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Mês: Agosto 2006

18 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Crime de honra

Em Itália, um piedoso paquistanês, Muhammad Saleem, de 55 anos, foi preso por matar uma filha. A jovem Hina Saleem, de 20 anos, perfeitamente integrada, a trabalhar numa pizzaria, acalentava o sonho de fazer carreira no cinema.

O italiano com quem a jovem vivia, há cinco meses, comunicou o desaparecimento que conduziu ao pai. Um tio e um cunhado estão provavelmente implicados neste nefando «crime de honra».

A família não suportava a união com um homem divorciado e casado segunda vez. Ao ser preso o pai exclamou: «eu não queria que se tornasse uma puta como tantas outras raparigas».

A influência religiosa e os preconceitos sociais da comunidade não hesitam perante o crime, desprezando as leis do País de acolhimento. Cometem-se na Europa imensas transgressões em nome da tradição e à sombra da condescendência com a barbárie.

O pai já tinha prometido a rapariga a um primo, no Paquistão, e a sua desobediência só podia, nos costumes tribais da família, ser punida com a morte, friamente premeditada.

Tenho a convicção de que não há guerra de civilizações, há uma luta entre a civilização e a barbárie, a democracia e a teocracia, a liberdade e a tradição. Há um longo caminho a percorrer para impor o respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos».

Fonte: LE MONDE 18.08.06

18 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Os novos planetas do Sistema Solar

A inclusão de novos planetas no nosso Sistema Solar, eventualmente oficializada na próxima semana, quando terminar a 26ª Assembleia Geral da International Astronomical Union, pode vir a ter consequências inesperadas.

Via o blog de ciência Pharyngula, descobri uma caricatura fabulosa dos criacionistas americanos, mas que pode reproduzir fielmente o que se passa na cabeça de alguns alucinados cristãos. No post em questão, uma imitação tão fabulosa dos argumentos IDiotas que enganou a maioria dos leitores, o escriba, um biólogo, recuperou a argumentação IDiota em relação à evolução agora para discutir geocentrismo versus heliocentrismo. Assim, tal como os IDiotas, pretende não perceber que o que está em causa no aumento da única população celestial reconhecida pela comunidade científica é simplesmente a definição de planeta, ou seja, como já referi, discute-se semântica e não ciência.

Mais, assume que a controvérsia em relação à definição de algo tão «fundamental» como planeta, significa que toda a física, nomeadamente a astrofísica está em dúvida e que o geocentrismo bíblico – aliás como toda a colecção de dislates do «livro», mitos da criação inclusive – vai em breve ser reconhecido como a «verdade absoluta» sobre o tema.

Ou seja, na mesma linha do que se passa na evolução, transforma, na boa maneira fundamentalista, uma questão de clarificação de uma definição na admissão por parte da comunidade científica de que as suas teorias, nomeadamente o heliocentrismo, são um nonsense contraditório.

Os criacionistas queixam-se amargamente que as teorias científicas estão em constante mutação (algo que por uma razão que nunca percebi irrita profundamente todos os fundamentalistas) e que os cientistas debatem infindavelmente entre si a interpretação dos factos, sendo as teorias aceites por consenso e não assentam, como deveriam, numa verdade absoluta «externa»!

O autor do post, recorrendo à verdade absoluta externa, a Bíblia, constante e imutável (reflectindo o pensamento neolítico dos alucinados que a debitaram ) que indica claramente que a Terra foi criada no 1º dia e o Sol apenas no 3º, deixa alguns conselhos para os cientistas: que expliquem em torno de quê a Terra orbitou nos três primeiros dias da Criação e que … larguem os telescópios e olhem para o céu, para confirmarem que é o Sol que orbita a Terra e que o heliocentrismo está errado!

E, que dada a controvérsia em torno de definições, que indica existirem dúvidas legítimas sobre o heliocentrismo, sugere que, tal como em relação à evolução, os livros de texto americanos passem a indicar no futuro que o heliocentrismo é uma teoria, não um facto.

Simplesmente brilhante!

18 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Todo o bem vem de Deus

Viajar pela história das religiões não é apenas entrar no pântano da mentira e da intriga, é percorrer um mundo de horrores, descer às alfurjas da sordidez, penetrar num passado de crimes de que a civilização actual se procura libertar.

