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Em nome de Salazar, esse grande libertador

É o título de um artigo absolutamente imprescíndivel de Fernanda Câncio no Glória Fácil. Artigo que versa, numa prosa fabulosa, sobre a guerra dos crucifixos em que os fundamentalistas católicos transformaram um não acontecimento em qualquer outro ponto do mundo democrático: no seguimento de queixas sobre o incumprimento da lei máxima da República a tutela ordenou que a lei se cumprisse. Um pequeno excerto para abrir o apetite:

«de bagão félix a sarsfield cabral, de joão miguel tavares a barata feyo, para culminar no papa espada e nos habituais rigorismos informativos do espesso, les beaux esprits encontram-se na tese de que os crucifixos ‘são naturais’, estão ‘naturalmente’ nas salas de aula, em nome da ‘tradição’ (pois claro, a tradição, esse garante de civilidade e progresso, esse sinónimo de bondade absoluta e inquestionável e, já agora, de ‘cultura’) e querer de lá retirá-los é como extirpar uma parte da alma ao país sem sequer um pó de anestesia, atentando contra a ‘liberdade religiosa’ da ‘maioria cristã’ e desrespeitando ‘as mais fundas convicções’ do povo, contra o ‘bom senso’ e a ‘boa convivência’ — e a cultura, que, claro está, ‘é de todos nós’, mesmo dos muçulmanos e dos judeus e dos ateus.»

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