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Mês: Julho 2006

23 de Julho, 2006 Palmira Silva

Atentado de Bombaim: primeiras detenções

A polícia indiana efectuou as primeiras detenções relacionadas com o atentado terrorista que matou mais de 180 pessoas em Bombaim na semana passada. Os primeiros detidos são activistas do Students Islamic Movement of India (SIMI), os quatro mais recentes são alegadamente membros do Lashkar-e-Tayyaba, o Exército dos «Puros»..

As suspeitas de que pelo menos os explosivos e o planeamento do atentado fosse da responsabilidade do Lashkar-e-Tayyaba, o grupo islâmico baseado no Paquistão que há muito luta pela soberania do Paquistão sobre Caxemira, foram imediatas e os últimos desenvolvimentos confirmam essas suspeitas.

Mais indicações do envolvimento do Lashkar-e-Tayyabano atentado residem no facto de que foi utilizado o explosivo militar RDX na manufactura das bombas utilizadas em Bombaim. Este explosivo é muito utilizado pelos militantes islâmicos em Caxemira, especialmente pelo referido movimento terrorista.

Entretanto na Caxemira sob administração indiana foi preso Mohammad Rafiq Sheikh, ou Mudassar, um dos líderes do movimento, procurado por mais de 20 atentados, incluindo um ataque com granadas em Sranigar no mesmo dia do atentado de Bombaim.

Um e-mail enviado a uma estação local de televisão, a Aaj Tak, que reinvidicou a autoria do atentado de Bombaim para uma organização denominada Lashkar-e-Qahhar, ou Exército do Terror, foi descartado pela polícia. De facto, há indicações da polícia indiana de que o e-mail é uma brincadeira (de mau gosto) de um jovem indiano. Quiçá como protesto em relação à medida adoptada pelo governo, na tentativa de evitar uma escalada da violência entre hindus e muçulmanos, de bloquear, como medida de segurança, o domínio blogspot.

As iniciativas de paz entre a Índia e o Paquistão foram seriamente abaladas pelos acontecimentos de 11 de Julho.

23 de Julho, 2006 Carlos Esperança

Associação Protectora das Almas

Não sei como se sentem os protectores de embriões, óvulos e células correlativas, clonados nas madraças da ICAR, quando uma alma por erro de navegação ou capricho da natureza se encavalita num feto estacionado fora do parque, em sítio proibido.

Refiro-me às gravidezes ectópicas. Trata-se de asneira de Deus ou produto do acaso mas, para quem tudo o que de bom acontece é obra de Deus e o mal fruto do Diabo, deve ser um problema que perturba o entendimento e os neurónios.

Para os pios, a ejaculação é genocídio e o aborto uma alma que migra para a sanita. Só assim se percebe a sanha com que os protectores das almas encaram o sexo e a irritação que lhes causa a reprodução medicamente assistida.

Há neste negócio das almas obscuros interesses e perturbações mentais.

Dos caminhos rurais abalaram as caixas de esmolas para as alminhas do Purgatório e, lentamente, vão acabando as missas de sufrágio, os lucrativos trintários, combustível etéreo usado para aumentar a velocidade do veículo que ligava o Purgatório ao Paraíso.

As almas estão à guarda de Deus que as manda em correio azul aos espermatozóides capazes de atingir os óvulos. Não sei se envia várias para a hipótese de falharem o alvo ou se disponibiliza apenas uma para não irritar os padres.

Após a morte, a alma viaja para os destinos do costume: Limbo, Purgatório, Inferno ou Paraíso. Só não percebo a obsessão dos padres com a alma dos que se desinteressam do seu destino e desprezam Deus. Deve ser a vocação totalitária que os consome.

