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Poenitentiale Ratzinger

O papado de Ratzinger tem sido pautado por um crescendo de fundamentalismo que passa pela negação crescente do concílio Vaticano II e pela recuperação das praxis mais anacrónicas da já de si anacrónica ICAR. A última, que nos remete aos tempos tão elogiados pelo actual e último papas, a era gloriosa da Cristandade, tem a ver com a recuperação da celebração da penitência na semana dita santa.

Na realidade, esta semana «santa» foi marcada por uma série de declarações que isoladamente passariam despercebidas entre as profusas banalidades habituais emanadas da Santa Sé mas que vistas globalmente indicam inequivocamente o rumo obscurantista traçado por Ratzinger.

Assim, num claro recado aos católicos ditos «liberais» o Vaticano lembrou que «Não há Teologia católica» sem aceitação do Magistério da Igreja – isto é que ser católico implica a subordinação total aos ditames do Vaticano e é heresia pensar temas de religião pela própria cabeça. Reforçando a mensagem aos jovens de Ratzinger para que estes rejeitem o secularismo e aquilo a que chamou «religião faça você mesmo».

Por seu lado o representante-mor do Vaticano local adverte os católicos portugueses para os perigos da ciência e da análise racional, destacando que «os discípulos de Cristo não podem cair nesta tentação [usar a razão]».

Como confirmado pelo arcebispo Piero Marini, mestre de celebrações litúrgicas pontifícias, a mais recente adição às práticas ICARianas é um rito que era tradicional em Roma até ao Renascimento, abandonado quando as teses obscurantistas tão queridas à santa madre igreja, nomeadamente as de Bernardo de Claraval (ou Clairvaux) no século XII, foram destronadas e deixou de ser heresia o novamente execrado uso da razão.

Assim, pensar pela própria cabeça continua anátema para a Igreja de Roma que, pela voz do cardeal americano James Francis Stafford, o penitenciário-mor do Vaticano, introduziu três novos pecados no léxico pecaminoso dos católicos. Três pecados que tentam obstar a que a era da informação trespasse as idiotices da mitologia cristã permitindo assim que os crentes permaneçam no estado de santa ignorância preferido pela Igreja e pelo actual Papa, que quer os católicos longe da influência nefasta de intelectuais.

Constitui então pecado para um católico manter-se informado ou procurar informação, mais concretamente são pecados o excesso de Internet, de televisão e de jornais (em que excesso é definido em relação ao tempo que se passa a ler a Bíblia) . Aliás, a penitência agora aconselhada pela Igreja Católica, para qualquer pecado, é a leitura da Bíblia que aparentemente para os totalitários do Vaticano contém toda a informação necessária a qualquer crente.

Enfim, nada que não tivesse sido previsto há quasi um ano nestas páginas:«Direi mesmo que o dia de hoje, 19 de Abril de 2005, pode constituir um marco para um retrocesso civilizacional que será muito difícil de recuperar». Os últimos desenvolvimentos confirmam os meus receios…

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