24 de Março, 2006 Carlos Esperança
Evangelização ou terrorismo?
Este folheto está a ser distribuído nos colégios da FOMENTO – Cooperativa de Ensino, propriedade da Opus Dei.
Nota: Foi entregue pela educadora a uma criança de 5 (cinco) anos.
Este folheto está a ser distribuído nos colégios da FOMENTO – Cooperativa de Ensino, propriedade da Opus Dei.
Nota: Foi entregue pela educadora a uma criança de 5 (cinco) anos.
Não sei como se aproxima quem sempre esteve junto. Trata-se de legalizar uma união espiritual de facto.
O Vaticano é um Estado criado pelo Tratado de Latrão, a última excrescência totalitária que resta de Benito Mussolini, um católico que subsidiou o antro das batinas, reconheceu o catolicismo como religião oficial do Estado italiano e tornou o seu ensino obrigatório nas escolas.
A Constituição de 1947 incorporou este tratado com a bênção dos partidos amigos da hóstia e do Papa e do PCI.
A religião que considerava Mussolini enviado da Providência é a mesma que chamava porcos aos judeus. O Papa que se deita na cama dos sucessores de Lefebvre é o cardeal que silenciosamente assistiu à canonização de alguns dos piores indivíduos do século passado. Não saberia o Vaticano do apoio de Monsenhor Escrivá ao frio assassino Francisco Franco? E não lhe adjudicou três milagres?
Pio XII, Torquemada, os Reis Católicos de Espanha e João Paulo II fazem parte de uma galeria de futuros santos que, se não tornam a ICAR mais santa, a tornam, pelo menos, mais temida.
Dizem que o problema com a Sociedade São Pio X (SSPX) reside no facto de esses católicos não aceitarem mais nenhuma religião como verdadeira. Afinal o que os distingue? Todas as religiões do livro pensam o mesmo.
Curioso é a relutância dos Papas em receberem pessoas divorciadas e não se importarem de receber excomungados. Acreditar em Deus é obrigatório para os crentes e facultativo para os Papas.
Aquela zona é um aeroporto celeste, um interface para a fauna divina fazer escala. Com um anjo e uma virgem, dois Papas e uma multidão de bispos, cónegos, cardeais e outros parasitas do divino, só falta o próprio Cristo para transformar a zona num Zoo celestial.
Se os negócios o justificarem, veremos Cristo dar um piparote na coroa de espinhos, pôr a cruz de lado e descer em voo picado sobre a capelinha das aparições. Se o negócio se complicar, até Jeová virá fazer a homilia sobre o dia do Juízo Final e deixará miniaturas de trombetas como recordação aos peregrinos.
Pelos vistos as escolas oficiais transformaram-se em madraças onde meninos e meninas desenharam anjos numa altura que a gripe das aves, por razões sanitárias, aconselhava o abate.
Não sei como vêem os meninos o anjo de Fátima, quantos pares de asas lhe pregaram, qual o modelo que os padres lhes impingiram nem o combustível que lhe puseram no depósito.
A farsa, a burla, o proselitismo e a conivência dos professores de um Estado laico, são o paradigma de um país do terceiro mundo onde o catolicismo prepara o regresso à Idade Média.
Já há uns tempos tinha escrito que um dos pontos que me irrita solenemente nas discussões de ética e moral com católicos é a pseudo superioridade moral com que condescendentemente me informam de que têm princípios morais «absolutos» (porque transcendentes), algo que eu como ateísta nunca poderei reinvidicar.
Com pessoas que conheço e me conhecem mais de perto é fácil desmontar o argumento comparando a praxis com a teoria, mas mesmo assim sou informada que o importante não é seguir esses princípios (afinal os crentes são fracos pecadores) mas aparentemente poder usá-los como arma de arremesso contra os ateístas, que até podem ser pessoas bem formadas, com princípios éticos consistentes e coerentes que de facto seguem à risca, mas como são ateus são automaticamente imorais ou amorais.
Isto é, para os católicos o mal feito por quem acredita em Deus deve ser relevado (e é militância ateia recordá-lo); o bem feito por quem nem sequer considera válida a concepção de qualquer ser transcendental é por isso necessariamente considerado se não mal pelo menos um bem meramente utilitário e sem valor!
Um dos temas em que a inconsistência dos apregoados valores cristãos e a incoerência entre o que se diz e o que faz me «tira do sério» tem a ver com um dos temas fracturantes da actualidade, o aborto.