Julgamos epifenómenos as Cruzadas, a evangelização, a Reforma, a Contra-Reforma, a Noite de S. Bartolomeu e a própria Inquisição. Vemos o calvinismo como patologia benigna e o protestantismo evangélico uma demência sazonal com acessos esporádicos.

Temos a tendência de esquecer o oceano de sangue que liga os primórdios das religiões abraâmicas aos nossos dias e recordar as doces falsificações de paz e amor que o clero forjou laboriosamente ao longo dos séculos.

Nunca a liberdade teve o contributo empenhado de qualquer religião e quase sempre se conquistou na luta contra o poder do clero e a violência do dogma.

Do Islão e da sua patologia vemos o hábito das decapitações, a euforia com que serram vivos os inimigos da fé, a excitação das lapidações e o zelo com que fazem amputações.
Veneram Deus e Maomé, o primeiro a merecer manicómio e o último internamento num reformatório, se acaso o primeiro existisse e fosse vivo o segundo.

O Vaticano, um bairro de 44 hectares mal frequentado e pior governado, é a cabeça de um imenso e antigo tumor que espalha pus pela humanidade. A Santa Aliança, serviço de espionagem da Santa Sé, desde 1566, é uma associação de malfeitores para uso do vigário de Cristo e apoio aos ditadores que lhe são afectos.

Basta recuarmos ao segundo quartel do século passado e vermos Pio XI, após o pacto de Latrão, a entusiasmar os padres de toda a Itália a apoiarem os fascistas, considerando Benito Mussolini como «enviado pela Providência» o que, a ser verdade, colocaria pior o Deus do que o próprio Papa.

O apoio explícito de Pio XII a Hitler e ao nazismo foi ratificado quando o Papa ordenou ao arcebispo Orsenigo, núncio em Berlim, que organizasse uma grande recepção para celebrar os cinquenta anos do Führer. Desde aí, e durante toda a guerra, Hitler recebeu em Berlim felicitações por parte do cardeal Bertram.

Ante Pavelic desejou criar uma Croácia católica pura através de conversões forçadas, deportações ou extermínios. De 1941 a 1945 os ustachis levaram a cabo o assassínio sistemático de sérvios ortodoxos, ciganos, judeus e comunistas. Pavelic teve, desde o princípio do seu governo, o apoio público de Pio XII ao nacionalismo católico croata.

Durante uma peregrinação a Roma, em Novembro de 1939, Pio XII, não poupou nos encómios aos ustachis, encabeçados pelo tenebroso arcebispo Stepinac. Pio XII via no extermínio e nas deportações dos sérvios a oportunidade de proselitismo e o avanço do catolicismo para leste.

Pio XII manteve-se silencioso quando um agente dos serviços secretos papais informou que as vítimas eram obrigadas a abrir uma cova, antes de serem atadas com arames e enterradas vivas». Outro agente, da contra-espionagem papal, enviou um relatório datado de 11 de Maio de 1941 em que dizia: «Os ustachis prenderam 331 sérvios, entre os quais estavam um padre sérvio ortodoxo e o seu filho de nove anos. As vítimas foram esquartejadas com machados. O padre foi obrigado a rezar enquanto lhe matavam o filho. A seguir torturaram-no, arrancaram-lhe a barba, furaram-lhe os olhos e esquartejaram-no vivo».

Pio XII manteve silêncio, talvez para rezar em sossego.

Fonte: A Santa Aliança – Eric Frattini – Ed. Campo das Letras

18 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Mais planetas no Sistema Solar

Bem-vindos ao novo Sistema Solar

Durante décadas, não obstante a acesa controvérsia em relação a Plutão, o Sistema Solar tem sido considerado como constituido por nove planetas. A discussão sobre se Plutão é ou não um planeta é na realidade uma questão de semântica, isto é, depende da definição de planeta. A definição original de planeta foi devida aos filósofos gregos que chamaram «viajantes» a estes objectos que pareciam passear pelo firmamento.

