Loading

Mês: Agosto 2006

13 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

O atentado falhado de Londres

Nova York, Bali, Madrid e Bombaim são os exemplos mais sangrentos e mediáticos do terrorismo global que afecta o sossego e o juízo dos cidadãos habituados à democracia e ao respeito pelos direitos humanos.

Os dementes, cegos pelo ódio e pela fé, quiseram uma vez mais montar um espectáculo cruel com milhares de mortos, certos da retaliação exercida sob o espectro do medo e da incerteza, numa espiral de violência e terror.

Falharam graças à ajuda de quem, sendo irmão na fé, não os acompanhou na demência assassina e na ferocidade mística que os mullahs exaltados pregam nas mesquitas.

O catolicismo expia as cruzadas, a inquisição e a contra-reforma, para seu opróbrio, mas moderou-o laicidade que lhe foi imposta e a secularização.

Detrás de cada credo está a tradição que a uns beneficia e a quase todos lesa. A religião é um assunto particular que não pode ser imposto à força nem servir de pretexto para as guerras que dilaceram o mundo e comprometem o progresso.

O atentado de Londres, a ter êxito, beneficiaria os fanáticos dos dois lados da barricada. O fracasso foi um revés para os trogloditas islâmicos e um balão de oxigénio para Bush e Blair, dois líderes que fazem questão de explicitar as suas convicções religiosas e já mostraram a leviandade de que são capazes.

Desta vez, os deuses contrariaram a vontade de Deus e pouparam à divina crueldade o holocausto de inocentes. Felizmente.

13 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Heresia ao longo da História

A Igreja Católica que hoje conhecemos surgiu pela mão de Constantino numa tentativa de unir pela religião um Império Romano em decadência. Em que todos os créus, pela autoridade divina do braço religioso do Império, a Igreja de Roma, seriam compelidos a lutar pelo Império e espalhar a fé.

Era necessária uma religião suficientemente forte para se impor aos povos dominados por Roma; para consolidar na crendice indissociável dos povos da época o poder conquistado pela força. Uma religião autoritária, rígida, inflexível, estabelecida mediante poderes, leis e morais terrenas. Assim começou o Catolicismo: um expediente político para tornar a Religião Imperial Católica Apostólica Romana a Toda Poderosa, nominalmente predicando o perdão mas de facto imposta e sustentada pela força da espada.

Constantino precisava criar a religião adequada aos seus propósitos hegemónicos e o catolicismo existente no início do século IV não tinha a autoridade suficiente para tal. Era necessário acabar com as grandes controvérsias doutrinais da igreja e estabelecer claramente não só a autoridade em questões de fé de Roma como um conjunto de dogmas em torno do qual se desenvolvesse a teologia necessária a Constantino para cumprir as suas ambições hegemónicas. Assim, Constantino convoca o concílio de Niceia (hoje Iznik, na Anatólia, Turquia), em 325.

O concílio de Arles, em 314, já tinha condenado uma «heresia» desastrosa para a Igreja, a dos Donatistas, que ameaçava alastrar perigosamente e «contaminar» a fé. Os «hereges» Donatos (dois bispos com o mesmo nome: Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia; e Donato, o Grande, bispo de Cartago) ensinavam que a Igreja deveria compor-se só de justos, reconhecidos pela sua vida pia e frugal; no momento em que fossem tolerados pecadores no seu seio deixaria de ser a Igreja de Cristo. Pior, diziam que o baptismo administrado por um sacerdote em estado de pecado, é inválido e que um bispo, se com um pecado manchando a respectiva alma, não pode crismar nem ordenar sacerdotes. Esta «heresia», somada à heresia máxima da pregada separação entre Igreja e Estado, era uma ameaça para a ambiciosa, pecadora e faustosa hierarquia cristã de forma que a sua supressão marcou o mote para os restantes concílios, a maioria deles destinados a erradicar pensamentos perigosos para a Igreja, pensamentos identificados como «hereges».

Assim, os pontos a ser discutidos no sínodo de Niceia foram:

  • A questão Ariana,
  • A celebração da Páscoa
  • O cisma de Milécio
  • O baptismo de heréticos
  • O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio.

