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Igreja Católica e Holocausto – Divini Redemptoris

À esquerda: Assim falou Cristo: primeira página da publicação nazi Der Stuermer. O cartoon representa a Juventude Hitleriana em marcha para escorraçar as forças do mal. Na legenda da figura lê-se «Com a vossa fé correrão com o Diabo da terra». À direita «Heil ao Führer de todos os alemães!» primeira página do German Deacons’ Gazette, Abril de 1939, isto é, depois da Krystalnach (noite de Cristal) e mais atrocidades do regime nazi terem sido cometidas.

É didáctico comparar a encíclica «Com ardente inquietação» com a Divini Redemptoris, «sobre o Comunismo ateu», publicada 5 dias depois.

Nesta encíclica não são necessários quaisquer dotes de imaginação (católica) para ler nas palavras do Papa uma condenação vívida «do comunismo, denominado bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã».

Ameaça perante a qual «não podia calar-se nem de facto se calou a Igreja Católica. Não se calou esta Sé Apostólica, que muito bem conhece que tem por missão peculiar defender a verdade, a justiça e todos os bens imortais, que o comunismo despreza e impugna».

No entanto, esta Sé apostólica com os predicados que Pio XI reclama não debitou uma única palavra de condenação quer ao fascismo quer ao nazismo, certamente por não constituirem ameaça para os «bens imortais» defendidos pela Igreja.

De facto, nenhum Papa se deu à maçada de fazer para as ideologias nazi e fascista o que ocupa as muitas páginas desta enciclica: uma exposição dos «princípios do Comunismo ateu, como se manifestam principalmente no Bolchevismo, e os seus métodos de acção» a que se segue a exposição da «Necessidade de Recorrer a Meios de Defesa» para combater o «satânico flagelo bolchevista».

Muito menos sentiu a santa madre igreja a necessidade de lançar em relação ao nazismo «um angustioso apelo às forças morais e espirituais» para o combate ao «mal de natureza espiritual» «fonte» de «que brotam, por uma lógica diabólica, todas as monstruosidades do comunismo», combate para que a mesma Igreja a «bem da humanidade, exige que não se ponham obstáculos à sua actividade».

Isto é, esta encíclica, que denuncia os «erros dos comunistas» já condenados explicitamente pelos seus antecessores, reflecte a «Necessidade de Um Novo Documento Solene» que explique claramente que «O Comunismo é intrinsecamente perverso, e não se pode admitir, seja em que terreno for, qualquer colaboração com ele, da parte de quem queira salvar a Civilização cristã».

Nunca algo remotamente análogo foi dito em relação ao nazismo!

Assim, são muito pertinentes as questões levantadas por Alfredo Pimenta no seu artigo de 1944:

«Pergunto aos homens de boa fé, aos espíritos desapaixonados, às inteligências lúcidas e críticas: há comparação possível entre as duas Encíclicas? (…) Na luta actual, um católico não pode optar, sem perigo de consciência, pela vitória do Reich nazista, contra a Rússia comunista? Na luta actual, não tem o católico o dever de desejar a vitória da Alemanha contra a Rússia?

O Episcopado britânico proclamou, em 29 de Novembro de 1936: ‘um católico não pode ser comunista, e um comunista não pode ser católico’. Quando disse o Pontífice, em sua Encíclica ou fora dela, que um católico não pode ser nacional-socialista, e um nacional-socialista não pode ser católico?

O Episcopado alemão proclamou em 24 de Dezembro de 1936: ‘O Führer e Chanceler Adolfo Hitler viu vir de longe o Bolchevismo, e consagrou-se a afastar este perigo terrível para o nosso povo alemão e para todo o Ocidente. Os bispos alemães entendem que lhes cumpre ajudar nesta o Chefe do Reich alemão com todos os meios sagrados de que dispõem’».

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