23 de Julho, 2006 Palmira Silva

A imbecilidade criacionista

Kent Hovind, o fundamentalista cristão dono do Dinosaur Adventure Land – um parque biblíco perto de Pensacola, Flórida, em que são apresentadas como verdades absolutas fantasias de que a Terra tem apenas seis mil anos, que o Grand Canyon foi formado num dia como consequência do grande dilúvio biblíco e que os homens coexistiram com os dinossauros – é um expoente da paranóia e demais idiossincrasias dos fundamentalistas cristãos.

Como um dos nossos leitores do Comunhão e Libertação que afirmava, com a arrogância insultuosa que é característica deste movimento, ser a teoria da evolução algo sem pés nem cabeça congeminado com o único propósito de «provocar» os cristãos, Hovind afirma que a «abominação» evolucionista é um conspiração satânica com o propósito de estabelecer uma «Nova Ordem Mundial» anti-cristã, com Belzebu nas rédeas. Conspiração que pretende introduzir outras abominações como o aborto, justiça social, ambientalismo e eliminação da pena de morte.

Parte desta suposta conspiração evolucionista foi «revelada» quando as autoridades da Flórida ordenaram o encerramento dos edíficios integrantes do parque, porque Hovind nunca obteve uma licença de construção para os mesmos, licenças que supostamente violavam os sentimentos religiosos profundos dos seguidores da seita de Hovind.

Hovind, que dirige o oxímero [Evangelismo da] Ciência da Criação é literalmente um fundamentalista cristão, isto é, advoga a inenarrância e literalidade da Bíblia, e concumitantemente, é um criacionista puro e duro, daqueles que afirmam que a Terra tem 6 000 anos. Também concumitante com o seu fundamentalismo cristão Hovind é visceralmente anti-semita e vende livros como «Fourth Reich of the Rich» para além de recomendar a leitura da invenção imbecil «The Protocols of the Elders of Zion», um livro que viu a luz do prelo em 1905 como apêndice ao livro «The Great and the Small» do escritor russo Sergei Nilus, pretendendo ser as minutas de um grande encontro de líderes judeus. Os Protocolos de Sião, uma justificação do anti-semitismo, descrevem os meios tortuosos pelos quais, supostamente, os judeus pretendiam causar um colapso político e económico global de forma a facilitar o seu domínio do mundo.

Hovind, que considera ser a segurança social um dos grandes problemas dos Estados Unidos (em conjunto com o ambientalismo e o sistema de impostos), advoga a lapidação das mulheres «promíscuas», é um grande defensor da pena de morte e propõe que a execução de criminosos seja pública – e por lapidação – afirma que a «democracia é um mal e contrária à lei de Deus».

A «satânica» democracia americana prendeu na quinta-feira o devoto cristão com base em 58 acusações federais, proeminente a recusa em pagar impostos, incluindo segurança social para os seus funcionários – que Hovind pretende serem missionários – e ameaças a investigadores do IRS.

Kent Hovind declarou-se inocente de todas as acusações. Aliás afirma nem sequer perceber porque é acusado já que não reconhece direito ao governo federal em o julgar por fraude e evasão fiscal.

De facto, o criacionista afirma que tudo o que o possui não é dele mas sim de Deus e como tal o governo não tem jurisdição sobre os seus bens. Nas suas alegações de inocência Hovind conta com o conselho e ajuda do seu associado Glen Stoll, bem conhecido devido aos seus esquemas fraudulentos pelo IRS americano…

22 de Julho, 2006 Carlos Esperança

Gianmario Roveraro, membro do Opus Dei, encontrado morto em Parma

Gianmario Roveraro é o primeiro banqueiro encontrado morto, em situação misteriosa, depois do escândalo do Banco Ambrosiano.

O banqueiro italiano era membro do Opus Dei e esteve envolvido no maior escândalo financeiro europeu – a falência da Parmalat -, que deixou um défice de 14 biliões de euros e estava a ser investigado pela justiça de Parma por « formação de quadrilha com fins de falência fraudulenta».

No passado dia 5, após uma reunião do Opus Dei, em que participou, desapareceu misteriosamente a caminho de casa e foi encontrado morto esta sexta-feira.

