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Mês: Março 2006

24 de Março, 2006 Carlos Esperança

Evangelização ou terrorismo?

(Clique para aumentar a imagem)

Este folheto está a ser distribuído nos colégios da FOMENTO – Cooperativa de Ensino, propriedade da Opus Dei.

Nota: Foi entregue pela educadora a uma criança de 5 (cinco) anos.

24 de Março, 2006 Ricardo Alves

O que faria Jesus Cristo

No meu último artigo, dirigi aos católicos a pergunta «o que faria Jesus Cristo perante o nazismo?». Recordo, a propósito, que ser católico é uma questão de obediência, antes de ser uma questão de fé. Um verdadeiro católico, quando confrontado com uma questão teológica, interroga em primeiro lugar um representante da hierarquia da sua igreja, e só depois a sua consciência. Como a hierarquia católica não ordenou que se resistisse ao nazismo, Ratzinger, ao entrar na Juventude Hitleriana e ao fechar os olhos perante os escravos judeus que eram maltratados a seu lado, estava a ser um bom católico.

Evidentemente, há cristãos não católicos. E esses poderão dar respostas divergentes à questão em apreço. Mas não acredito que encontrem no personagem principal do Novo Testamento critérios taxativos para discernir quando um Governo é injusto e a partir de que ponto merece oposição. Entre a colaboração entusiástica com um Estado que perseguia os «pérfidos judeus», e a resistência pacífica a um regime distante do «amor universal», parece-me que haveria passagens bíblicas que serviriam para tudo, de um extremo ao outro. Com uma excepção: nenhuma passagem bíblica ou acto eclesial poderia ser evocado para a resistência activa e, se necessário, violenta. E só essa poderia ter derrubado o regime nazi.
24 de Março, 2006 Carlos Esperança

Lefebvre a caminho da canonização

O Papa B16, pastor alemão, santo por profissão e estado civil, confirma a aproximação aos seguidores de Monsenhor Lefebvre.

Não sei como se aproxima quem sempre esteve junto. Trata-se de legalizar uma união espiritual de facto.

O Vaticano é um Estado criado pelo Tratado de Latrão, a última excrescência totalitária que resta de Benito Mussolini, um católico que subsidiou o antro das batinas, reconheceu o catolicismo como religião oficial do Estado italiano e tornou o seu ensino obrigatório nas escolas.

A Constituição de 1947 incorporou este tratado com a bênção dos partidos amigos da hóstia e do Papa e do PCI.

A religião que considerava Mussolini enviado da Providência é a mesma que chamava porcos aos judeus. O Papa que se deita na cama dos sucessores de Lefebvre é o cardeal que silenciosamente assistiu à canonização de alguns dos piores indivíduos do século passado. Não saberia o Vaticano do apoio de Monsenhor Escrivá ao frio assassino Francisco Franco? E não lhe adjudicou três milagres?

Pio XII, Torquemada, os Reis Católicos de Espanha e João Paulo II fazem parte de uma galeria de futuros santos que, se não tornam a ICAR mais santa, a tornam, pelo menos, mais temida.

Dizem que o problema com a Sociedade São Pio X (SSPX) reside no facto de esses católicos não aceitarem mais nenhuma religião como verdadeira. Afinal o que os distingue? Todas as religiões do livro pensam o mesmo.

Curioso é a relutância dos Papas em receberem pessoas divorciadas e não se importarem de receber excomungados. Acreditar em Deus é obrigatório para os crentes e facultativo para os Papas.

23 de Março, 2006 Carlos Esperança

Concurso sobre o Anjo de Fátima

Quase 2 mil trabalhos foram enviados
Andava o País convencido de que o logro de Fátima se resumia às piruetas solares e à metamorfose de azinheiras em campo de aterragem de virgens, com apelos lancinantes à reza do terço e à conversão da Rússia e, afinal, anos antes, já ali tinha aterrado um anjo.

Aquela zona é um aeroporto celeste, um interface para a fauna divina fazer escala. Com um anjo e uma virgem, dois Papas e uma multidão de bispos, cónegos, cardeais e outros parasitas do divino, só falta o próprio Cristo para transformar a zona num Zoo celestial.

