18 de Agosto, 2006 Carlos Esperança
Crime de honra
Em Itália, um piedoso paquistanês, Muhammad Saleem, de 55 anos, foi preso por matar uma filha. A jovem Hina Saleem, de 20 anos, perfeitamente integrada, a trabalhar numa pizzaria, acalentava o sonho de fazer carreira no cinema.
O italiano com quem a jovem vivia, há cinco meses, comunicou o desaparecimento que conduziu ao pai. Um tio e um cunhado estão provavelmente implicados neste nefando «crime de honra».
A família não suportava a união com um homem divorciado e casado segunda vez. Ao ser preso o pai exclamou: «eu não queria que se tornasse uma puta como tantas outras raparigas».
A influência religiosa e os preconceitos sociais da comunidade não hesitam perante o crime, desprezando as leis do País de acolhimento. Cometem-se na Europa imensas transgressões em nome da tradição e à sombra da condescendência com a barbárie.
O pai já tinha prometido a rapariga a um primo, no Paquistão, e a sua desobediência só podia, nos costumes tribais da família, ser punida com a morte, friamente premeditada.
Tenho a convicção de que não há guerra de civilizações, há uma luta entre a civilização e a barbárie, a democracia e a teocracia, a liberdade e a tradição. Há um longo caminho a percorrer para impor o respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos».
Fonte: LE MONDE 18.08.06