis pelos clérigos.

Deus será infinitamente bom mas com um feitio irascível e humor lábil, incompatível com a civilização e a felicidade da humanidade.

Um Deus de Londres incumbiu uns dementes, cheios de fé e orações, de derrubar aviões repletos de infiéis ainda que neles viajassem alguns crentes que ele identificaria quando chegassem ao Paraíso.

Pensou Deus em seu pensamento como seria divertido fazer explodir, durante o voo, aviões que circulassem entre Londres e os EUA. Logo quiseram agradar-lhe os fiéis, contrariados pela polícia londrina, pouco dada à fé e aos seus desvelos, prendendo os piedosos crentes cheios de orações e explosivos.

Gorada a divina festa ficaram por ajustar contas que o Deus dos detidos tinha mandado saldar.

Sabendo-se que os templos são as escolas onde Deus manda ensinar a arte de destruir os fiéis do Deus concorrente, há um só processo de contrariar a vontade divina: manter os templos sob vigilância apertada e a vontade de Deus submetida ao Código Penal.

Na impossibilidade de meter Deus numa enxovia, é preciso descobrir, julgar e punir os executores da sua vontade e reservar-lhes um calabouço onde, por direito próprio, devia apodrecer Deus.

Os pregadores do ódio não podem andar à solta. Não se julgue cada crente um terrorista, mas vai sendo tempo de ver no Corão uma bíblia carregada de ódio e fanatismo sem que os clérigos renunciem à palavra de Deus.

10 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Seminaristas perto do bispo e do Criador

O Sr. Teodoro, bispo do Funchal, que descobriu em Roma o padre Frederico, a quem se afeiçoou e fez secretário particular, vai entrar em retiro espiritual «com os seminaristas mais velhos, ou seja os estudantes de Teologia».

Se os «estudantes de teologia» fossem tão hostis como os homólogos do Afeganistão, é de crer que a integridade física de um bispo católico sofresse mossa. Assim, não corre perigo.

O Sr. Teodoro deu início a estas Jornadas místicas, há 24 anos, quando se juramentou como bispo titular do Funchal.

O retiro tem como objectivo juntar seminaristas madeirenses, dispersos por Roma, Paris e Lisboa, «para entre eles se estabelecer um conhecimento mútuo mais aprofundado que degenere [sic] numa maior comunhão e amizade eclesial e sacerdotal» – diz a agência Ecclesia.

«Não haveria melhor sítio para viver em ambiente de espiritualidade, em contacto com a natureza, mais perto do Criador, e dos irmãos jovens candidatos ao sacerdócio, do que essa Quinta que foi doada à Diocese» – lê-se na mesma notícia.

Os ateus ficam confundidos com o facto de uma quinta doada à diocese ficar mais perto do Criador do que a Quinta da Vigia, por exemplo.

Com tais conhecimentos de geografia a ICAR tem obrigação de divulgar as coordenadas divinas a fim de poderem ser confirmadas pelos astrónomos.

10 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Amor cristão: ecumenismo

Depois dos protestos encenados pelos crentes que nos lêem acerca do termo que utilizei, vacuidade, para descrever as conclusões de algumas constatações experimentais sobre as pretensões católicas de que a sua é uma religião de tolerância e amor, mais um exemplo recente, para além daqueles que enchem os nossos arquivos, confirmam a pertinência do termo.

Por informação de um dos nossos leitores do outro lado do Atlântico cheguei a esta notícia que dá conta que dois indígenas de uma comunidade do estado de Chiapas, no sudoeste do México, foram detidos por se atreverem ao desplante de professarem uma versão do cristianismo que não a católica.

Os dois evangélicos em causa, Roberto Vicente Pérez e Carlos Jiménez López, encontram-se presos na casa comunitária desde domingo. Os católicos exigem o pagamento de 6 mil pesos (cerca de 500 euros) para soltar os dois homens, apesar de eles «não terem cometido algum delito».

O pastor Alonso González, coordenador de assuntos religiosos de San Cristóbal de las Casas, denunciou ainda que os católicos destruíram na semana passada um templo evangélico em Majomut, em San Juan Chamula.

10 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Estrutura de embriões do período câmbrico

Reconstrução tomográfica da levedura Saccharomyces cerevisiae.