Se os negócios o justificarem, veremos Cristo dar um piparote na coroa de espinhos, pôr a cruz de lado e descer em voo picado sobre a capelinha das aparições. Se o negócio se complicar, até Jeová virá fazer a homilia sobre o dia do Juízo Final e deixará miniaturas de trombetas como recordação aos peregrinos.

Pelos vistos as escolas oficiais transformaram-se em madraças onde meninos e meninas desenharam anjos numa altura que a gripe das aves, por razões sanitárias, aconselhava o abate.

Não sei como vêem os meninos o anjo de Fátima, quantos pares de asas lhe pregaram, qual o modelo que os padres lhes impingiram nem o combustível que lhe puseram no depósito.

A farsa, a burla, o proselitismo e a conivência dos professores de um Estado laico, são o paradigma de um país do terceiro mundo onde o catolicismo prepara o regresso à Idade Média.

23 de Março, 2006 Ricardo Alves

O que fez Ratzinger

Sabemos que Joseph Ratzinger fez parte da Juventude Hitleriana. Sabe-se também que foi recrutado para uma unidade anti-aérea alemã, a qual protegia uma fábrica da BMW em que eram utilizados escravos do campo de Dachau. Porém, sugere-se que teria objecções ao nazismo, e acredita-se que não as terá evidenciado por instinto de sobrevivência.

Haverá indicações dessa oposição ao nazismo do futuro Papa? O padre Georg Ratzinger, irmão de Joseph, afirma que «era impossível resistir». No entanto, na aldeia em que viviam houve quem resistisse. Houve quem escondesse resistentes. Houve quem se tenha declarado objector de consciência (e consequentemente tenha sido enviado para Dachau). E houve quem nada fizesse. Aliás, segundo uma vizinha dos Ratzingers nessa época, «era possível resistir, e essas pessoas foram um exemplo para as outras (…) os Ratzingers eram jovens e tinham feito uma escolha diferente».

Todos estes dados são incontroversos. Mas os dados colocam um dilema ético, que pode ser abordado por católicos e não católicos. Dirijo as interrogações seguintes aos católicos.

O que faria Jesus Cristo (se é que existiu) nesta situação? O que faria o personagem do Novo Testamento perante o nazismo? Teria resistido, como resistiram tantos homens e mulheres, ou teria colaborado, como colaborou o vosso Papa? Pode Ratzinger ser considerado um exemplo ético para os cristãos?

(Darei a minha resposta ao dilema 24 horas depois da publicação deste artigo.)
22 de Março, 2006 Palmira Silva

O único aborto moral é o meu

Já há uns tempos tinha escrito que um dos pontos que me irrita solenemente nas discussões de ética e moral com católicos é a pseudo superioridade moral com que condescendentemente me informam de que têm princípios morais «absolutos» (porque transcendentes), algo que eu como ateísta nunca poderei reinvidicar.

Com pessoas que conheço e me conhecem mais de perto é fácil desmontar o argumento comparando a praxis com a teoria, mas mesmo assim sou informada que o importante não é seguir esses princípios (afinal os crentes são fracos pecadores) mas aparentemente poder usá-los como arma de arremesso contra os ateístas, que até podem ser pessoas bem formadas, com princípios éticos consistentes e coerentes que de facto seguem à risca, mas como são ateus são automaticamente imorais ou amorais.

Isto é, para os católicos o mal feito por quem acredita em Deus deve ser relevado (e é militância ateia recordá-lo); o bem feito por quem nem sequer considera válida a concepção de qualquer ser transcendental é por isso necessariamente considerado se não mal pelo menos um bem meramente utilitário e sem valor!

Um dos temas em que a inconsistência dos apregoados valores cristãos e a incoerência entre o que se diz e o que faz me «tira do sério» tem a ver com um dos temas fracturantes da actualidade, o aborto.

Há uns tempos uma conhecida perguntou-me se a podia levar a Badajoz. Percebi instantaneamente a razão do pedido, bizarro considerando a nossa relação pouco íntima. A pessoa em questão e o marido, ambos muito católicos, tinham sido muito vocais contra o aborto à época do referendo e as suas amigas mais próximas certamente não entenderiam o pedido de quem perorou nos termos em ela o fez contra o aborto e contra as mulheres que a ele recorrem. Por outro lado e apesar de não sermos muito próximas ela sabia que eu não só não iria fazer julgamentos de valor sobre o seu comportamento como, principalmente, que comigo o segredo estaria seguro (até hoje suponho que nem o marido sabe).

