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A teia dos fundamentalismos religiosos

Recentemente o Vaticano avisou os católicos ditos «liberais» que «Não há Teologia católica sem aceitação do Magistério da Igreja» – isto é, que ser católico implica a subordinação total aos ditames do Vaticano e que é heresia pensar pela própria cabeça. Aviso enfatizado pelo representante-mor do Vaticano cá no burgo que advertiu os católicos portugueses para os malefícios da ciência e da análise racional, destacando que «os discípulos de Cristo não podem cair nesta tentação [usar a razão]».

Aviso explicado na última emanação oficial do Vaticano que identifica o «inimigo» da fé:

«A ciência e a técnica convenceram algumas pessoas a pensar que tudo é fruto da evolução e que o homem não tem nenhum Deus».

Para além da execrada ciência, nomeadamente as ciências da vida que confirmam como absurda e desnecessária a hipótese de um «criador» todo-poderoso e refutam a existência de uma alma, isto é, destroem o mito cartesiano da separação res cognitas (consciência, mente) e res extensa (matéria), a técnica exacerbou os perigos modernos para a «salvação» do referido mito «alma» através da difusão de conhecimento via a World Wide Web, incluída nos «males» que um bom católico deve evitar.

O medo dos totalitários religiosos da difusão virtual de conhecimento, nomeadamente via sítios da internet em que são dissecadas e desmistificadas não só as respectivas mitologias como as pseudo «verdades absolutas» que as religiões arrolam como seu património, não é restrito ao catolicismo. Mas enquanto as hierarquias católicas não podem, como desejam, impôr a censura ou outros métodos mais drásticos para calar as vozes críticas nos países, democráticos, em que a sua mitologia é maioritária – obrigando os fundamentalistas católicos a outras tácticas para o efeito – tal não acontece na maioria dos países islâmicos, onde os blogs e jornais virtuais críticos do fundamentalismo islâmico começam a florescer.

A reacção dos fundamentalistas foi na linha do esperado. Assim, no Egipto, aparentemente «infectado» por bloggers, continuam presos três bloggers, Alaa Abd El-Fatah, Mohamed Sharkawy e Karim El-Shaer, depois de dois outros, Malek Mostafa e Asmaa Ali, terem sido libertados.

No Irão, a prisão de bloggers e de jornalistas que colaboram em jornais virtuais é de tal forma prática corrente que seria fastidioso enumerar todas. A última de que há notícia é a prisão do blogger Abed Tavancheh. Ramin Jahanbegloo, um advogado da laicidade e da não-violência, continua preso na infame prisão de Evin, onde foi torturada, violada e assassinada a fotojornalista Zahra Kazemi-Ahmadabadi.

Na Arábia Saudita, o jornalista Rabah al-Quwai’ foi libertado, após 13 dias de detenção, depois de ter assinado uma declaração reconhecendo ter denegrido a fé islâmica, reconhecendo não ser um verdadeiro muçulmano e prometendo defender os valores(?) islâmicos no seu trabalho futuro. Caso não assinasse esta retractação, seria acusado de «riddah» – renúncia do Islão – «crime» punido com a morte.

Os insultos à fé islâmicos merecedores de morte se o jornalista reincidir na heresia, são … críticas feitas por Rabah al-Quwai’ às rígidas interpretações religiosas dos wahabitas.

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