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Execução de uma adolescente: a barbárie islâmica


No passado dia 27 a BBC2 passou um documentário chocante que relatava os detalhes de uma execução especialmente bárbara já que a vítima tinha apenas 16 anos!

Em 15 de Agosto de 2004, a jovem Atefah Sahaaleh, de apenas 16 anos, foi enforcada na praça pública de Neka, uma pequena cidade iraniana no Mar Cáspio, pelo mullah Haji Reza’i. A sentença de morte da adolescente indicava que esta foi executada por «crimes contra a castidade». Na realidade, o «crime» de Atefah foi ter sido violada repetidamente por membros da «polícia moral» e um ex-guarda revolucionário de 51 anos, Ali Daroubi! Os mesmos «polícias morais» que assinaram a petição na base da sua detenção em que a descreviam como «fonte de imoralidade» e «uma influência terrível nas raparigas locais».

O Irão assinou um tratado internacional que o obriga a não sentenciar à morte ou executar menores de 18 anos. Mas os tratados internacionais assim como os direitos humanos não têm qualquer valor quando quem governa os destinos de uma nação são dementes por uma mitologia, seja ela Deus, Allah ou outro figmento da imaginação humana. E a mentira em nome dessa mitologia sempre foi o recurso predilecto dos fanáticos de qualquer religião. Assim, o jornal estatal que noticiou o caso acusava a adolescente de adultério e afirmava que ela tinha 22 anos. De facto, Atefah tinha apenas 16 anos e não era casada.

De qualquer forma, de acordo com a Constituição do Irão, que coloca a Sharia acima de qualquer lei «humana», um juiz dos tribunais da Sharia tem rédea livre. E sob a lei da Sharia a idade de responsabilidade criminal é de 9 (nove!) anos pra as raparigas e 15 para os rapazes. Ou seja, no Irão e nos tribunais da Sharia uma criança do sexo feminino de 9 anos pode ser julgada e condenada à morte por «ofensas» aos decretos «divinos»!

A mentira sobre a idade da vítima veiculada pelos orgãos oficiais iranianos, destinada a não chocar a opinião pública iraniana, e a ameaça dos mullhahs locais a todos os familiares e conhecidos da jovem para não falarem à imprensa não foi suficiente para travar a disseminação da verdade dos factos. Aquando do caso, a jornalista Aiseh Amini ouviu rumores de que Atefah era apenas uma adolescente e resolveu investigar o caso.

«Quando encontrei a família, eles mostraram-me a certidão de nascimento e de óbito. Ambos diziam que ela havia nascido em 1988. Isso legitimou-me para investigar o caso», disse Amini.

Neste excelente artigo no Guardian, a produtora do documentário, Monica Garnsey, relata passo a passo a sua odisseia no Irão para esclarecer o que de facto se passou. E os detalhes que descobriu são um retrato muito fiel da impunidade conferida pela religião aos prevaricadores em nome de Deus às próprias leis que impõem aos restantes!

Atefah teve uma infância conturbada que a transformou numa adolescente rebelde e depressiva. A sua mãe morreu quando ela tinha quatro anos, o irmão morreu afogado pouco depois e o pai rapidamente se tornou viciado em heroína. Numa cidade como Neka, sob controle das autoridades religiosas, Atefah -que sempre andava sózinha e era chamada a «cigana de Neka» – desde muito cedo chamou a atenção da «polícia moral», um braço da Guarda Revolucionária Islâmica, cujo trabalho é reforçar os «valores» do código islâmico nas ruas do Irão. A sua primeira detenção por «crimes contra a castidade» aconteceu quando tinha 13 anos, tendo sido na altura condenada a 100 chicotadas – e ao abuso sexual por parte dos defensores da «moral e bons costumes» enquanto na prisão.

A investigação conduzida por Monica Garnsey na cidade de Neka permitiu-lhe concluir que a opinião geral da população local é que Atefah foi assassinada para encobrir os repetidos abusos sexuais que sofreu às mãos dos «polícias morais». A sua violação brutal por Ali Daroubi foi a desculpa encontrada pelos perpetradores dos abusos para se verem livres de uma testemunha incómoda, que podia a qualquer momento revelar o lado menos «moral» dos fanáticos em nome de Allah.

Dois meses depois da execução de Atefah a situação tornou-se incomportável e impossível de esconder: foram presos os organizadores de uma rede de pedofilia nos quais se incluiam dois dos polícias «morais» que assinaram a petição que a condenou.

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