Numa tentativa de resolver de vez a controvérsia, a International Astronomical Union, isto é, os mais de 2500 astrónomos reunidos em Praga na sua 26ª Assembleia Geral, vai votar a proposta elaborada pelo seu comité executivo que compreende, entre outras, uma nova definição de planetas e introduz oficialmente o termo plutonito para designar os planetas que orbitam o Sol para lá de Neptuno.

A proposta vai certamente ser aprovada, podem seguir o debate neste blog da conferência, pelo que a partir da semana que vem o Sistema Solar vai ser oficialmente constituido por 12 planetas, que para além dos 8 planetas «tradicionais», incluem os 3 plutonitos, Plutão, Caronte e o 2003 UB313 , para além do até agora asteróide Ceres.


Plutão faz parte da cintura de Kuiper, uma zona em forma de disco para lá de Neptuno, que contém milhares de cometas e outros objectos planetários. Desde a sua descoberta em 1930, a inclusão de Plutão como planeta no Sistema Solar permaneceu controversa já que, inicialmente considerado do tamanho da Terra, se descobriu posteriormente ser menor que a Lua. Por outro lado, para além de nos últimos anos se terem descoberto mais objectos nesta zona do espaço de dimensões próximas às de Plutão e de forma igualmente arredondada, Plutão apresenta uma série de características únicas: com a sua órbita muito eliptíca e um plano orbital peculiar comporta-se mais como os outros objectos da cintura de Kuiper que um planeta tradicional; a sua lua, Caronte, descoberta em 1978 por James Christy, tem apenas cerca de metade das dimensões de Plutão pelo que muitos astrónomos consideravam ser Caronte e Plutão um planeta duplo e não um planeta e a sua lua.

A recente descoberta do 2003 UB313 catapultou a já acesa controvérsia, já que o objecto descoberto por Michael Brown, do Caltech, é maior – e mais distante do Sol – que Plutão. De facto, o Hubble mediu o objecto brilhante a 14 mil milhões de quilómetros do Sol, oficialmente denominado 2003 UB313, e chegou a um diâmetro de 2 384 km, cerca de 112 km mais que Plutão. Brown chamou Xena à sua descoberta mas não é de esperar que a alcunha pegue.

Veremos como esta decisão da International Astronomical Union vai ser recebida por charlatães sortidos, astrólogos e afins, e se estes, como a charlatã astróloga russa Marina Bai o fez à NASA, vão intentar processar a IAU por… «danos espirituais»!

17 de Agosto, 2006 Ricardo Alves

«O Crime do Padre Amaro», agora sem anticlericalismo

Num dos meus primeiros dias de férias, vi «O Crime do Padre Amaro» em filme, não na versão mexicana de 2002 mas sim na produção portuguesa com Soraia Chaves, Jorge Corrula e Nicolau Breyner. Embora as expectativas não fossem elevadas, não esperava que o filme traísse tão profundamente o original.

«O Crime do Padre Amaro» é um dos grandes clássicos do anticlericalismo português, a par de outras obras de Eça de Queiroz como «A Relíquia», do «Causas da decadência dos povos peninsulares» de Antero de Quental, de «A velhice do Padre Eterno» de Guerra Junqueiro, e de volumes de Tomás da Fonseca como «Sermões da Montanha» e «Na Cova dos Leões» (estes últimos, infelizmente, são difíceis de encontrar, mesmo em alfarrabistas). A sátira religiosa tem uma grande tradição em Portugal, com expressão popular em canções, quadras e anedotas. No cinema, tirando alguns momentos da obra de João César Monteiro, o anticlericalismo português tem poucos momentos de nota. A recente versão de «O Crime do Padre Amaro» consegue o milagre de retirar o anticlericalismo do romance de Eça de Queiroz.

Na obra original, a contradição entre as obrigações morais e «espirituais» dos homens do clero e as suas necessidades carnais são o fio condutor da narrativa. Na adaptação cinematográfica, as segundas são focadas, mas com a preocupação de não questionar as primeiras. Por exemplo: na cena do filme em que dois homens discutem a possibilidade de um deles vir a ser responsável por um aborto, nenhum deles está vestido como um padre, embora ambos o sejam, e o enquadramento esconde que a conversa tem lugar dentro de uma igreja. Eça de Queiroz exploraria a ironia da situação, em lugar de a temer.