O primeiro ponto era igualmente o mais importante a ser clarificado. De facto, a controvérsia que urgia ser esclarecida tinha a ver com algo que incomodava a cristandade: era o seu mito divino e se sim como conciliar a divindade do Cristo com o dogma de fé num único Deus?

Especialmente porque Ário defendia que o mítico fundador da seita, Jesus, é apenas uma «criatura do Pai», não sendo, portanto, nem eterno nem divino. Insistindo em dizer que «houve um tempo em que o Filho não existia». O arianismo, a que aderiram muitos ilustres prelados, entre eles o bispo Eusébio de Cesareia, conhecido escritor da Igreja, ameaçava atingir proporções inadmissíveis, tão mais inadmissíveis porque sem a natureza divina do Cristo o cristianismo não era mais do que uma divisão do judaísmo.

Aliás, o anti-judaísmo, ou o anti-semitismo cristão, firmou-se com a tomada do controle do Império Romano, sendo o concílio de Niceia um marco neste sentido. Os posteriores Concílios da Igreja manteriam esta linha. O concílio seguinte, o de Antioquia (341) proibiu aos Cristãos a celebração da Páscoa com os Judeus. O estabelecimento da Páscoa foi o 2º ponto decidido em Niceia, em que foi acordado que a Páscoa se celebraria sempre no primeiro domingo a seguir ao 14º dia da primeira lua da Primavera, o 14º Nisan, e não no 14º Nisan, como os judeus e algumas igrejas cristãs o faziam.

O concílio de Niceia ilustra ainda o que acontece quando os teólogos tentam racionalizar o rídiculo. Assim como ilustra algo indissociável da teologia, uma crescente complexidade linguistica que pretende consolidar a autoridade e o poder da Igreja baralhando os mais incautos com uma linguagem hermética e assim pomposamente disfarçar a vacuidade das pretensões em que assenta a religião.

Mais concretamente, foi necessário recorrer a obscura e rebuscada linguagem para estabelecer a divindade de Jesus, conseguida através do recurso à pagã Trindade, ou deus(a) triuno. Faltava resolver como exprimir simultaneamente a unidade e distinção dentro da Trindade, o que foi feito através de uma manipulação judiciosa dos termos ousia (essência) e hypostasis (pessoa). Assim, a Trindade corresponderia a uma única ousia mas as distinções entre Pai, Filho e Espírito Santo eram estabelecidas por três hypostasis. Não era (nem é) claro como estes termos se aplicam na cristologia. Isto é, não só o Cristo para além da baralhação triuna tinha duas essências como falar na ousia divina unida com a ousia humana do mítico Cristo implica que toda a trindade encarnou…

Antes do concílio de Niceia physis e hypostasis eram habitualmente utilizadas para realidades concretas enquanto ousia detinha um significado mais geral e abstracto, sendo as três palavras usadas como sinónimos em muitos casos.

(continua)
12 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Heresia e totalitarismo

Heresia: do grego hairesis significa escolha, preferência, gosto particular, escolha filosófica, inclinação ou preferência filosófica ou por uma escola de pensamento.

O aggiornamento que o Concílio Vaticano II se propunha a fazer pretendia não integrar a Igreja no projecto civilizacional moderno, contra o qual esta tinha lutado de unhas e dentes, mas sim «lavar» a imagem de uma Igreja totalitária demasiado comprometida com a II (e I) Guerra Mundial, com a Inquisição, etc.. Para sobreviver a Igreja necessitava parecer reconciliar-se com o mundo moderno, com os seus valores – tais como os direitos do homem, a igualdade, a liberdade, a fraternidade e a democracia – contra os quais tanto combateu, recorrendo a meios que o homem pós II Guerra Mundial reconhecia como abominações morais e éticas.

E posteriormente apropriar-se destes valores como se fossem seus, fazendo passar a mensagem de que, nas palavras, por exemplo, do «modernista» cardeal Kasper, «a modernidade foi construída fora da Igreja, em grande medida contra a Igreja, mas fundada em valores evangélicos».

Assim, a inquisição, os anátemas e a apologética do século XIX eram estigmas de uma postura que precisava ser superada, e foi desenvolvida uma teologia dos «sinais dos tempos», na qual se inclui a teologia da libertação, que substituiu a teologia apologética que pareceu durante o final do século XIX e início do século XX a única racionalidade teológica possível para fazer frente ao modernismo anatematizado e demonizado por Pio X.