A imprensa anunciou que, antes do desaparecimento, telefonou à esposa e depois à secretária para pedir que procedessem à transferência de um milhão de euros para «fechar um assunto na Áustria».

22 de Julho, 2006 Ricardo Alves

Comunicado da ARL

Protocolo de Estado… e não só!

  1. A Associação Cívica República e Laicidade (R&L) congratula-se com a recente aprovação, em comissão parlamentar, da «Lei do Protocolo de Estado», entendendo que tal norma vem clarificar — de vez, espera-se — um dos aspectos da tradução prática do princípio constitucional republicano que estabelece que o Estado e as Igrejas devem ser/estar devidamente (laicamente) separados.

  2. A iniciativa legislativa que aí conduziu terá, aparentemente, surgido no seguimento ao «reparo» que a Associação R&L tornou público depois da cerimónia de tomada de posse do actual Presidente da República, cerimónia essa onde o Cardeal de Lisboa foi protocolarmente sentado junto dos ex-Presidentes da República.

  3. Lamentavelmente, porém, a Associação R&L constata também que o «Protocolo de Estado», agora em vias de definição legal, ainda salvaguarda a possibilidade da atribuição de lugares de destaque a representantes de instituições religiosas nas cerimónias públicas do Estado, fazendo depender o seu «ordenamento protocolar» da respectiva «representatividade de implantação» (?)…

  4. A esse propósito a Associação R&L faz notar que ao Estado, desejavelmente incompetente em matérias de convicção por força da sua laicidade, deverá obviamente estar vedada a avaliação dessa mesma representatividade.

    A bem da República.

Luis Mateus (Presidente da Direcção da Associação República e Laicidade)

Ricardo Alves (Secretário da Direcção da Associação República e Laicidade)

Comunicado enviado à imprensa no dia 20 de Julho de 2006.

21 de Julho, 2006 Carlos Esperança

As religiões ainda resistem

As religiões vivem, no estertor, uma orgia de ódio conduzida pela demência do clero. Deus anda por aí, em sonhos místicos dos crentes e na raiva que a liberdade acorda.

Há um velho demente a quem chamam Jeová à espera de ser internado numa clínica do Paraíso, um Cristo ressuscitado, em corpo e alma, a precisar de casa e da companhia de Madalena e um defunto pastor de camelos a aguardar que lhe montem a tenda e que os proxenetas se ocupem de lhe fornecer virgens em vez de se dedicarem ao suicídio.

Os livros sagrados são excelentes para equilibrar uma mesa a que se partiu a perna, para nivelar um sofá em chão oblíquo ou fornecer folhas para acudir a um incréu que as salmonelas puseram em apuros. Também os salmos e os versículos podem ser úteis para introduzir nos sapatos, durante o Verão, para evitar que se deformem.

Infelizmente há profissionais que têm por missão, ler, divulgar e impor aqueles textos, que podiam ter feito o prestígio de uma pitonisa ou inspirado romances de cavalaria, como se fossem verdade reveladas por entes superiores.

Nas igrejas poisam virgens de porcelana, ricamente ataviadas e com coroas de ouro a segurar-lhe a testa, como aros nas aduelas em barris de vinho. Os santos jazem em peanhas nos templos desertos onde abundam Cristos dependurados em cruzes de ferro ou de madeira com ar de terem pertencido à Máfia. As velas dão um ar lúgubre ao local e os templos parecem salas de anatomia de uma universidade extinta.

É deprimente o abandono dos ícones, que passaram de objectos de adoração em imponentes catedrais para mercadorias em saldo, abandonadas em amplos espaços que parecem lojas dos trezentos. Cada vez há menos gente a entrar nas igrejas, substituídas pelas discotecas onde a piedade dá lugar à música, à dança e ao despertar dos sentidos.