Nota-se, em todo o filme, o cuidado de não ofender a igreja católica, e a atenção de até criar uma «estória paralela» que não existia no original e que evidencia a «acção social» do clero católico. Mais ainda, no final do filme o padre Amaro é vítima de uma tentativa de assassinato, enquanto no final do livro o padre Amaro é responsável por um infanticídio. A distância é a que vai da ousadia de Eça de Queiroz ao «religiosamente correcto» dos autores do filme. É pena, porque a combinação de nudez e anticlericalismo daria um filme inesquecível.

17 de Agosto, 2006 Ricardo Alves

«Laicidade e igualdade, alavancas da emancipação»

Henri Peña-Ruiz é um filósofo francês para o qual já chamei a atenção algumas vezes aqui no Diário Ateísta. Na minha opinião, é quem melhor expõe o sentido contemporâneo da laicidade e do combate laicista. O artigo «Laicidade e igualdade, alavancas da emancipação» ficou recentemente disponível, traduzido para português, no site da Associação República e Laicidade. Nele, Peña-Ruiz discute as razões que fundamentaram a sua posição durante o debate sobre a lei que proibiu os sinais religiosos ostensivos, em França. Peña-Ruiz fez parte da Comissão Stasi, nomeada pelo presidente francês e que defendeu a proibição do véu islâmico e outros símbolos religiosos ostensivos…

  • «A propósito das leis políticas, o padre Lacordaire afirmou o essencial: “Entre o forte e o fraco, é a liberdade que oprime e a lei que liberta.” Desse modo, em período de desemprego, a lei que disciplina os despedimentos protege os assalariados contra a ordem da força económica. Numa comunidade de direito, como na República, a lei política, vector do interesse geral, permite subtrair os relacionamentos entre os homens ao império multiforme da força. A laicidade assegura um tal requisito, ao favorecer unicamente o que é de interesse comum. Ela promove, juntamente com a autonomia moral e intelectual das pessoas, a liberdade de consciência, bem como a igualdade plena dos seus direitos, sem discriminação fundada no sexo, na origem ou na convicção espiritual.
    A laicidade nunca foi inimiga das religiões, enquanto estas se afirmam como demandas espirituais e não reivindicam o domínio do espaço público.
    (…)»
17 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Líbano – um intervalo na guerra

O cessar-fogo anunciado entre Israel e o Hezbollah, sob os auspícios da ONU e a mediação da União Europeia não é o fim da guerra e, muito menos, o princípio da paz.

A guerra não é entre Israel e o Líbano, é entre o sionismo judaico-cristão e o terrorismo islâmico teleguiado de Teerão, através da Síria.

De um lado há uma tendência expansionista que não tolera a autonomia da Palestina, do outro a cegueira que pretende a erradicação do Estado de Israel. O terrorismo tem raízes bíblicas que é preciso extirpar.

A Tora e o Corão são certidões da Conservatória do Registo Predial Celeste que atribuiu os mesmos terrenos a dois proprietários distintos. É por isso que terrorismo e resistência se confundem entre fanáticos que acreditam na validade do atestado de posse.

Pela primeira vez, desde a sua existência, Israel não ganhou a guerra. Reduziu o apoio dos países ocidentais e agravou o ódio dos vizinhos islâmicos sem conseguir aniquilar o Hezbollah. O seu futuro começa a ser incerto.

Certa esquerda vê em Israel a face do imperialismo e nas teocracias islâmicas amanhãs que cantam. A direita, nostálgica do colonialismo, olha com arrogância para os árabes e com volúpia para o petróleo e ninguém, nenhum país, ajuda a criar condições para que a separação da Igreja e do Estado permita as mais básicas liberdades dos povos oprimidos pelo Corão.

As derrotas dos EUA no Iraque e, agora, no Líbano, através de Israel, terão dramáticas consequências para a paz no mundo e a estabilidade das democracias. Os radicalismos levam a melhor e ganham ânimo com o simples facto de sobreviverem.

A inexperiência do Governo de Israel e a inépcia da administração Bush precipitaram o mundo num beco cuja saída será sangrenta, demorada, dramática e planetária.