Preenchi os quilómetros (muito matinais) até Badojoz com conversa amena, e chegada à clínica dos arcos e depois de ela ser chamada para o procedimento instalei-me na sala de espera com um livro. A esmagadora maioria das (muitas) mulheres que esperavam eram portuguesas, muitas jovens e adolescentes acompanhadas pelos respectivos pais.

No regresso a Lisboa, como a pessoa que eu acompanhei estava bem e eu não conseguia deixar de pensar na incongruência de toda a situação e nas muitas mulheres com menos recursos financeiros que se viram na mesma situação que ela e foram forçadas pelas circunstâncias a abortos de vão de escada, não consegui deixar de lhe perguntar se no caso de voltarmos às urnas para despenalizar o aborto ela votaria sim.

Para minha surpresa o discurso dela não se tinha alterado um milimetro. Quando eu disse que não conseguia perceber como ela conseguia, a menos de duas horas de ter feito um aborto, com a garantia que ninguém saberia do «deslize» é certo, achar que deveriam ir para a prisão as desafortunadas que não tivessem dinheiro para ir a Espanha como ela, retorquiu-me que o aborto é contra a lei divina, mas que «Deus é pai» e ela só tinha decidido pelo aborto depois de muitas conversas «com Deus», em que lhe explicou que não podia ter mais filhos, pela idade e por mais uma série de circunstâncias que Deus «entendeu».

Mais, explicou-me que se o aborto fosse despenalizado todas as «desavergonhadas» que «abrem as pernas» para uns e outros sem quaisquer problemas, poderiam ver-se livre, sem quaisquer problemas igualmente, de uma gravidez indesejada. O aborto não deve ser «facilitado» caso contrário escancaram-se as portas ao «deboche». O caso dela era diferente, o aborto dela era um aborto moral! Voltei a conversar sobre o tempo e outras banalidades depois de ela me ter retorquido que como eu era ateia logo não tinha valores e logo não podia perceber as subtilezas do raciocínio cristão. A pergunta inocente que mereceu esta resposta foi tão só uma afirmação minha que pessoalmente considerava linear que se alguém acha que o aborto é errado de per se, então deve considerar que é errado em qualquer circunstância, com as excepções previstas na lei actual, ou se não é errado, que não deve ser criminalizado, em qualquer circunstância igualmente.

Lembrei-me deste episódio quando li uma notícia que dá conta de um estudo do Center For Reason que, face à polémica instalada nos Estados Unidos em relação ao aborto, com os fundamentalistas cristãos, paladinos de óvulos e espermatozóides, a verberarem que o aborto é um assassínio (de meia dúzia de células) perpetrado pelos não cristãos (abomináveis esquerdistas e seguidores de Satã).

Face a esta retórica o The Center For Reason, um grupo de investigação privado, resolveu testar a premissa subjacente à conclusão esgrimida em alto e bom som (aos microfones das emissoras cristãs) pelos fundamentalistas cristãos americanos: «Os cristãos fazem menos abortos que os não cristãos».

O estudo, disponível para download, com todas as fontes de informação disponíveis assim como todos os dados não trabalhados, para confirmação dos mais incrédulos, indica que a hipocrisia cristã não se restringe a Portugal.

De facto, os dados dos 50 estados americanos, referentes a mais de um milhão de abortos/ano, indicam que a taxa de abortos é a mesma nos segmentos da população cristã e não cristã. Os católicos apresentam uma taxa de aborto significativamente superior

22 de Março, 2006 Carlos Esperança

A Igreja católica e o nazismo

A frequência com que os devotos propagandeiam as virtudes do Vaticano e desafiam que o D.A. prove a mais leve nódoa caída no pano pontifício, indicia que são grandes os pecados que os apoquentam e é pesada a penitência que os espera.

Desde Constantino que o Vaticano é um alfobre de pecados, um antro onde se praticam crimes inomináveis, um centro de conspiração política internacional e, desde os acordos de Latrão, negociados com o amigo Mussolini, um Estado cujo perigo varia na razão inversa da dimensão territorial.

Compreendo os amigos do Papa e da missa e o efeito deletério que a falsificação do pão ázimo, com sinais cabalísticos, pode induzir na percepção da realidade. Quem sabe se a bênção não transforma em alcalóides as moléculas de farinha!