A embriologia tem sido uma das áreas de investigação privilegiadas na reconstrução da história evolucionária da vida na Terra, desde que o embriologista Ernst Haeckel, nos finais do século XIX, cunhou os termos «ontogenia» e «filogenia», além do hoje familiar «ecologia». Essa reconstrução tem assentado na discussão da natureza de ancestrais comuns por identificação de características embriológicas partilhadas por espécies que derivam desse ancestral. A tarefa é dificultada pelo facto de que é complicado analisar o registo embriológico fóssil existente e só recentemente estão disponíveis técnicas que permitem olhar directamente para os embriões dos animais existentes nos primórdios da diversificação animal.

De facto, e inesperadamente, uma vez que um embrião não é algo que se esperaria fácil de fossilizar, durante a última década têm sido descobertos embriões fossilizados na China, Sibéria, Austrália e nos Estados Unidos, que fornecem informação embriológica preciosa antes, durante e após a explosão evolucionária verificada no período câmbrico.

Hoje, a revista Nature revela os resultados da investigação realizada em embriões fossilizados com mais de 500 milhões de anos, obtidos pela equipa liderada por Philip Donoghue da Universidade de Bristol, Inglaterra.

Usando uma técnica muito recente, microscopia tomográfica baseada em radiação-X sincrotrão (srXTM), e utilizando radiação sincrotrão* produzida no Swiss Light Source (SLS) em Villigen, Suiça, os cientistas reconstruiram a estrutura tridimensional de embriões de espécies que viveram no período câmbrico.

A equipa de investigação revelou detalhes da estrutura de embriões em várias fases de desenvolvimento, desde a fase inicial, que não é mais que um amontoado de células indiferenciadas, até estágios complexos do desenvolvimento embrionário em que se distinguem vários tipos de células especializadas. As células individuais podem apreciar-se com o detalhe da Saccharomyces cerevisiae reproduzida.

O trabalho de Donoghue permite ainda esclarecer algumas dúvidas em relação aos fósseis de Doushantuo, descobertos na província de Guizhou, China, entre os quais o que se considera serem embriões fossilizados, formados muitos milhões de anos antes do período câmbrico, que alguns cientistas propunham ser não fósseis de vida marinha e vegetal primordial mas sim fósseis formados a partir de cristais inorgânicos.

É cada vez mais difícil aos IDiotas, que não disfarçam as suas motivações religiosas, manter que a evolução é uma palermice: «Nós acreditamos que o [Desenho Inteligente] movimento ajuda o movimento do criacionismo bíblico porque faz com que as pessoas se apercebam da parvoíce da teoria da Evolução». Mesmo com a produção de vídeos completamente imbecis como este, que segundo o nome sonante da IDiotia William Dembski vai impedir às crianças que o vejam alguma vez acreditarem na evolução de Darwin.

*Nos aceleradores de partículas é produzida radiação sincrotrão, na gama dos raios X, devido à curvatura do feixe das partículas aceleradas. Quando uma partícula carregada é acelerada num percurso linear ou se move num percurso curvo emite radiação electromagnética.

10 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Madonna diabólica

A diocese de Milão considerou mandar retirar este enorme (e recatado) outdoor de Madonna colocada num dos andaimes onde se procede à restauração da Catedral de Milão.

Segundo o Corriere della Sera, a Veneranda Fabbrica do Duomo, criada em 1387 para construir e conservar a catedral milanesa, a entidade a quem compete decidir que tipo de publicidade pode ser colocada nas respectivas paredes, pela voz do seu director, Benigno Morlin Visconti, afirmou ter agido de «boa fé» ao permitir há um mês a colocação do anúncio.

Claro que na altura ninguém previa a polémica que a digressão de Madonna levantaria nas hostes cristãs – nomeadamente que, além da crucificação, incluiria no espectáculo imagens de Bento XVI numa projecção na qual apareciam outros personagens como Hitler, George W. Bush, Benito Mussolini, Osama Bin Laden e Saddam Hussein – pelo que Visconti acrescentou que se o soubesse teria impedido que a fotografia em questão ornamentasse o dito andaime.