Há uns tempos uma conhecida perguntou-me se a podia levar a Badajoz. Percebi instantaneamente a razão do pedido, bizarro considerando a nossa relação pouco íntima. A pessoa em questão e o marido, ambos muito católicos, tinham sido muito vocais contra o aborto à época do referendo e as suas amigas mais próximas certamente não entenderiam o pedido de quem perorou nos termos em ela o fez contra o aborto e contra as mulheres que a ele recorrem. Por outro lado e apesar de não sermos muito próximas ela sabia que eu não só não iria fazer julgamentos de valor sobre o seu comportamento como, principalmente, que comigo o segredo estaria seguro (até hoje suponho que nem o marido sabe).
Preenchi os quilómetros (muito matinais) até Badojoz com conversa amena, e chegada à clínica dos arcos e depois de ela ser chamada para o procedimento instalei-me na sala de espera com um livro. A esmagadora maioria das (muitas) mulheres que esperavam eram portuguesas, muitas jovens e adolescentes acompanhadas pelos respectivos pais.
No regresso a Lisboa, como a pessoa que eu acompanhei estava bem e eu não conseguia deixar de pensar na incongruência de toda a situação e nas muitas mulheres com menos recursos financeiros que se viram na mesma situação que ela e foram forçadas pelas circunstâncias a abortos de vão de escada, não consegui deixar de lhe perguntar se no caso de voltarmos às urnas para despenalizar o aborto ela votaria sim.
Para minha surpresa o discurso dela não se tinha alterado um milimetro. Quando eu disse que não conseguia perceber como ela conseguia, a menos de duas horas de ter feito um aborto, com a garantia que ninguém saberia do «deslize» é certo, achar que deveriam ir para a prisão as desafortunadas que não tivessem dinheiro para ir a Espanha como ela, retorquiu-me que o aborto é contra a lei divina, mas que «Deus é pai» e ela só tinha decidido pelo aborto depois de muitas conversas «com Deus», em que lhe explicou que não podia ter mais filhos, pela idade e por mais uma série de circunstâncias que Deus «entendeu».
Mais, explicou-me que se o aborto fosse despenalizado todas as «desavergonhadas» que «abrem as pernas» para uns e outros sem quaisquer problemas, poderiam ver-se livre, sem quaisquer problemas igualmente, de uma gravidez indesejada. O aborto não deve ser «facilitado» caso contrário escancaram-se as portas ao «deboche». O caso dela era diferente, o aborto dela era um aborto moral! Voltei a conversar sobre o tempo e outras banalidades depois de ela me ter retorquido que como eu era ateia logo não tinha valores e logo não podia perceber as subtilezas do raciocínio cristão. A pergunta inocente que mereceu esta resposta foi tão só uma afirmação minha que pessoalmente considerava linear que se alguém acha que o aborto é errado de per se, então deve considerar que é errado em qualquer circunstância, com as excepções previstas na lei actual, ou se não é errado, que não deve ser criminalizado, em qualquer circunstância igualmente.
Lembrei-me deste episódio quando li uma notícia que dá conta de um estudo do Center For Reason que, face à polémica instalada nos Estados Unidos em relação ao aborto, com os fundamentalistas cristãos, paladinos de óvulos e espermatozóides, a verberarem que o aborto é um assassínio (de meia dúzia de células) perpetrado pelos não cristãos (abomináveis esquerdistas e seguidores de Satã).
Face a esta retórica o The Center For Reason, um grupo de investigação privado, resolveu testar a premissa subjacente à conclusão esgrimida em alto e bom som (aos microfones das emissoras cristãs) pelos fundamentalistas cristãos americanos: «Os cristãos fazem menos abortos que os não cristãos».
O estudo, disponível para download, com todas as fontes de informação disponíveis assim como todos os dados não trabalhados, para confirmação dos mais incrédulos, indica que a hipocrisia cristã não se restringe a Portugal.
De facto, os dados dos 50 estados americanos, referentes a mais de um milhão de abortos/ano, indicam que a taxa de abortos é a mesma nos segmentos da população cristã e não cristã. Os católicos apresentam uma taxa de aborto significativamente superior…
A frequência com que os devotos propagandeiam as virtudes do Vaticano e desafiam que o D.A. prove a mais leve nódoa caída no pano pontifício, indicia que são grandes os pecados que os apoquentam e é pesada a penitência que os espera.
