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Vaticano e Itália – I

O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, criticou na terça-feira dois ministros do novo governo italiano que se manifestaram, respectivamente, em favor da pílula abortiva e da legalização das uniões civis.

A ministra da Saúde italiana, Livia Turco, foi criticada por relançar a pílula RU486, proibida em Itália desde Janeiro deste ano pelo governo do grande paladino de óvulos e espermatozóides Silvio Berlusconi, pouco depois de Bento XVI ter exortado os médicos a não prescreverem este medicamento e ter afirmado que o governo italiano não deveria «introduzir medicamentos que de uma forma ou outra escondem a grave natureza do aborto».

Como esperado, o Osservatore Romano não perdeu tempo a lamentar a atitude da nova ministra da Família, Rosy Bindi, que defendeu o reconhecimento das uniões de facto.

O jornal do Vaticano classificou como «desconcertante» a pressa com que o Governo de Prodi aborda «matérias particularmente delicadas» (para o Vaticano, claro).

Para se perceber no seu real enquadramento, que nem remotamente tem a ver com uma suposta «ortodoxia» (i)moral, este início das hostilidades entre o Vaticano e o governo de Romano Prodi, que com as suas primeiras medidas já mostrou não ser tão permeável aos «conselhos» do Vaticano como o seu antecessor, e porque estes ataques ir-se-ão certamente intensificar se Prodi ousar defrontar abertamente o ditador do Vaticano como o fez Zapatero, é necessário compreender o que está subjacente a esta guerra: poder político que por sua vez é necessário para manter os benefícios financeiros, nomeadamente total isenção de impostos, do Vaticano.

E a influência política da ICAR em Itália, como demonstrado pelas últimas eleições, já não é o que era. O Vaticano precisa com urgência de mostrar ao governo que não perdeu o ascendente político no país e nada melhor para isso que acirrar as guerras das ditas «questões fracturantes»! Caso contrário, o primeiro-ministro italiano, a braços com uma grave crise económica e a maior dívida da zona euro, pode ter ideias peregrinas para resolver de uma assentada a crise, como revogar a isenção de impostos aos negócios, completamente sem nada a ver com religião, do Vaticano.

Isto é, passarem a pagar impostos os muitos negócios e investimentos que o Vaticano detém em Itália, como a maior imobiliária italiana, a Società Generale Immobiliare, para não falar nas participações em multinacionais como a Morgan Guaranty, Credit Suisse, Chase Manhattan ou a Continental Illinois. Esta absurda isenção total de impostos foi concedida por Mussolini e nunca foi revogada, embora Aldo Moro tenha tentado. Mas foi assassinado, supostamente pelas Brigadas Vermelhas, antes de o conseguir

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