Mistificações cristãs
Ao ler os meus blogs americanos favoritos, essencialmente blogs de ciência escritos, como seria previsível, por cientistas ateus, nomeadamente o Panda Thumb e os blogs constantes da rede Scienceblogs, que agora inclui os Despachos das guerras culturais de Ed Brayton e o excelente Pharyngula, descubro que afinal a desonestidade intelectual que alguns comentadores demonstram nas nossas caixas de comentários não é apanágio dos fundamentalistas católicos nacionais.
De facto, PZ Myers, professor associado na Universidade de Minnesotta e autor do Pharyngula, comenta que não só o seu nome foi usado por um devoto cristão para conspurcar os comentários do blog de outro ateu americano (uma táctica recorrente no nosso espaço de debate) como, outra estratégia católica muito nossa conhecida, um blogger cristão pretendeu ser ateísta – e um ateísta supostamente com dois doutoramentos, um por Oxford e outro por Cambridge (!) – e criou um blog para classificar os muitos blogs ateus americanos num ranking de bons, maus e horríveis.
Ou seja, num deja vu para os nossos leitores habituais, que lêem frequentemente críticas dos pretensos ateístas, que se apresentam como intelectualmente superiores a qualquer dos humildes escribas do DA, e as suas «sugestões» sobre os tópicos que deveríamos escrever, o dito cristão pretende distinguir o «bom» ateísmo, isto é aquele que não é incómodo para a mitologia cristã, do «mau» ateísmo – aquele que o é.
Claro que as «inspiradas» e mui cristãs estratégias não surtem o efeito desejado. Do outro lado do Atlântico como cá as desonestidades cristãs são rapidamente desmascaradas. Mas não deixa de ser mistificante como aqueles que pretendem ser os detentores da «moral absoluta» recorrem a tácticas tão baixas (e pueris) para desacreditar os «relativistas morais» ateus! E a necessidade que evidenciam do recurso a falácias Argumentum ad Verecundiam (Apelo à autoridade) na tentativa de negar o que os ateus escrevem…