No Islão, Deus ainda vive, ligado à máquina da fé pela violência dos clérigos e o medo dos crentes, alimentado pela miséria e a ociosidade que a explosão demográfica produz, perpetuado pelo nacionalismo e pelo ódio.

Deus é uma herança a que urge renunciar para que a paz seja possível.

21 de Julho, 2006 pfontela

Mais amor cristão

Como já venho a afimar há bastante tempo a expressão “politicamente correcto” é um perfeito disparate. É uma expressão que não tem qualquer significado no mundo real já que serve apenas para demonizar um conjunto de ideias ao mesmo tempo que se quer aparecer como grande rebelde que não tem medo do papão. É essencialmente uma forma intelectualmente cobarde de interpretar a realidade já que recusa a análise, a classificação correcta dos temas e o debate construtivo.

Sendo uma expressão que se baseia num conceito de medo e em parte na teoria da conspiração – sim porque ser politicamente incorrecto significa irritar os maus da fita, que são tão maus e tão poderosos que nunca os conseguem calar… – é perfeitamente natural que esta tenha sido a linguagem adoptada pelos partidos conservadores europeus que desde 1789 nao fazem outra coisa que apelar ao medo e à reacção (à falta de valores próprios que sejam tolerantes). Não é pois de estranhar que seja pela boca de Maria José Nogueira Pinto (porta voz em part time para o PP) que se oiçam coisas deste género.

Como sempre os conservadores têm como objectivo político obscuro: o legitimar de todas as formas possíveis os seus ódios ancestrais de estimação e é neste enquadramento que Nogueira Pinto se queixa amargamente que o cidadão comum (da sua ala política suponho) nao se sente confortável em dizer as “verdades”, que o politicamente correcto os impede serem perfeitamente honestos. Suponho que lhe deve incomodar que já não se considere aceitável numa sociedade civilizada uma discriminacao racista ou por orientação sexual (veja-se nestes exemplos a completa perversidade do politicamente correcto! Qualquer dia vão dizer que todos os cidadãos têm direito iguais perante a lei!). Aliás quero aqui dizer que acho de uma grande coragem que Nogueira Pinto (e a Igreja que representa) ataque grupos pouco ou nada representados politcamente e que sofrem na pele todos os dias a discriminação gerada pelo seu “amor” cristão.

Depois movemo-nos para o tema central do ataque de Nogueira Pinto: a defesa do catolicismo como grande moralidade. Essencialmente o que incomoda todos os conservadores é que se reconheçam outros tipos de famílias, em especial as monoparentais e as homossexuais. Ainda se fala em perversão das instituições básicas e mais uma mão cheia de trivialidades debitadas nas últimas intervenções de Ratzinger.

O que esta senhora quer fazer é o que a hierarquia católica deseja mas já não pode fazer directamente: acabar com a diversidade! Que nao hajam confusões, ela não está a defender o seu modelo de família, está sim a atacar todos os outros. A ICAR ambiciona um monopólio das definicões, da definicão de fé, da definicão de amor, da definicão de afectos, etc, porque percebe que nas definicões está a chave para o controlo da legislacão (é uma questão de lógica bastante simples, se eu controlo as premissas praticamente estou a ditar a conclusão).

A demagogia deste tipo de discurso é tão óbvia que chega a ofender os olhos daqueles que a contemplam. Fala-se primeiro de uma espécie de ditadura social que “oprime” as suas opiniões e depois passa-se a defender um modelo social como hegemónico senão mesmo único. A realidade é que os diferentes tipos de família não precisam nem de protecção nem de censura social, a família tradicional continuará a exisitir se continuar a preencher uma necessidade humana (mas pelo facto de sastisfazer as necessidades de alguns não quer dizer que satisfaça as de todos, daí a necessidade de diversidade).

Gostava de concluir reformulando uma das frases de Nogueira Pinto; ela afirma que a Europa atravessa uma profunda crise de valores e cultura mas eu digo-lhe a ela que o que está em profunda crise é o catolicismo ultramontano.