Ética sem religião
Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, Salman Rushdie diz-nos, sem papas na língua, que «os fundamentalistas de todas as fés são o mal fundamental do nosso tempo». E acrescenta que «a compreensão do que é o bem e o mal existia antes de cada religião em particular; as religiões só foram inventadas pelas pessoas depois, para exprimir essa ideia». A ideia de que a ética é historicamente anterior à religião, e que pode dispensar uma «moral revelada», tem que ser repetida quantas vezes for necessário. Porque é verdade e porque é uma verdade que poucos querem admitir, preferindo tentar convencer-nos de que os «valores morais» caíram do céu aos trambolhões ou foram retirados de um «mundo exterior» pelos filósofos.
Salman Rushdie já explicou mais detalhadamente a sua ideia de que «o nosso sentido de bem e mal (…) precede a religião» noutra entrevista (onde se afirmou também um «ateu da linha dura»). A religião é apenas uma forma sistematizada das reflexões morais num dado momento histórico, que se torna problemática por reclamar uma autoridade «divina» e se prolongar muito para além do momento datado em que foi estabelecida.
Só sairemos dos impasses criados pelo monopólio da religião sobre a ética quando compreendermos que não há qualquer risco de um «caos moral» quando a ética se baseia em valores laicos. Um bom artigo sobre este aspecto foi publicado por Sam Harris na Free Inquiry há alguns meses: «The Myth of Secular Moral Chaos».