17 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Cartoons do Holocausto em exibição em Teerão

Em Fevereiro, como resposta à publicação dos cartoons sobre Maomé na génese da «guerra» dos cartoons – que trouxe mais violência a um mundo já abalado pela violência decorrente da intolerância das religiões – o presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad – um crente fervoroso na proximidade do Yawm al-Qiyamah, o dia do Juízo Final – promoveu uma competição a nível internacional de cartoons sobre o Holocausto.

Cerca de 200 dos mais de 1100 cartoons dos fundamentalistas e neo-nazis que responderam ao convite, estão agora em exibição em Teerão, numa exposição que, segundo os seus organizadores, pretende testar a realidade da liberdade de expressão como um valor fundamental ocidental. Não sei exactamente que valor ocidental pretendem testar com o cartoon do indonésio Tony Thomdean que mostra a Estátua da Liberdade com um livro sobre o Holocausto na mão esquerda e tem o braço direito erguido na saudação nazi…

Suponho que a todos os participantes neste triste evento passou completamente ao lado o poder da sátira assim como o significado de liberdade de expressão. Aliás, é-lhes alheio quer o conceito de sátira quer o de liberdade de expressão! Para não falar no conceito de soberania, já que, como apontou o Ricardo, se acharam no direito de tentar condicionar a liberdade de expressão (e o decorrente direito à blasfémia) de países em que não vivem e que talvez nem saibam situar no mapa. Isto é, pretendem condicionar até sociedades em que os muçulmanos são uma pequena minoria, alienar os direitos fundamentais em que assenta a nossa sociedade!

Esta exibição, realizada imediatamente a seguir ao cessar fogo entre Israel e o Hezbollah não é um bom augúrio. Aliás, é um verdadeiro tiro no pé. Ao contrário desta exposição, que expressa tão sómente revisonismo histórico e anti-semitismo, os cartoons de Maomé apenas caricaturavam algo que é um facto experimental e violentamente comprovado nos últimos anos: associavam o Islão radical a violência.

Associação que foi e é feita não pelos cartoons mas pelas acções, como esta exposição, (e falta de reacção em alguns casos, como o do julgamento por apostasia de Rahman) dos muçulmanos mais fundamentalistas um pouco por todo o mundo. As caricaturas de Maomé foram injuriosas apenas indirectamente na medida em que foi também a campanha de intimidação e o assalto à liberdade de expressão ocidental orquestrados como manifestação «espontânea» de indignação aos cartoons que de facto contribuiram para que muitos se apercebessem de que o Islão é uma religião de violência.

Uma religião em que o teste de lealdade não é a fé mas o martírio na luta contra os incréus (47:4) – a única forma de salvação garantida (4:74; 9:111), já que apenas os «mártires» que morrem quando assassinam não crentes têm automaticamente todos os seus pecados perdoados (4:96).

Esta exibição pública de cartoons negando e caricaturando aquela que foi uma das maiores tragédias da humanidade, em que cerca de um terço dos judeus da época foram exterminados – genocídio apenas possível devido ao anti-semitismo instilado pelas restantes religiões do «Livro» – não é uma sátira: é apenas mais uma demonstração da violência do Islão e é claramente uma provocação, a Israel e a todo o Ocidente, com um timing tudo menos inocente.

Nas palavras de Yad Vashem, da Autoridade sobre o Holocausto, este evento, vindo de um país «O Irão, uma nação que aspira a poder nuclear e cujo presidente fez inúmeras declarações genocidas em relação a Israel [aliás considera que é necessário «limpar Israel do mapa» para que o seu Mahdi, o messias, seja enviado] é uma luz vermelha faiscante assinalando perigo não apenas para Israel mas para todo o mundo iluminado».

E concordo plenamente com a afirmação de Yad Vashem de que:

«A História demonstrou que silêncio face ao mal gera más acções»!

16 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Bento XVI reza pela paz

O Sapatinhos Vermelhos, em acto de exibição pública, reza pela paz enquanto o cardeal francês Roger Etchegaray, enviado especial do Vaticano, conduzia orações de um grupo de fiéis no Líbano.

Não sei se Deus ouve melhor as orações feitas no teatro de guerra ou as que, na pacatez do Vaticano, são rezadas por um dignitário com as orelhas sob a tiara.

Fica igualmente a dúvida sobre o que Deus pensa, se pensa, se acaso existe.

