Os perigos de uma educação universitária
O número de Agosto da revista da American Family Association, uma organização de extrema-direita teocrata anteriormente conhecida como National Federation for Decency, contém um artigo que considero extremamente revelador da mentalidade obscurantista e castrante dos teocratas americanos.
No artigo, cujo objectivo me pareceu ser convencer devotos pais a não mandar os seus filhos para a Universidade, são apresentadas as razões que permitem à iluminada autora prevenir os ditos pais que «os ‘campuses‘ [a iletrada que escreveu o artigo não sabe que o plural de campus é campi] universitários funcionam como doutrinação no reino do liberalismo», fervilhando de ideias «blasfemas» derivadas do execrado secularismo que permeou os meios académicos norte-americanos. De facto, segundo a teocrata escriba, Rebecca Grace:
«As universidades modernas, tendo perdido as suas convicções morais, ligaram-se a doutrinas relativistas tais como tolerância e diversidade, o que significa, na prática, tolerância de tudo menos a fé bíblica e a moralidade tradicional».
Traduzindo por miúdos, Grace adverte os pais que se mandarem os filhos para a Universidade eles vão perceber que existem pessoas neste mundo que pensam e agem de forma diferente da preconizada pelo conjunto de delírios neolíticos que dá pelo nome de Bíblia e, horror dos horrores, que essas pessoas não só têm direitos, nomeadamente a existir, como a não serem perseguidos. E, tal como a autora, não tenho dúvidas irão descobrir que ser-se tolerante é necessariamente sinónimo de ser-se anti-cristão.
Esta diversidade e tolerância totalmente anti-bíblicas, a total desorientação espiritual do campus moderno, de acordo com J. Budziszewski, que escreveu sobre o tema num artigo da revista de outra organização teocrata, a Focus on the Family, citado por Grace, devem-se a:
«Métodos de doutrinação que incluem não apenas disciplinas mandadórias mas também a cursos de orientação de calouros, códigos de discurso, cursos obrigatórios de diversidade, normas de dormitórios, linhas para organizações estudantis e aconselhamento psicológico».
Como escreve PZ Meyers, para além das disciplinas anti-bíblicas como Biologia e afins, não se percebe como os pontos enunciados podem ser considerados anti-cristãos. Excepto, claro, as normas de discurso que proibem a mui bíblica vociferação contra homossexuais e restantes «pecadores» e o aconselhamento psicológico que pode tornar os cristãos renascidos «normais» e mentalmente sãos…
O gráfico apresentado como papão pela mui cristã Focus on the Family, que se esforça a convencer os fiéis que uma educação universitária é equivalente a pôr em perigo a salvação da «alma» – afinal estas organizações precisam de manter os seus generosos financiadores ignorantes e estúpidos para que continuem generosos e financiadores – é, tal como o artigo, completamente imbecil em termos estatísticos. Mas claro que quanto mais educadas forem as pessoas menor a respectiva possibilidade (e capacidade) para acreditar nos dislates debitados pelos fundamentalistas teocratas!