Quem renuncia a quê?
Alguns religionários afirmam que quem não tem religião é um ser «incompleto» (quiçá «mutilado»), que está «fechado à dimensão transcendental» e a quem portanto «falta qualquer coisa». Compreende-se a intenção, pouco ou nada subtil: apresentar a religião como uma mais-valia pessoal e social e tentar menorizar quem aceita o universo tal como o conhecemos.
Todavia, é quem está «aberto» ao sobrenatural que se fecha à realidade, à lógica, ao rigor intelectual, ao conhecimento comprovado pela ciência e ao próprio bom senso. Acreditar em fantasmas, num «Deus» interventor ou na influência dos astros, se significa «abertura» a alguma coisa, é à fantasia e ao irracional.
Existem seres humanos que convivem bem com a certeza de que só existe o mundo natural (alguns até frequentam as igrejas). E existem seres humanos (que nem sempre frequentam as igrejas) que necessitam de acreditar que existe «mais alguma coisa», para além do universo observável ou para lá da morte. Mas a necessidade de conforto emocional do segundo grupo de pessoas não faz com que o universo deixe de ser o que é.