Esta teologia nunca foi aceite de facto pela Igreja, não apenas pelas facções mais conservadoras que a consideram abertamente uma «heresia» modernista, devidamente condenada por Pio X no Decreto Lamentabili Sane e na encíclica Pascendi Dominici Gregis. Heresia modernista que Bento XVI, um seguidor confesso da patrística, se devotou erradicar, chamando-lhe relativismo, agora que o objectivo do Concílio foi atingido, isto é, a imagem da Igreja foi convenientemente lavada.

Torna-se assim interessante analisar as evoluções heréticas ao longo da história do cristianismo, recordando que um elemento fundamental na acusação de «heresia» é o «pecado» do orgulho. Orgulho que consiste em não aceitar os ditames da «autoridade» com base em lucubrações próprias.

De facto, as religiões organizadas não são mais que formas de controle social disfarçadas de religião e/ou ética. E para manter o controle é necessário arranjar um rótulo que identifique quem não aceita a autoridade da Igreja como pertencente aos «maus», aos «outros». Vemos essa necessidade em qualquer sistema totalitário, seja ele político, religioso ou uma amálgama de ambos.

Assim, as religiões procuram explicar os comportamentos humanos com mitos destinados a manipular e controlar, simultaneamente impedindo alterações do status quo. Estas explicações simples, maniqueístas, destinadas a gente simples – que precisa de alguém para odiar e desprezar, alguém sobre o qual sente uma «legítima» superioridade «moral» e contra o qual tudo é justificado – dividem o mundo em «bons» e «maus», «nós» e os «outros», eleitos e excluídos, consoante a sua obediência ou não à autoridade.

É necessário inventar palavras anatematizantes que descrevam inequivocamente os adversários, recorrendo aos mitos que forem necessários para desacreditar e demonizar o «inimigo», simplesmente aquele que não aceita a autoridade. Assim surgiram palavras como epicurista, donatista, arianista, maquiavélico, relativista, etc.. que em conjunto identificam o «herege», aquele que se atreve a pensar pela sua cabeça, o homem livre, o grande inimigo de qualquer forma de autoritarismo.

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Deus é o meu arquitecto

O pastor Jeff Carroll da Cedar Grove Methodist Church, no Alabama, parece pensar que o governo não deveria ter direito de se imiscuir em assuntos da Igreja (embora o contrário não seja verdade) mesmo em «pequenos» detalhes como licenças de construção. Por isso, não se deu ao trabalho de obter uma quando «ajudou» a sua congregação a construir a sua nova igreja. Para que é necessária a permissão de um qualquer inspector quando à partida se tem a permissão mais «sagrada» que existe?

Mas aparentemente o divino arquitecto tem um sentido de humor algo bizarro e resolveu destruir todo o trabalho da congregação no momento em que este foi completado: o telhado da novissima igreja ruiu numa quinta-feira à noite. Claro que o pastor se apressou a agradecer ao «divino» brincalhão ter resolvido fazê-lo quando ninguém se encontrava lá dentro:

«Graças a Deus ninguém ficou ferido. Ele escolheu deixar o telhado cair numa quinta-feira à noite quando ninguém estava lá».

Na atribuição das culpas do sucedido Carrol, claro, procura causas mais mundanas. Que segundo ele nada teriam a ver com o facto de que «as plantas para a igreja foram feitos por um dos membros da Igreja e pela sua filha depois de olharem para figuras na internet» mas com traves «defeituosas».

Carroll, ele próprio um construtor civil e que acha ser a ignorância uma desculpa para pôr em risco a vida de 500 pessoas, afirmou não saber serem necessários quaisquer requisitos legais para a dita construção e diz que permanece céptico sobre a legitimidade de um orgão governamental ter algo a dizer acerca de como uma igreja deve ser construída:

«Se a Igreja e o estado estão separados não percebo porque eles pensam que têm jurisdição».

Carroll esperava que o seguro da nova igreja cobrisse o colapso do telhado mas a companhia de seguros em questão não aceitou o pedido de indemnização.