No entanto, apesar dos protestos acerca do inocente anúncio da Hennes & Maritaz, Monsenhor Luigi Manganini, arcipreste do Duomo, disse que o anúncio poderia ficar todo o tempo que consta do contrato com a H&M. De facto, a denúncia do contrato publicitário, que integra uma campanha de angariação de fundos destinada à restauração da catedral, não deveria sair barata aos cofres da Igreja. Assim Manganini, justificou a sua decisão afirmando que é apenas um anúncio, não uma canonização.

«As outras partes do edifício estão cheias de demónios e diabos. Assim uma Madonna infernal não nos deve prejudicar muito» disse ao Corriere della Sera Vittorio Sgarbi, o responsável da cultura da câmara de Milão.

Entretanto os dois espectáculos de Madonna em Moscovo, apesar do boicote da Igreja Ortodoxa, prometem esgotar rapidamente. Não obstante terem sido mudados da Praça Vermelha para um recinto da Universidade estatal de Moscovo, centenas de pessoas passaram a noite à porta da local onde iriam ser vendidos os bilhetes para os espectáculos na capital russa. Em Praga, a cidade onde Madonna actuará antes de viajar para a Rússia, a organização do espectáculo informou que os 36 000 bilhetes disponíveis esgotaram em 9 minutos.

Não é complicado prever que esta primeira actuação de Madonna em solo soviético será um sucesso comparável ao de Roma. Não obstante os boicotes de todas as religiões do livro que consideram um sacrilégio a actuação da cantora na cidade que descrevem como «a capital da ortodoxia».

9 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

O atleta e a cruz

Quem ainda não perdeu os entes mais queridos desconhece a dor, a saudade e mágoa que o luto transporta.

Ganham valor as fotos abandonadas no fundo da gaveta, os objectos que se partilharam e as conversas arrastadas pelo prazer do convívio.

Nada há de mórbido na evocação saudosa que ressurge com frequência, nas memórias que nos acodem e nos momentos que evocamos.

Diferente é o carácter masoquista dos devotos do Deus que o temor dos homens criou.

Que pensaríamos do filho cujo pai foi esmagado pelo tractor que se virou no cômaro da vinha e lhe esmagou o crânio, se exibisse na sala de jantar a foto do acidente? Que demência poderia levá-lo a coleccionar miniaturas do veículo assassino no quarto de casal e sobre o berço das crianças?

Os cristãos, na sua mórbida devoção, ao exibirem a cruz e o cadáver, isolados ou em conjunto, lembram o psicopata que tivesse na escrivaninha o busto esmagado do pai, uma escultura com os ossos partidos sob o tractor que o esmagou ou a miniatura do veículo.

Se ao Cristo da fábula, em vez da improvável cruz em que se finou, tivessem inventado o esmagamento por uma pedra que o vendaval soltasse do Monte Sinai, teríamos hoje, em vez das chagas, da coroa de espinhos e da cruz de madeira, um corpo ensanguentado com ossos quebrados sob uma pedra sagrada.

Por todo o lado onde o cristianismo fez mossa, haveria templos em cujo altar se prestaria culto a um corpo estropiado e uma pedra. O próprio transepto que ora recorda a cruz teria nos templos a forma da pedra e o mancebo, que dependuraram na cruz, o aspecto das fotos da judiciária para documentar crimes macabros.

Nos relicários, em vez do lenho, reluziriam santos fragmentos de feldspato, quartzo ou mica e, na comunhão, em vez do corpo e sangue do fundador da seita, degustariam os beatos aparas de ossos e cartilagens passadas pela varinha mágica da culinária litúrgica.

9 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Inconsistências cristãs

Considerando que a violência que conturba o nosso Mundo está ligada à religião, pareceria pacífico concluir que menos religião, pelo menos na esfera pública, implicaria menos violência. A maioria dos crentes nega este facto experimental, argumentando que o problema é a deturpação da religião e o seu aproveitamento, ou então que o problema é a religião dos outros.

Fiquei assim surpreeendida quando li que um teocrata americano, um dos prováveis candidados às primárias presidenciais pelo partido republicano, o ex-porta voz do congresso americano Newt Gringrich, o homem que argumenta estarmos em plena Guerra Mundial III, culpa a religião e o fundamentalismo religioso pelos problemas actuais do mundo:

«O dia em que eles tiverem capacidades biológicas e nucleares a guerra não vai terminar. Se os nossos inimigos tiverem armas nucleares ou biológicas eles vão usá-las. Isto não é União Soviética. A União Soviética era uma burocracia cansada, ateísta. Se alguém for ateísta e então se tornar um bombista suicida não vai para lado nenhum».

