Uma questão de motivação
Quem segue assiduamente este diário pode ter notado que já não escrevo há vários meses. Isto tem uma razão de ser: estou no ano final da minha licenciatura, e quis concentrar todo o meu esforço nas questões académicas (na verdade tenho continuado a contribuir para o Pipismo, mas isso exige realmente muito pouco tempo).
Nunca tive como motivação o ataque aos católicos ou aos religiosos em geral. Já aqui esclareci que tenho grandes amigos católicos, familiares que estimo católicos, e grandes amigos de religiões não-cristãs. Não pretendo atacar as crenças das pessoas, e nunca tive essa vontade ao escrever aqui, como julgo que a generalidade dos autores deste blogue não tem. Tenho pena que qualquer afirmação ateísta seja vista como um ataque por alguns religiosos, mas é precisamente esse estado de coisas que gostaria de mudar.
Na verdade, lamento que exista um tabu no que respeita à religião: em vez de se discutir esses temas com frontalidade e sem preconceitos, existe um enorme medo que argumentos, afirmações e informações ofendam os católicos. Por essa razão, quando a ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) de Timor prendeu portugueses em casa do Bispo, molestando-os fisicamente por considerar que não eram católicos, como forma de uma grande pressão popular de obrigar o governo a manter obrigatórias as aulas de religião e moral (coisa que qualquer católico razoável em Portugal deveria condenar), os jornais e televisões portuguesas trataram esse tema como uma nota de rodapé, sem lhe darem a atenção que merece.
Este bloqueio informativo sempre foi, para mim, uma das maiores razões de existir deste site. A igreja não pode ser criticada, alguns crentes vêm isso como um ataque, e ficam muito revoltados. Assim, não importa se seria justo criticá-la, se realmente a ICAR esteve mal ou não, o que importa é que da ICAR não se diga mal. Lamento por estes crentes, e por aquilo que estão a construir. Um grande amigo meu católico disse que gostava do DA, porque os podres da ICAR deviam ser atacados e denunciados, e que os católicos só tinham a ganhar com isso. Se os católicos em geral pensassem como ele, aposto que os autores do DA teriam muito mais trabalho para encontrar material…
De uma forma ou de outra, eu, ao longo dos últimos meses, fui constantemente privilegiando outros usos para o meu tempo que não a publicação de artigos aqui. Até que ontem fui ver os comentários ao artigo da Palmira. «Como é possível? Como é possível que estas pessoas sintam tanta raiva? Como é possível que se sintam tão ofendidas por a Palmira escrever sobre factos históricos? Como é possível que queiram tanto sacudir a história para baixo do tapete, que se enchem com tanto ódio por quem não o faz?»
Comentário sarcásticos do tipo «Se a inquisição tivesse acabado com todos os ateus vocês não estavam aqui…» assustam-me. A sério.
A solução para este problema não é ter medo de ofender esta gente, como os jornais e as televisões cobardemente fazem. As pessoas não têm nada que se ofender por se lembrarem factos ou por se defenderem opiniões legítimas. A solução para este problema é mostrar que o seu ódio não nos desmotiva, que continuamos a dizer o que pensamos. E por isso dedico este post a todos os católicos que nos odeiam. Só vocês me deram motivação para escrever ao fim destes meses.