A paranóia dos teocratas
Concordo completamente com Bill Mahler: os fundamentalistas que ululam em prime time acusações de perseguição aos cristãos são demagogos, farsantes sequiosos de poder que seguem a receita que ao longo da História mostrou ser mais eficiente na angariação de clientes e na justificação de poder absoluto para os que clamam falarem em nome de deus. A vitimização e concomitante encenação de perseguições inexistentes é ainda indispensável para manter um fluxo confortável de doações monetárias.
Os crentes são muito fáceis de manipular com estas perseguições inventadas e com a perversão ideológica da religião tirada do seu horizonte místico e pessoal (onde não tenho qualquer objecção que se coloque) e transformada de maneira funcional num horizonte político. Manipulações feitas por teocratas absolutistas e fanáticos, obsecados em reger os comportamentos dos indivíduos afim de promoverem uma ordem cristã reduzida a um código penal que penalize como crime os «pecados» cristãos.
A «causa» cristã mais glorificada nos Estados Unidos (e não só, J.C. das Neves carpe reiteradamente nos momentos zen de segunda o seu martírio por esta causa) é o direito à intolerância. Uma estudante do Georgia Institute of Technology em Atlanta, Ruth Malhotra, pôs em tribunal uma acção contra a universidade que a impede de ser intolerante, isto é, de seguir fielmente os preceitos da sua fé cristã que segundo a devota estudante a compele a falar contra a homossexualidade.
Malhotra pretende com a sua acção judicial que a Universidade revogue a sua política de tolerância e junta-se a uma campanha crescente que pretende forçar as escolas públicas e locais de trabalho privados a eliminarem políticas que protegem os homossexuais de perseguição e discriminação.
O reverendo. Rick Scarborough afirma o movimento em que a acção de Malhotra se insere como a luta cívica do século XXI: «Os cristãos têm de tomar uma posição forte pelo direito de serem cristãos [isto é, intolerantes]».
Assim, a Christian Legal Society, uma associação de juizes e advogados, formou um grupo nacional para revogar nos tribunais federais as políticas de tolerância actuais.
Lá como cá a tolerância e o respeito pelos outros (que não envolve, como é óbvio para todos menos os fanáticos religiosos, o respeito pelas ideias dos outros) estão cada vez mais sob ataque cerrado dos fundamentalistas de todas as cores.