Ou seja, Gringrich reconhece que um ateísta é um inimigo mais pacífico e racional porque não acredita numa vida para além da morte e que se os inimigos de que Gringrich fala não fossem tão religiosos não seriam tão violentos. Newt Gingrich basicamente reconhece o que dizemos há muito: os problemas de violência e horror com que o mundo moderno se debate assentam no fundamentalismo religioso. Mas todos os fundamentalismos são iguais e igualmente perigosos: não há fundamentalismos bons e fundamentalismos maus, todos devem ser igualmente combatidos!

Claro que para Newt, um devoto católico, pecador como eles se reconhecem, mas que ama a jesus cristo e como tal deve ser perdoado, apenas o fundamentalismo dos «outros» é um eixo do mal, o fundamentalismo cristão não só é bom como fundamental.

Assim, em casa própria combate com unhas e dentes o secularismo, isto é, a laicidade, e a malvada esquerda (leia-se democratas) que não reconhece que o que urge nos Estados Unidos, que resolveria todos os problemas do Mundo como consequência, é a implantação duma teocracia.

Nomeadamente, ululou contra a decisão do Supremo Tribunal americano que mandou retirar os Dez Mandamentos de salas de tribunal , a que chamou uma decisão «histericamente esquizofrénica e completamente indefensável».

Ou seja, estranhamente o devoto católico, que tão bem conseguiu ver que o fanatismo religioso dos «outros» é uma ameaça à paz, é completamente cego ao seu próprio fanatismo – seja real ou simulado por conveniência política. Políticos como Gingrich, muito aplaudidos pelos teocratas cristãos americanos, são em tudo semelhantes aos seus «inimigos» islâmicos que querem igualmente impor uma sociedade governada por doutrinas religiosas. Também eles deploram a laicidade, que culpam por todos os males do mundo, e insistem que o único governo «bom» é aquele que reconhece na letra da lei a soberania da impossibilidade lógica Deus. Gingrich é a versão cristã dos islamistas, isto é, um nacionalista cristão, uma espécie infelizmente cada vez mais abundante no panorama político ocidental, que combina o nacionalismo exacerbado com o fundamentalismo cristão.

No seu livro «Winning the Future», uma elegia ao capitalismo sem regras, ao imperialismo americano e à teocracia cristã, Gingrich enuncia as cinco maiores ameaças à nação americana, das quais se destacam o terrorismo islâmico e os efeitos devastadores de banir a religião (cristã, claro) da vida pública.

No seu sílabo dos erros da cena política americana destaco dois pontos:

  • Como a esquerda está completamente errada em insistir que devemos confiar na ONU e no Tribunal Internacional como substitutos ao poder americano;
  • Como não há ataque à cultura americana mais mortal e historicamente desonesto que a guerra incessante da esquerda contra Deus na vida pública americana.

Aliena vitia in oculis habemus, a tergo nostra sunt (literalmente «Não vê a trave que tem no olho e vê um argueiro no do vizinho»; «Não há cego que se veja, nem torto que se reconheça»)

8 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Liturgia confundida com vírus


A Symantec, mais concretamente o seu programa Norton Antivirus, criou uma santa confusão nas hostes da Igreja Anglicana e perturbou consideravelmente durante umas semanas a qualidade dos sermões debitados nas igrejas inglesas.

Os utilizadores do Visual Liturgy, mais de 4 500 vigários que o utilizam na preparação dos seus sermões e de material a distribuir aos paroquianos, viram-se privados dessa ferramenta indispensável ao ofício caso fossem simultaneamente utilizadores do Norton.

De facto, a definição de vírus da Symantec de 8 Julho identificava o ficheiro vlutils.dll integrante do programa como sendo o SniperSpy e instruía os seus utilizadores a apagar o ficheiro. Ora este dll é essencial para o programa correr, de forma que a Church House Publishing, que distribui o programa, teve um mês muito atarefado:

«Cerca de 4 500 igrejas com aproximadamente meio milhão de fiéis foram muito afectadas por isto» disse David Green, da CHP. «Normalmente não é fácil irritar um membro do clero, mas tivemos muitos ao telefone».