Desde Constantino que o Vaticano é um alfobre de pecados, um antro onde se praticam crimes inomináveis, um centro de conspiração política internacional e, desde os acordos de Latrão, negociados com o amigo Mussolini, um Estado cujo perigo varia na razão inversa da dimensão territorial.
Compreendo os amigos do Papa e da missa e o efeito deletério que a falsificação do pão ázimo, com sinais cabalísticos, pode induzir na percepção da realidade. Quem sabe se a bênção não transforma em alcalóides as moléculas de farinha!
Começa a ultrapassar o limite razoável o reiterado desafio feito por um ou mais devotos, com diversos heterónimos, a insistir em provas tantas vezes apresentadas, da conivência da ICAR com o nazi/fascismo e do seu anti-semitismo genético:
Aqui ficam alguns livros para quem tenha outras curiosidades intelectuais para além da leitura do breviário e encíclicas papais, algumas a fazer corar de vergonha os crentes:
– O Papa de Hitler, John Cornwel – Ed. Terramar
– O Vigário, Rolf Hochhuth
– A Igreja católica e o Holocausto – Uma dívida moral, Daniel Jonah Goldhagen – Ed. Notícias
– Los pecados de la Iglésia, Juan G. Atienza – Ed. Martinez Roca
Há quem julgue B16 um biltre, um nazi que afaga o corpo com os finos paramentos pontifícios, um ditador que tem na agenda evangelizar o mundo e preparar o confronto final entre o cristianismo tridentino e o islão actual.
A primeira asserção não está provada. Procedeu discretamente à exclusão dos teólogos progressistas e deixou os louros para JP2, indicou cardeais reaccionários sem alardear a influência, sofreu a vergonha da criação de santos e o ridículo dos milagres sem tugir, assistiu dilacerado à excomunhão do bispo Lefèbvre convicto de que era a opção certa naquele momento. Enfim, foi o dedicado Cireneu do Papa polaco.
Sabendo-se como desejava ser Papa tem de elogiar-se a paciência com que aguardou o falecimento natural do antecessor, prescindindo da experiência ancestral do Vaticano em soluções expeditas.
Finalmente, desvanece o desvelo com que procedeu à fusão da Fraternidade S. Pio X com a ICAR, a ampla comunhão com os excomungados, a alegria do reencontro entre cruzados para partilharem as hóstias e se empanturrarem com o corpo e o sangue do fundador da seita.
No fundo é uma orgia mística entre inquisidores, que sabem que Deus é uma criação humana, e que a excomunhão é a arma para assustar timoratos ou anunciar fogueiras.
João César das Neves (JCN), quiçá por algum pecado a necessitar de penitência urgente, reincidiu hoje no proselitismo.
JCN tem domingos que se adivinham difíceis: missas, hóstias, orações, genuflexões, contas de terços para dedilhar, leitura de obras pias e esmolas. Calcula-se a dificuldade de escrever a homilia para o Diário de Notícias, apesar das indulgências que abicha e da penitência de que se exonera.
O bem-aventurado sabe que tem leitores beatos e, sobretudo, inveterados ateus a quem hilaria com a prosa que debita enquanto lambe o palato à procura do último resquício de hóstia consagrada, debita a moral católica e faz o frete ao Papa.
Para salvar a alma ao que este homem se sujeita, que inanidades debita, que aleivosias profere!
Refreindo-se ao aborto, diz que o primeiro-ministro «se prepara para legalizar uma prática vergonhosa que até os selvagens mais boçais sempre consideraram infame». Lá isso é verdade, é a posição do Papa, dos bispos e dos católicos mais reaccionários. Mas escusava de os adjectivar de forma tão violenta e de uma autocrítica tão demolidora.
Quanto à aprovação da lei da Procriação Medicamente Assistida que «regulará as práticas mais abjectas do Admirável Mundo Novo» não lhe terá ocorrido que, à semelhança do que acontece nos países civilizados, é matéria que necessita de enquadramento legal?
JCN termina a homilia com o habitual embuste cristão, comparando o aborto e a reprodução medicamente assistida ao nazismo: «Nos anos 30 os alemães viam bem as vantagens da ordem que Hitler garantia, em troca de uma ?pequena? dose de violência».
Esqueceu o devoto que o nazismo foi filho do cristianismo, teve missas, lausperenes, orações, bênçãos, apoio activo do episcopado católico e o silêncio cúmplice de Pio XII.
Bendigamos este arauto da teologia da demência: «Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos Céus» (Mat. 5:3).
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.