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Mês: Fevereiro 2006

3 de Fevereiro, 2006 Carlos Esperança

Cardeal, agente duplo

«O cardeal húngaro Laszlo Paskai, antigo arcebispo de Esztergom e de Budapeste, trabalhou para os serviços secretos comunistas nos anos 1960 e 1970, escreve esta quinta-feira o semanário húngaro Elet es Irodalom».

Trata-se mais de um agente duplo do que propriamente de um espião da União Soviética. Não se pode dizer que trabalhava para Deus e para o Diabo.

O KGB e o Vaticano eram duas centrais de intoxicação internacional.

Graças à confissão, o bondoso cardeal podia prestar um excelente serviço às duas multinacionais da repressão.

2 de Fevereiro, 2006 Carlos Esperança

Solidariedade


As barbas do profeta – Diário Ateísta/Ponte Europa

«Obviamente que sou solidário com os meus colegas Dinamarqueses» Zédalmeida

2 de Fevereiro, 2006 Palmira Silva

Propaganda eleitoral

Como já há uns largos meses previ, o Vaticano veio em auxílio, (mal) disfarçado, claro, de outro católico exemplar, grande defensor de óvulos e espermatozóides, Silvio Berlusconi, que parte para as eleições de Abril próximo com uma clara desvantagem em relação ao seu opositor, que encabeça a coligação de centro-esquerda, Romano Prodi.

Não obstante dizer que a Igreja Católica não vai interferir nas eleições apoiando directamente, isto é, pelo nome, qualquer dos candidatos, o Cardeal Camillo Ruini, o eclesiástico máximo da Conferência de Bispos Italianos, afirmou que os eleitores italianos «deviam ter em consideração» assuntos como o aborto e o reconhecimento legal de uniões de facto homossexuais, vivamente condenados pelo Papa há uns dias, quando escolherem quem os vai governar nos próximos anos.

Considerando que Romano Prodi, social-democrata que foi presidente da Comissão Europeia, se declarou a favor do reconhecimento dos direitos legais dos casais que vivem em união de facto, hetero ou homossexuais, embora não pretenda permitir o casamento homossexual e que Berlusconi se tem desdobrado em aparições públicas com um discurso que mereceu a observação no Corriere della Sera que, aos 69 anos e casado em segundas núpcias, Berlusconi «aparentemente tornou-se um cristão tradicionalista do dia para a noite», não é muito difícil ver nas palavras do Cardeal um apelo ao voto em Berlusconi!

De facto, usando toda a máquina mediática que controla, Silvio Berlusconi tem reiterado ao vivo e a cores, sob o aplauso do Vaticano, que a sua coligação de centro-direita representa os «valores familiares» e como tal afirmou já o seu repúdio ao reconhecimento das uniões de facto. Para além disso, pretende limitar as importações da pílula Mifepristone, mais conhecida como RU486, num país em que o aborto é legal desde 1978, e prometeu colocar activistas pró-vida nos centros estatais de aconselhamento sobre o aborto. O discurso pré-eleitoral fundamentalista católico de Berlusconi já levou milhares de manifestantes a Roma e Milão reclamando, respectivamente, o reconhecimento legal de todas as uniões de facto e que não seja revogada a lei de 1978, referendada em 1981, que permite o aborto em Itália.

Entretanto as tentativas de conquistar o voto católico de Berlusconi atingiram contornos caricatos no fim de semana passado quando, em directo numa das quasi diárias aparições nas estações de televisão italianas, prometeu honrar o «ideal católico da castidade» abstendo-se de sexo até depois das eleições!

O Corriere della Sera realça no entanto que o voto de castidade temporária de Berlusconi surgiu depois de ele ter respondido «Sim, frequentemente» à pergunta do tele-pregador que o entrevistava se tinha sido fiel às suas mulheres…

1 de Fevereiro, 2006 Ricardo Alves

Luis Rodrigues e as duas cachopas casadoiras

Hoje, o mais recente colaborador do Diário Ateísta, o Luis Grave Rodrigues, irá a uma conservatória de Lisboa num esforço para que duas raparigas que vivem juntas se possam casar. Na aparente simplicidade de confrontar a Constituição igualitária com o Código Civil discriminatório, joga-se a extensão do casamento a pessoas do mesmo sexo.

Terminei o meu último artigo notando que o puritano é aquele que se horroriza com o facto de alguém, algures, procurar a felicidade de uma forma que ele não aprova. E acrescentei que o totalitário vai mais longe e tenta impedir que esse alguém, esteja onde estiver, faça algo que não afecta mais ninguém. A descrição serve tanto para o Islão como para o catolicismo: são dois exemplos de religiões totalitárias. E é pertinente neste caso: existe um preconceito social enraizado, de inspiração religiosa, contra os adultos que mantêm entre si relações sexuais que muito poucos praticariam, mas que não afectam mais ninguém. E existe uma resistência irracional, também de origem religiosa, a que essas pessoas oficializem perante o Estado uma união estável.

No Portugal da Inquisição (se me é permitido falar da Inquisição…) o totalitarismo católico foi levado às últimas consequências: mesmo no espaço familiar e privado era proibido praticar outra religião que não aquela que detinha o poder político e público. A prisão de António José da Silva, por exemplo, deu-se quando uma escrava de casa descobriu que o seu amo respeitara alguns rituais judaicos, em segredo e atrás das portas fechadas da sua residência. O dramaturgo morreu na fogueira.

As religiões atrás referidas reunem no mesmo sistema uma cosmovisão e uma ética (o que é legítimo e não aborrece ninguém), mas as igrejas que as representam laboram para impor essa ética por via política (a cosmovisão já não aguenta o confronto com a ciência). Se tivessem o campo inteiramente livre, mesmo o nosso espaço privado seria escrutinado e controlado para que se aferisse da correcção religiosa do nosso comportamento pessoal. E no entanto, as igrejas poderiam falar apenas para os seus. No caso do casamento de pessoas do mesmo sexo, até seria melhor que evitassem pronunciar as excomunhões e anátemas habituais. Não os prejudica e nem sequer os afecta: não é nada com eles. E, no dia em que passar a ser uma escolha banal, também não será nada connosco.