Acaba com a guerra porque uns figurões, exoticamente vestidos, disparam orações e acendem velas ou com vergonha da forma como se chacinam os crentes de duas edições diferentes do estúpido livro de que ditou a primeira edição a Moisés no Monte Sinai?

Se acaso as orações têm algum efeito para subornar Deus, por que motivo não as usaram antes do primeiro tiro, da primeira criança assassinada, da primeira grávida morta? E, se Deus é tão bom, como dizem, e omnipotente como apregoam que andava a fazer quando os primeiros mísseis foram disparados e os motores dos tanques aqueciam?

É feio querer ganhar influência política e importância mediática à custa das tragédias.

O Papa, bispos, mulhas, ayatollas e rabis são prostitutos de alterne, proxenetas de Deus, que, como aves de rapina, aguardam a carne putrefacta dos cadáveres para a sua própria sobrevivência.

16 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Os pergaminhos do Mar Morto

Qumran-The Pottery Factory, Yizhak Magen e Yuval Peleg, Biblical Archaelogy Review.

Desde a descoberta, a partir de 1947, dos Manuscritos do Mar Morto, um conjunto de papiros encontrado nas cavernas da região de Qumram – Khirbet Qumran, «ruína da mancha cinzenta», localizado na margem noroeste do Mar Morto, a 12 km de Jericó e cerca de 22 km a leste de Jerusalém na costa do Mar Morto – que os 930 fragmentos de manuscritos hebraicos, aramaicos e gregos encontrados em onze cavernas, datando de 250 a.C. ao primeiro século da era comum, têm despertado uma intensa curiosidade.

As escavações realizadas nas proximidades pelo padre francês Roland de Vaux, da École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém encontraram uma construção que, destruída e queimada no ano 68 da nossa era, o padre católico concluiu tratar-se sem dúvida de um antigo convento dos essénios. Os essénios são uma seita dentro do judaismo, cujo existência é conhecida por muitos outros textos da antiguidade.

Na verdadeira biblioteca encontrada nas cavernas há, entre inúmeros livros do Velho Testamento e outros relacionados com práticas sortidas dentro do judaísmo, alguns documentos específicos da seita, como o Manual de Disciplina, que era seguido pelos seus membros. Até agora, apesar de existirem mutos documentos contemporâneos do mítico Cristo, não há, como seria apenas expectável, alguma menção a Jesus. Pelo contrário, alguns documentos, incluindo um muito semelhante ao Sermão da Montanha, escrito umas décadas antes do suposto nascimento do Cristo, indicam que as lendas associadas a este não são inéditas, são apenas uma colagem de vários cultos messiânicos muito abundantes na época.

Mais livros e artigos têm sido escritos sobre Qumran que sobre qualquer outro ponto arqueológico no Médio Oriente. No entanto, têm sido os pergaminhos o foco das atenções daqueles que têm interpretrado a história de Qumran, essencialmente teólogos e historiadores da religião. A arqueologia propriamente dita e a análise arqueológica contextual do local foi até há pouco tempo um aspecto secundário.

No New York Times de ontem é apresentado o trabalho de dois arqueólogos da Israel Antiquities Authority, Yizhak Magen e Yuval Peleg, que trabalham no local há cerca de 10 anos, que asseveram que Qumran não tem nada a ver com essénios, conventos ou mesmo com os pergaminhos. Qumran, afirmam eles, era apenas uma fábrica de olaria, como a análise arqueológica do local indica.

Quando os romanos destruiram Qumran em 68, durante a revolta judaica, o local era o centro de uma indústria oleira pelo menos há um século. Antes disso, o local faria parte da cadeia de fortificações que se erguiam ao longo da fronteira leste de Israel.

«A associação entre Qumran, as cavernas e os pergaminhos é assim uma hipótese sem qualquer suporte factual arqueológico».

Opinião partilhada por Norman Golb, da Universidade de Chicago, que considera, dada a diversidade de seitas representada nos pergaminhos, que estes foram removidos de Jerusalém por refugiados da guerra com os romanos. Fugindo para leste, estes refugiados esconderam os pergaminhos na segurança das cavernas de Qumran, dentro dos potes lá fabricados, onde permaneceram durante séculos.