Começa a ultrapassar o limite razoável o reiterado desafio feito por um ou mais devotos, com diversos heterónimos, a insistir em provas tantas vezes apresentadas, da conivência da ICAR com o nazi/fascismo e do seu anti-semitismo genético:

Aqui ficam alguns livros para quem tenha outras curiosidades intelectuais para além da leitura do breviário e encíclicas papais, algumas a fazer corar de vergonha os crentes:

– O Papa de Hitler, John Cornwel – Ed. Terramar
– O Vigário, Rolf Hochhuth
– A Igreja católica e o Holocausto – Uma dívida moral, Daniel Jonah Goldhagen – Ed. Notícias
– Los pecados de la Iglésia, Juan G. Atienza – Ed. Martinez Roca

21 de Março, 2006 Carlos Esperança

B 16 não é santo mas é o Santo Padre

Há quem julgue B16 um biltre, um nazi que afaga o corpo com os finos paramentos pontifícios, um ditador que tem na agenda evangelizar o mundo e preparar o confronto final entre o cristianismo tridentino e o islão actual.

A primeira asserção não está provada. Procedeu discretamente à exclusão dos teólogos progressistas e deixou os louros para JP2, indicou cardeais reaccionários sem alardear a influência, sofreu a vergonha da criação de santos e o ridículo dos milagres sem tugir, assistiu dilacerado à excomunhão do bispo Lefèbvre convicto de que era a opção certa naquele momento. Enfim, foi o dedicado Cireneu do Papa polaco.

Sabendo-se como desejava ser Papa tem de elogiar-se a paciência com que aguardou o falecimento natural do antecessor, prescindindo da experiência ancestral do Vaticano em soluções expeditas.

Finalmente, desvanece o desvelo com que procedeu à fusão da Fraternidade S. Pio X com a ICAR, a ampla comunhão com os excomungados, a alegria do reencontro entre cruzados para partilharem as hóstias e se empanturrarem com o corpo e o sangue do fundador da seita.

No fundo é uma orgia mística entre inquisidores, que sabem que Deus é uma criação humana, e que a excomunhão é a arma para assustar timoratos ou anunciar fogueiras.

20 de Março, 2006 Carlos Esperança

Momento Zen da segunda-feira

João César das Neves (JCN), quiçá por algum pecado a necessitar de penitência urgente, reincidiu hoje no proselitismo.

JCN tem domingos que se adivinham difíceis: missas, hóstias, orações, genuflexões, contas de terços para dedilhar, leitura de obras pias e esmolas. Calcula-se a dificuldade de escrever a homilia para o Diário de Notícias, apesar das indulgências que abicha e da penitência de que se exonera.

O bem-aventurado sabe que tem leitores beatos e, sobretudo, inveterados ateus a quem hilaria com a prosa que debita enquanto lambe o palato à procura do último resquício de hóstia consagrada, debita a moral católica e faz o frete ao Papa.

Para salvar a alma ao que este homem se sujeita, que inanidades debita, que aleivosias profere!

Refreindo-se ao aborto, diz que o primeiro-ministro «se prepara para legalizar uma prática vergonhosa que até os selvagens mais boçais sempre consideraram infame». Lá isso é verdade, é a posição do Papa, dos bispos e dos católicos mais reaccionários. Mas escusava de os adjectivar de forma tão violenta e de uma autocrítica tão demolidora.

Quanto à aprovação da lei da Procriação Medicamente Assistida que «regulará as práticas mais abjectas do Admirável Mundo Novo» não lhe terá ocorrido que, à semelhança do que acontece nos países civilizados, é matéria que necessita de enquadramento legal?

JCN termina a homilia com o habitual embuste cristão, comparando o aborto e a reprodução medicamente assistida ao nazismo: «Nos anos 30 os alemães viam bem as vantagens da ordem que Hitler garantia, em troca de uma ?pequena? dose de violência».

Esqueceu o devoto que o nazismo foi filho do cristianismo, teve missas, lausperenes, orações, bênçãos, apoio activo do episcopado católico e o silêncio cúmplice de Pio XII.

Bendigamos este arauto da teologia da demência: «Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos Céus» (Mat. 5:3).