Código da Vinci queimado em Itália
A produção de 100 milhões de dólares baseada no romance homónimo de Dan Brown, O Código da Vinci, chegou aos cinemas propulsionada pelos acéfalos protestos das religiões do livro, que se uniram a uma voz para tentar (e conseguir em muitos pontos do globo) censurar e proibir o filme. Acéfalos porque a polémica e os protestos encenados pelos devotos de todos os flavours serviram apenas para garantir que o filme baterá recordes de audiência.
Algumas das iniciativas de protesto são francamente grotescas. Um exemplo é a queima em praça pública de exemplares do livro, uma iniciativa sob os auspícios da extrema-direita italiana através de Stefano Gizzi da Democracia Cristã e de Massimo Ruspandini da Aliança Nacional, que em reminiscências nostálgicas dos tempos «gloriosos« da Inquisição e dos totalitarismos que ensombraram o século XX pretendem purificar na fogueira as «ofensas graves» do livro.
A orgia de fé, a realizar hoje, numa altura em que se celebra o Ano Mundial do Livro, pretende incitar os cristãos a «reagir com força e convicção a este ataque horrível à pessoa santissima de Jesus».
Incitando a reacções que se repetem um pouco por todo o mundo, como a de María Raquel Mendioroz que, armada de um rosário, arrancou os cartazes das portas da sala de um cinema argentino que exibia o filme, enquanto gritava que tinha sido enviada por Deus para impedir a estreia do filme.
Ou o aviso de uma onda de violência na Rússia, onde a Igreja Ortodoxa denunciou o filme como «uma perigosa provocação» que não deixará de merecer resposta «apropriada» dos cristãos deste país. Aparentemente a devoção pela purificação de blasfémias na fogueira é comum a todas as religiões do livro e um grupo de devotos ortodoxos queimou cartazes do filme em Pushkin Square, no centro de Moscovo. Já na Bielorrússia, a agência Interfax informou hoje a decisão das autoridades de Minsk em suspender a projecção do filme devido à «reacção negativa dos fiéis».
Uma vez que o Directorado Espiritual Central dos muçulmanos russos considera difícil «conter» os muçulmanos e impedir que estes venham para as ruas protestar o que consideram uma injúria análoga à que despoletou a recente guerra dos cartoons parece que de momento estão esquecidas as divergências com os cristãos ortodoxos. As duas religiões maioritárias na Rússia parecem ter aproveitado o pretexto para desencadearam uma cruzada conjunta contra a famigerada «cultura laica»!