O anti-boicote
Dentro de poucos dias estreará em quase todo o mundo o filme «O Código da Vinci», inspirado no romance do mesmo nome de Dan Brown.
Mas a estreia deste filme tem sido tudo menos pacífica:
Nas Filipinas, o ministro da presidência Eduardo Ermida afirmou que, como bom católico, não pode tolerar que o filme seja exibido em nome da liberdade de expressão, considerando-o blasfemo.
No Brasil, o piedoso deputado Salvador Zimbaldi procura impedir a exibição do filme através de uma providência cautelar que requereu nos tribunais brasileiros, e que já foi derrotada em primeira instância.
No Peru, o cardeal arcebispo de Lima, Juan Luis Ciprianim exortou os católicos a rechaçar o Demónio que atenta contra a fé e se manifesta nestes dias com uma versão que desmente a traição de Judas a Jesus, e que é precisamente esse mesmo Demónio, que está solto e cobiça as almas, quem está por trás do filme.
Na Inglaterra, a própria Opus Dei trava uma batalha judicial para evitar a estreia do filme, e insiste que a Sony Pictures deveria tomar a iniciativa de a cancelar ou, pelo menos, incluir no filme um aviso aos espectadores católicos mais atrasados mentais que o filme não passa de uma obra de ficção.
Numa ameaça perfeitamente explícita, esta ilustre organização de bons e fervorosos católicos parece querer fazer jus ao modo como é retratada no livro e, numa alusão à reacção muçulmana aos cartoons dinamarqueses, dá-se ao luxo de alertar para «as possíveis reacções que nestes tempos conturbados a exibição do filme pode ainda vir a causar».
Na Índia, o “Forum Social Católico” convocou uma cruzada de orações e também uma greve de fome por tempo indeterminado, como protesto pela estreia do filme naquele país.
Como se não bastasse, estes bons e piedosos católicos – e porque a fé move montanhas – oferecem ainda uma recompensa em dinheiro a quem capturar o escritor Dan Brown, vivo ou morto.
No Vaticano, três importantes cardeais lamentaram a ignorância religiosa que alimenta o interesse pelo romance. O próprio ministro da cultura do Vaticano, o cardeal francês Paul Poupard, dizendo que o livro distorce gravemente a história da Igreja e que as pessoas, coitadas, não têm conhecimentos religiosos suficientes para separar a realidade da ficção, apelou juntamente com outros cardeais e com o arcebispo Angelo Amato, a um boicote generalizado ao filme por parte de todos os bons católicos.
Pois bem:
Se é possível o apelo a um boicote, porque não será também possível o apelo a um “anti-boicote”?
Por mim, e independentemente da curiosidade que tenho de ver as interpretações de Tom Hanks e Audrey Tautou e de apreciar como Ron Howard transpôs para a tela a história de Dan Brown, irei logo que possa ver o filme.
Nem que seja só para marcar uma posição.
É esse precisamente o apelo que aqui deixo:
O “anti-boicote” ao filme «O Código da Vinci»!
(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)