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Pedofilia e assassínio

Em Fevereiro último, referi dois casos de assassinato por um padre católico, Ryan Erickson, que assassinou Daniel O’Connell e James Ellison.

Erickson, um padre ultra conservador, que se seguia por canônes pré-Vaticano II, um moralista que estava encarregue da educação sexual dos jovens da St. Patrick’s School, estava particularmente interessado em suprimir comportamentos sexuais «pecaminosos», especialmente a masturbação.

A obsessão de Erickson pela masturbação, o pecado máximo, pode ser apreciada neste «pensamento do dia» enviado por e-mail aos seus seguidores: «Nem a missa de domingo está a salvo dos trajes imodestos de alguns demónios. Elas aparecem para ler, distribuir a santa comunhão,etc…. parecendo um anúncio. Os seus trajes imodestos dizem a todos os presentes: Eu sou fácil! Vão para casa e masturbem-se pensando no meu corpo fantástico. O que é triste é que alguns fazem-no».

O misógino padre assassinou O’Connel em Fevereiro de 2002 quando este o confrontou com acusações de pedofilia. Ellison era apenas uma testemunha incómoda que foi por isso eliminado.

Ninguém o ligou aos assassinatos, excepto o padre que o perdoou pelo seu «pecado», até meados de 2004. Em Dezembro de 2004, o padre Erickson suicidou-se na igreja para onde fora transferido, St. Mary’s of the Seven Dolors, em Hurley, Wisconsin. Um dia depois de os polícias que investigavam o caso terem revistado a sua casa em busca de evidências que o ligassem aos assassinatos. Descobriram pornografia infantil no seu computador…

Erickson coleccionava armas e pornografia, consumia regularmente bebidas alcoólicas com os adolescentes a seu cargo e fora confrontado com acusações de abuso sexual anteriormente. E a hierarquia católica … recomendou aconselhamento psicológico como resposta! Três vezes! E transferiu-o do local do crime para bem longe…

Agora a família de um dos homens mortos, Daniel O’Connell, fartos do que consideram conivência da Igreja católica com os seus padres pedófilos interpuseram uma acção contra a conferência episcopal americana, em que nomeiam 200 bispos, na qual pedem os nomes e localização dos 5 000 padres acusados de abusar sexualmente de crianças, apenas nos Estados Unidos, claro.

Considerando que há menos de 30 000 padres em exercício nos Estados Unidos, este número dá uma ideia da dimensão do escândalo de pedofilia que tem abalado a ICAR americana. Mais de 17% dos padres acusados de pedofilia, um número significativamente superior aos 4% indicados como minorante do valor real no relatório de 2002. Claro que este relatório cobria um período de 52 anos, ou seja, os valores elevados dos últimos anos eram diluídos por décadas sem qualquer queixa…

11 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Os sinos da minha aldeia

Na aldeia o sino da torre ainda insiste nas meias horas e, com intervalo curto, na repetição das horas diurnas. Calam-no, de noite, para não perturbar o sono de citadinos em férias. O relógio comunitário ignora os seus homólogos, no pulso dos cidadãos, a sua fiabilidade e a facilidade da consulta.

À força de se repetir vão-se as pessoas esquecendo de escutá-lo e de lhe prestar atenção. Se acaso parar poucos darão pela falta e o abandono será o destino fatal que já o condena. Viverá enquanto não se partir a corda e o maquinismo não encravar.

Mingua nas presas a água que regava os campos à claridade da aurora. Secaram as fontes que alimentavam regatos, mantinham viçosos os prados e os defendiam da canícula.

Falta a água, seca a erva, ficam maninhos os campos. Os velhos vão mirrando enquanto os novos se fizeram à vida e abandonaram as terras e os pais.

Também na igreja o sino chama os paroquianos para os actos litúrgicos com o som triste de quem envelheceu com as pessoas e trina por hábito, sem convicção nem entusiasmo dos que ainda o escutam.

Só os emigrantes iludem, neste mês de Agosto, a solidão e abandono a que o interior de Portugal está votado. Foi longo o processo, mas eficaz, penoso e irreversível.

Deus emigrou há muito e nem as férias o convencem a regressar.

