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Aventuras e desventuras do arcebispo Emmanuel Milingo

Em 27 de Maio de 2001 decorreu sob os auspícios da Igreja da Unificação, mais um casamento colectivo – variante dos casamentos de Santo António à escala planetária – com a bizarria habitual de ser o líder religioso, reverendo Sun Myung Moon, a escolher os casais.

Os esponsais de um curandeiro zambiano e experiente exorcista, com uma médica de acupunctura sul-coreana, deram à cerimónia um picante suplementar por ser o noivo bispo da igreja católica – o arcebispo Emmanuel Milingo.

Após uma audiência com o Papa, menos de três meses decorridos sobre a boda, com a mulher na incerteza de uma gravidez, o arcebispo desapareceu para parte incerta, em retiro espiritual, a reflectir sobre a indissolubilidade do celibato dos clérigos católicos.

Maria Sung, inconformada com a abstinência matrimonial, ameaçou com o jejum e acusou o Vaticano de lhe ter sequestrado o marido. O Vaticano, por sua vez, declarou que foi de livre vontade que o prelado deixou o seio da senhora e voltou ao seio da Igreja.

Sabe-se agora que o prelado viveu enclausurado num mosteiro donde se evadiu para contestar a obrigatoriedade do celibato e – diz-se -, para se encontrar com a cara-metade.

Há muito que o arcebispo Emmanuel Milingo perdeu a autoridade, se acaso a teve, sobre os bispos sufragâneos da sua província eclesiástica, mas não perdeu a dignidade que o título e o múnus lhe conferem.

Devia o prelado ter presente que o celibato é mais importante do que a castidade (no caso do clero) e que as tentações da carne são próprias de gente vulgar que se enreda na volúpia e em paixões mundanas.

Aconteceu ao bispo pedir a Deus, nas longas noites da arquidiocese, que lhe enviasse um anjo para lhe coçar as costas ou o divino Espírito Santo para abanar as asas e lhe refrescar os calores enquanto recordava as confissões do dia.

No abandono do seu Deus, foi descurando a bênção da água e a pureza dos óleos santos. Eram outros fluidos que o apoquentavam e, por isso, trocou a mitra pelo preservativo, o anelão de ametista pela aliança matrimonial, o báculo pela médica e o hissope pela luxúria.

Deus dorme enquanto o Vaticano vela.

Assim, após quatro anos de clausura, perante a distracção dos carcereiros de Deus, evadiu-se para desespero do Sapatinhos Vermelhos e das criaturas da Cúria que não entendem que um prelado troque a luz do Espírito Santo por um sorriso e a companhia do Anjo da Guarda, surdo-mudo, pelas carícias de uma mulher.

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- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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