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Reacções alérgicas

Eu sou a favor da remoção dos crucifixos das salas de aula públicas. São símbolos particulares, representativos de crenças pessoais e não devem ser mantidos em locais cuja neutralidade ideológica o Estado se prestou a garantir.

Mas de resto vejo uma enorme reacção alérgica na sociedade por causa disso. Os defensores da remoção dos símbolos são acusados de

1) Laicismo fanático;
2) Passar ao lado do problema real da Educação;
3) Quererem impôr a sua mundividência aos outros;
4) Negarem a tradição aos portugueses;
5) Perderem tempo com um assunto irrelevante.

Quanto ao “laicismo fanático”, tenho apenas a dizer que o meto no mesmo saco que a “fé céptica” e o “dogmatismo científico”. Simplesmente não faz sentido caracterizar conceitos incompatíveis com as ideias das quais deriva a adjectivação… É, no mínimo, orwelliano. O laicismo serve para permitir a convivência no espaço público providenciado pelo Estado sem sobreposições ideológicas nem fanatismos.

O argumento de que os portugueses têm mais com o que se preocupar do que com os crucifixos não vale nada – de facto, existem uma série de problemas aos quais se pode atribuir uma ordem prática de importância. Mas essa ordem é relativa e seja como for nada impede que se resolvam os problemas de forma simultânea. Senão teríamos de esperar pela resolução do problema da fome mundial antes que pudéssemos abordar a questão da Ota. O mesmo se aplica à educação. De facto a iniciativa de remover os ditos crucifixos não é uma reforma educativa nem pretende minimizar o estado da Educação em Portugal.

Os defensores da remoção dos crucifixos não pretendem impôr ideologia nenhuma a ninguém. Aqui há uma confusão recorrente entre ateísmo e laicismo, como se não houvesse crentes do lado dos defensores do laicismo nas escolas públicas. Se há imposição de alguma coisa é da iconografia de uma crença particular à comunidade que pode não se rever nessa crença. De facto é a Igreja que quer impôr a sua leitura – os crucifixos simbolizam a Paz e o Amor para os católicos logo devem simbolizar o mesmo para toda a gente… Se é verdade que há pais que não podem pagar uma educação religiosamente orientada aos filhos também é verdade que há pais que não podem pagar para garantir uma educação livre de religião aos filhos.

O argumento da tradição é velho e falacioso demais. De facto a “tradição” dos crucifixos começou com o Estado Novo e se nas políticas totalitárias do salazarismo há alguma herança cultural que se aproveite digamos que não é propriamente subscrita por ninguém que eu conheça. De resto a questão dos crucifixos é vista como um ataque à Igreja Católica (leia-se Igreja Católica Apostólica Romana) como se os crucifixos ou aquilo que simbolizam fossem propriedade desta religião. Que eu saiba, os crucifixos são símbolos assumidamente cristãos mas a sua utilização não é exclusiva de uma só confissão mas de várias. Portanto mesmo que se tratasse de um ataque, nunca seria um ataque unilateral.

Para cúmulo, ainda têm o descaramento de vir dizer que os crucifixos são irrelevantes e que não fazem mal a ninguém. Se o assunto é assim tão irrelevante, acho no mínimo insólita a forma como praticamente todos os comentadores e opinion makers da nossa praça se pronunciaram sobre o assunto – especialmente os que se opõem ao cumprimento da Constituição. Alguns chegando a afirmar coisas absurdas como o “agnosticismo do Estado”, no caso de Francisco Sarsfield Cabral. Claramente alguém se sente muito incomodado com a remoção dos “inofensivos” crucifixos.

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