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Turquia e Estados Unidos iguais em fundamentalismo

Clique na imagem para aumentar

A revista Science (hiperligação para o material suplementar do artigo) publicou hoje os resultados da análise de sondagens internacionais conduzidas entre 1985 e 2005 que pode explicar porque aberrações como as descritas no post anterior acontecem nos Estados Unidos. De facto, dos países constantes, 32 países europeus, os Estados Unidos e o Japão, apenas na Turquia a percentagem de pessoas que não acreditam na evolução é superior à encontrada nos Estados Unidos.

Como um dos autores do artigo, Jon Miller da Michigan State University, indica «O protestantismo americano é mais fundamentalista que todos excepto talvez o fundamentalismo islâmico, e por isso nós estamos tão próximos da Turquia».

Recomendo as análises do artigo no Pharyngula e no Panda’s Thumb.

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Criacionistas vs Universidade da Califórnia

Há um ano escrevi sobre uma acção interposta contra a Universidade da Califórnia, UC, uma rede pública compreendida por 10 universidades que incluem a Universidade pública mais bem classificada no ranking das Universidades americanas, UCBerkeley, a UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) e a UCSD (Universidade da Califórnia, San Diego) por uma uma associação de escolas secundárias cristãs e a Escola Cristã do Calvário que acusaram a Universidade da Califórnia de discriminação contra as escolas que ensinam criacionismo, que consideram integrante da liberdade de expressão e religião.

A acção, interposta pela Association of Christian Schools International, (uma organização que à data integrava 800 escolas cristãs e hoje mais de 4000) e a Escola Cristã do Calvário em Murrieta, é defendida por Robert H. Tyler, pertencente a uma organização anti-ACLU, o oxímero Advogados para a Fé e Liberdade, e Wendell R. Bird, um ex-membro de outro oxímero, o Institute for Creation Research.

Os queixosos pretendem acabar com os ateus critérios de admissão da UC, isto é, com a política «ateísta» da Universidade em rejeitar disciplinas de biologia que sejam «inconsistentes com o conhecimento aceite universalmente na comunidade científica». Nomeadamente disciplinas que assentem nos livros de (pseudo)biologia publicados pela Bob Jones University Press e A Beka Books. Segundo a acção, esta política viola os direitos dos queixosos de «liberdade de expressão, liberdade de discriminação com base em opiniões, liberdade de religião e associação, liberdade de discriminação arbitrária, igual protecção das leis e liberdade de hostilidade contra a religião».

Nunca pensei que o caso tivesse pernas para andar mas aparentemente essa não foi a opinião do juíz S. James Otero, que embora descartando parte das alegações permitiu, numa decisão provisória, que a acção prosseguisse com base na liberdade de expressão, associação e religião. De facto, o juíz demonstrou preocupação por apenas uma escola evangélica integrar o processo, enquanto escolas católicas, judaicas e islâmicas não têm problemas com os critérios de admissão da UC.

Esperemos que antes da decisão definitiva o juíz possa apreciar que a razão do que considerou discriminação contra os evangélicos não tem nada a ver com religião mas sim com os curricula anti-científicos das escolas evangélicas. Se não vejamos alguns exemplos:

Logo na introdução de um dos livros em questão os autores avisam que:

«As pessoas que prepararam este livro tentaram consistentemente pôr em primeiro lugar a palavra de Deus e a ciência em segundo»

Continuando desancando os ateus cientistas que ignoram a palavra de deus e se arrogam a

«afirmar que o gafanhoto evoluiu há 300 milhões de anos. E pode-se encontrar a descrição de um qualquer insecto a partir do qual supostamente o gafanhoto evoluiu e uma descrição dos insectos que os cientistas dizem ter evoluído do gafanhoto. Pode mesmo encontrar-se uma explicação ‘científica’ da praga bíblica de gafanhotos no Egipto. Estas afirmações são conclusões baseadas em ‘ciência suposta’. Se as conclusões vão contra a palavra de Deus, então as conclusões estão erradas, não importa quantos factos científicos parecem suportá-las».

A minha favorita continua a ser a definição de falácia encontrada no livro:

«Falácia: tudo o que contradiz a verdade revelada de Deus, não importa quão científico, quão estabelecido ou quão aparentemente consistente e lógico pareça».