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Galileu e a Igreja (I)

Quando Galileu abjura das suas heresias não é a primeira vez que se apresenta à Inquisição. Na verdade, até à morte do papa Paulo V, Galileu tinha uma relativa segurança em relação à Igreja.

Parte dos problemas de Galileu começam com Giordano Bruno. Se bem que este teve muitas oportunidades de abjurar o seu hermetismo (foi isso que o levou a aceitar o heliocentrismo – porque se ajustava à sua visão religiosa, de inspiração greco-egípcia, do mundo) não deixa de ser possível que se não fosse ele seria outro o culpado pela inclusão, em 1616, do herético De Revolutionibus Orbium Coelestium de Copérnico no Index Librorum Prohibitorum da Igreja Católica (do qual só foi retirado em 1835). Bruno é de facto, um mártir do livre-pensamento mas não um mártir da Ciência. Apesar desse hipoteticamente evitável dano feito à Ciência, é tendo presente o exemplo da execução de Giordano Bruno que Galileu toma cuidado com o modelo de Copérnico.


A ideia «louca e absurda e formalmente herética» de Nicolau Copérnico, «na melhor das hipóteses, errónea de verdade».

Galileu começa os seus estudos em casa mas mais tarde é enviado para um mosteiro, em Vallombrosa. Mas depois de contrair uma infecção ocular o pai levou-o para Florença para o tratar e, apesar de Galileu ter ficado registado como padre não consagrado, nunca mais lá voltou.

Desde a sua entrada na universidade de Pisa para estudar Medicina, que Galileu questiona o “conhecimento” aristotélico que lá é ensinado. Dadas as ligações que a sua família tem à corte, nomeadamente a da Toscânia que passava o Inverno em Pisa, o aluno entra em contacto com o matemático da corte toscana, cujas aulas frequenta. É então que Galileu abandona a Medicina para abraçar a Matemática, disciplina que lecciona na universidade a partir de 1589. Nestas aulas de matemática, o que se ensinava era uma forma primitiva de Física, na altura designada por Filosofia Natural (até mesmo ao tempo de Newton – basta ver o título da sua grande obra). E como não poderia deixar de ser, Galileu é obrigado a ensinar a visão aristotélica… No entanto, como o seu lugar na universidade é mal pago (60 coroas contra as 2000 pagas a um professor de Medicina), Galileu alberga e dá aulas privadas a alguns dos seus estudantes mais ricos, para conseguir sobreviver. Nessas aulas ele ensinava as suas ideias sobre o funcionamento do mundo. Mas Galileu estava ciente do perigo que era tomar esse partido e, juntamente com a falta de interesse que tinha em leccionar em Pisa e os seus problemas económicos, isso levou-o a procurou um lugar em Pádua – na altura uma cidade controlada por Veneza, um estado suficientemente forte para fazer frente a Roma.

Galileu consegue, graças à sua grande habilidade diplomática e aos conhecimentos anteriormente obtidos na corte toscana, a permissão do grão-duque da Toscânia para ocupar a cátedra de matemáticas da Universidade de Pádua. É aí que conhece dois membros do clero que irão influenciar o seu futuro – frei Paolo Sarpi, que viria a tornar-se seu grande amigo, e o cardeal Roberto Bellarmine, um dos homens mais poderosos do Vaticano e o principal responsável pela perseguição de Giordano Bruno por heresia.

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