8 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Momento Zen da Segunda-feira

O bem-aventurado João César das Neves (JCN) ensandeceu de vez. A piedade e o temor a Deus toldam-lhe o entendimento e o proselitismo afunda-o no pântano da difusão da fé.

Jesus Cristo está para JCN como Hitler para os nazis. Qualquer dislate é a verdade e a mais ignara das frases um pensamento profundo. Jesus Cristo (JC), segundo JCN tem dois propósitos – fazer santos e salvar os pecadores, em cujo número se inclui.

Com a autoridade de quem pertence à seita, considera santos Madre Teresa, cuja história de vida é reescrita de acordo com os interesses da ICAR, e João Paulo II, para quem não há lixívia que baste para limpar as nódoas do pontificado.

Segundo JCN, a ICAR «tem poucos santos e muitos pecadores», um truísmo banal que numerosas vítimas testemunharam na fogueira, nas masmorras e torturas que a ICAR promoveu para maior glória de Deus e deleite dos seus padres.

JCN, sem indicar o número de inscrição na Ordem nem a faculdade que frequentou, diz que JC é advogado junto do Pai. Sendo incerto o progenitor e duvidosa a formação, não admira que a única comarca onde possa exercer seja o Paraíso.

JCN confessa a desfaçatez e maldade da sua Igreja. Diz que «o que Cristo trouxe foi o inconcebível: o acesso à vida dos ladrões e assassinos, desde que O amem [sic]. Isto só Deus pode fazer».

Por outras palavras, o Paraíso é para os pulhas, desde que amem JC. Um ateu não diria melhor.

8 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Amor cristão: homofobia

A vacuidade da pretensão cristã de que a sua religião é baseada no «amor» ao próximo e na tolerância para com os seus semelhantes atinge o seu zénite em tudo o que diz respeito à sexualidade alheia, nomeadamente à homossexualidade, que os cristãos fundamentalistas se acham no direito de determinar. Dois exemplos recentes ilustram bem a intolerância e ódio cristãos a todos os que não se sujeitam às aberrações da sua religião.

Fundamentalistas cristãos tentam boicotar a Gay Parade em Belfast

Há já 14 anos que a comunidade gay irlandesa realiza a sua parada anual em Belfast, sem quaisquer problemas ou violência. Isto é, até este ano, em que cristãos locais tentaram impedir a sua realização sob o pretexto que o evento ofendia as suas sensibilidades religiosas:

«Nós achamos a parada moralmente ofensiva. Como cristãos evangélicos acreditamos no que a Bíblia diz no que respeita à sodomia – que é um pecado»

Na realidade, diria que os ditos cristãos estão irritados porque as sondagens indicam que a homofobia cristã está a desaparecer da Irlanda do Norte, cujos habitantes se manifestam tolerantes em relação às opções sexuais alheias. E assim resolveram tentar boicotar a parada com as habituais provocações.

Assim, os devotos cristãos fizeram questão de comparecer à parada e demonstrar a sua rejeição do pecado alheio virando as costas ao desfile. Na igualmente já habitual cristianovitimização queixam-se agora que foram «insultados» pelos manifestantes, que, imagine-se, lhes chamaram «intolerantes» e «fundamentalistas religiosos assassinos». Os fundamentalistas cristãos já prometeram repetir as provocações para o ano na esperança de as reacções a essa provocação lhes forneçam pretextos para ulular contra a parada.

Neo-nazis e fundamentalistas cristãos semeiam o terror em Riga

Uma multidão homofóbica constituida por neo nazis, fundamentalistas cristãos e ultra nacionalistas, semeou o terror num encontro Gay em Riga, Letónia, realizado no Reval Hotel Latvia depois de os tribunais letões terem mantido a decisão da câmara de Riga em proibir a realização da Parada Gay marcada para esse dia.

Foi necessário à direcção do hotel recorrer a guardas armados privados para garantir não só a integridade do mesmo como a segurança dos participantes depois de a polícia local se ter demonstrado incapaz para deter a violenta e bem organizada multidão que cercou o hotel.