Código da Vinci: a saga continua
O ministro de Informação indiano, Priya Ranjan Dasmunsi, que a meio da semana passada adiou a estreia do «Código da Vinci» neste país, viu o filme na companhia dos dignitários católicos que pretendiam a proibição do filme no país laico e de população maioritariamente hindu (os católicos são menos de 2%), mas não encontrou algo ofensivo nele.
Assim, embora Donald D’Souza, o dignitário mor da Conferência Episcopal indiana, tenha afirmado que o filme é «inaceitável para a comunidade cristã da Índia», o filme poderá ser visto neste país a partir de sexta-feira, sem cortes, mas com dois imponentes avisos, um no início e outro no final do filme, informando os espectadores de que se trata de uma obra de ficção sem qualquer semelhança com a «verdade histórica» por insistência da Conferência de bispos católicos. Para além disso, a pedido dos mesmos, será interdito a menores de 18 anos, já que os ilustres dignitários, que insistem na necessidade de impingir a sua mitologia em crianças o mais cedo possível, consideram que apenas adultos «sabem distinguir a realidade da ficção».
Os avisos afirmam «Os caracteres e incidentes retratados e os nomes indicados são fictícios e qualquer semelhança com nomes, caracteres e história de qualquer pessoa é pura coincidência e não intencional».
Apenas no estado maioritariamente católico, Nagaland, cujas autoridades expressaram um «ressentimento sério» contra o governo central por este ter permitido a exibição do filme, este será banido. De facto, a Igreja Católica detém uma influência política importante neste estado indiano, cujo principal partido separatista, o NSCN, tem como slogan «Nagaland para Cristo». No entanto, em Kerala os católicos locais tentam igualmente que o filme seja proibido. Em Meghalaya o partido maioritário da coligação local já expressou a sua oposição à permissão de exibição do filme pelo Central Board of Film Certification.
De igual forma, uma organização de direita hindu, o Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), aproveitou os protestos católicos, que supostamente apoia, para contestar a laicidade do estado e criticar o que considera ser o tratamento preferencial concedido a esta religião ultra-minoritária na Índia, enquanto «A reacção do governo não foi a mesma no que toca a ferir os sentimentos hindus, nomeadamente nos filmes ‘Water’ e ‘Fire’». Estes filmes de Deepa Mehta provocaram fortes reacções dos radicais hindus que queimaram efígies de Deepa Mehta em protesto pelo facto de os filmes não terem sido censurados.
Não se sabe ainda a reacção do Fórum Social Católico (CSF) da Índia que convocou uma greve de fome por tempo indeterminado, em protesto pela estreia no país do filme, e que que pretende ensinar a Dan Brown o respeito pela mitologia católica oferecendo uma recompensa pela sua cabeça.
De facto, o seu dirigente Joseph Dias iniciou uma «greve de fome até à morte» e convidou outros devotos católicos a juntarem-se à iniciativa prometendo não se alimentar (não especificando se as hóstias são consideradas alimento) até o filme ser proibido. Agora que a sua pueril chantagem não funcionou o devoto católico ainda não se pronunciou sobre a continuidade da greve…