Ventos de mudança
Enquanto por cá a Igreja reage com indignação e tenta protelar a decisão, que só peca por tardia, de retirar das escolas públicas, supostamente laicas e não confessionais, os símbolos da religião cristã, em Inglaterra, um país que mantém uma religião de estado, alguns fazedores de opinião questionam se se deve manter um sistema educativo confessional.
Num artigo que recomendo, a colunista do Guardian Polly Toynbee considera que num país cada vez mais descrente o dinheiro dos impostos de todos não deveria ser usado para promover a religião de cada vez menos britânicos. E critica os políticos de todo o espectro partidário que populistica e irrealisticamente louvam o trabalho das «comunidades de fé». Crítica acutilante e certeira especialmente no que diz respeito às escolas públicas confessionais. De facto, num país em que uma sondagem recente da BBC revelou que 43% dos jovens na faixa etária 18-24 anos são ateístas qual a razão para o estado gastar desnecessariamente fundos públicos em proselitismo?
Certamente não será a «magia especial das escolas confessionais» tão elogiadas pelos seus resultados por David Blunkett (que foi forçado a demitir-se recentemente do governo britânico), muito bem desmontada no artigo de Toynbee. Porque esta magia é apenas selecção (não natural, já que certamente as escolas evangélicas considerarão Darwin uma incarnação do mafarrico), ou seja, as escolas confessionais filtram as crianças problemáticas já que é necessário a confirmação por parte de um responsável religioso de que a família da criança em causa frequenta regularmente a igreja ou mesquita, o que exclui à partida as famílias mais disfuncionais. Boa parte do insucesso escolar advem de crianças pertencentes a famílias com problemas de droga, álcool, problemas mentais e afins, que à partida são excluídas da esmagadora maioria destas escolas confessionais. E que se acumulam nas escolas laicas. O que gera um círculo vicioso já que as famílias funcionais não querem os seus filhos em escolas com uma população elevada de crianças problemáticas. E correm para os templos de forma a obterem as autorizações que garantem que os seus filhos frequentarão escolas com bom «ambiente» já que os que o poderiam conspurcar são rejeitados!
Não há assim nada de especial nas escolas confessionais a não ser elitismo no mau sentido. O dinheiro público em país algum deve financiar o proselitismo de qualquer religião mas deve ser totalmente canalizado para escolas (e serviços sociais) laicas. Cada um é livre de acreditar e praticar o que quiser mas as suas crenças devem manter-se afastadas das escolas públicas. Assim como os seus símbolos!