Rescaldo das eleições no Egipto
Allah is our objective. The Prophet is our leader. Qur’an is our law. Jihad is our way. Dying in the way of Allah is our highest hope. Muslim Brotherhood ou a Irmandade do Islão
A Irmandade do Islão revelou-se o maior partido da oposição nas recentes eleições realizadas no Egipto com 19% dos votos expressos, o que se traduz em 88 lugares num parlamento de 454 deputados.
O jornal pro-governamental Al-Gomhuria publicou um artigo de título «Os Mullahs estão a chegar!», afirmando que embora a Irmandade tenha realizado uma campanha baseada não em religião mas em assuntos práticos, o seu slogan «O Islão é a solução» indica uma agenda escondida de intolerância social, repressão das mulheres e hostilidade às minorias religiosas (como os cristãos coptas, alvos de violência muito recentemente).
Por seu lado a votação alcançada pela Irmandade mereceu um artigo congratulatório no Tehran Times, que assegura que os ventos de mudança despoletados por esta eleição assolarão todo o mundo muçulmano, e exponenciarão a «tendência de países árabes e islâmicos a olharem para soluções religiosas para os seus problemas».
Na realidade os resultados desta eleição são preocupantes, especialmente se atentarmos à história desta Irmandade, a grande fonte de inspiração de Osama bin Laden, nomeadamente através dos escritos de um fundamentalista desta organização, Sayyid Qutb, enforcado em 29 de Agosto de 1966, após uma tentativa de assassínio do presidente Nasser pela Irmandade. De igual forma, na Universidade Rei Abdel Aziz em Jiddah, Bin Laden, segundo colegas, foi muito influenciado por um dos seus professores, Abdullah Azzam, um palestino que foi um importante membro da Irmandade Muçulmana.
Quando da sua formação por um professor wahabita em 1928, Hassan al-Banna, a Irmandade era um movimento religioso, que se opunha ao domínio britânico do Egipto, mas que se ocupava essencialmente com programas sociais, de educação e de evangelização. Nas duas décadas seguintes ganhou um braço político, o partido da Irmandade do Islão, Hizb Al-Ikhwan Al-Muslimoon, que acusava o governo egipcio de ser muito brando com os sionistas. A sua actividade terrorista em território egipcio iniciou-se quando se demonstrou inevitável a formação do Estado de Israel. O movimento foi banido e em Dezembro de 1948 um membro da Irmandade assassinou o primeiro-ministro egípcio, Mahmud Fahmi Nokrashi.
O presidente Nasser, baniu o movimento em 1954, depois de uma (entre várias) tentativa de assassinato por parte de membros da Irmandade. Milhares de membros refugiaram-se na Síria, Jordânia, Líbano, Sudão e na Arábia Saudita. Onde continuaram a sua tarefa de evangelização e onde o grupo continuou a crescer agora também fora das fronteiras egípcias, sendo hoje um dos mais importantes movimentos islâmicos. Grupos como o al-Jihad e al-Gama’at al-Islamiyya no Egipto, o HAMAS na Palestina e vários grupos mujahideen no Afeganistão são spin-offs da Irmandade.
A Irmandade renunciou «oficialmente» à violência nos anos 70 (com uma «breve» interrupção em 1981 quando quatro membros assassinaram o presidente Anwar-as-Sadat) e desde então tem apresentado um discurso «moderado» de forma ao seu braço político poder integrar o processo democrático do Egipto, ainda a sua base principal. Por outro lado criou uma rede alargada de serviços sociais que lhe permitiu conquistar o apoio da população mais carenciada. A semana passada viu coroados de êxito os seus esforços… Agora que é a 2ª força política no Egipto iremos certamente assistir a uma radicalização do discurso dos seus representantes.
Não são necessários quaisquer dotes de presciência para prever um futuro próximo complicado naquela já conturbada zona do globo! Especialmente porque a Irmandade sempre afirmou ser o seu objectivo o estabelecimento da lei islâmica ou Sharia…