Blair entrega o sistema de ensino a fanáticos religiosos
O sistema de ensino do Reino Unido sempre segregou os alunos segundo a religião. As consequências são conhecidas: na Irlanda do Norte, por exemplo, a existência de escolas separadas para filhos de pais protestantes e filhos de pais católicos tem ajudado a perpetuar uma hostilidade comunitária que poderia ser atenuada se as crianças frequentassem escolas laicas, independentemente da confissão religiosa dos pais. Não contente com a situação que encontrou, o Governo clericalista de Tony Blair, que gosta de lidar com os britânicos de origem muçulmana através de líderes religiosos não eleitos (de preferência a desvalorizar as suas pertenças religiosas no trato político), tem incentivado a abertura ou integração estatal de escolas anglicanas, católicas, muçulmanas, judaicas e sikhs, generosamente financiadas pelo Estado. Não admira portanto que, segundo uma sondagem recente, 81% dos britânicos muçulmanos se considerem mais muçulmanos do que britânicos, enquanto apenas 7% se consideram mais britânicos do que muçulmanos. (Entre os britânicos cristãos, as percentagens correspondentes são de 24% e 59%, respectivamente.)
O sistema de ensino britânico permite aliás que algumas escolas, embora subsidiadas pelo Estado, seleccionem os alunos à entrada em função da religião. Alguns pais, para garantirem a admissão dos filhos nessas escolas (que até podem ser as únicas na localidade em que vivem) vêem-se constrangidos a frequentarem a igreja local, mesmo sendo ateus. Muitas desta escolas religiosas aproveitam para negar a inscrição aos alunos mais pobres, o que lhes permite garantir melhores resultados nos exames finais, e manter a segregação de classe tão típica da Inglaterra.
O governo de Blair não hesita sequer em financiar escolas muçulmanas que separam os alunos segundo o sexo, ou escolas católicas que obrigam à participação em cerimónias religiosas. No último caso, há relatos de alunos obrigados a participar em procissões com a «Virgem Maria», sessões obrigatórias de doutrinação anti-aborto com imagens terroristas de fetos, e expulsões da escola para quem faltar à missa. O secretário de Estado da Educação garantiu, numa resposta à National Secular Society, que o governo clericalista a que pertence tenciona continuar a apoiar as escolas com «oração colectiva obrigatória», porque tal actividade recreativa «desenvolve o espírito de comunidade».
Como se não fosse suficiente, existem também escolas financiadas pelo Estado em que o criacionismo evangélico é quase matéria obrigatória, e em que cada criança recebeu uma Bíblia, para desespero dos encarregados de educação que acham (veja-se lá o descaramento…) que há matéria mais importante para aprender.
Só uma escola pública laica, aberta a todos os alunos independentemente das suas opções em matéria religiosa, e que faça uma distinção clara entre conhecimentos universais e crenças particulares, poderá superar as divisões culturais de origem e preparar os alunos para a vida moderna.