250 anos depois , II – A Reforma
Como forma de contrapôr o poderio económico dos jesuítas, Sebastião de Carvalho e Melo criou em 1755 a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, encarregue do transporte de produtos procedentes desta região, como ouro e «drogas do sertão» (como eram conhecidas na Europa as essências e frutos desta zona, como sejam, por exemplo, a pimenta-do-reino, anil, urucum, baunilha, âmbar, canela, cravo, pau-brasil, pau-preto, e, principalmente, o cacau) e do transporte de mercadorias e escravos destinados aos vales Guaporé-Madeira, comércio até aí monopólio da Companhia de Jesus. Em 1757, Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras e marquês de Pombal, ministro todo-poderoso do rei D. José I, cria os «Directórios dos Índios», aldeamentos que visam assegurar a liberdade dos índios e libertá-los do jugo dos jesuítas.
Um atentado contra o rei verificado em 13 de Setembro de 1758 deu ao marquês de Pombal a desculpa perfeita para se ver livre dos perniciosos jesuítas. Depois de ter conseguido, com muita dificuldade, permissão do Papa para processar os jesuítas acusados de cumplicidade neste atentado, ignorando os rogos do Papa em contrário, expulsou-os de Portugal por decreto de 3 de Setembro de 1759, e em breve seguiu para Itália o brigue S. Nicolau carregado de jesuítas.
Com Portugal finalmente livre da influência nefasta dos jesuítas, o marquês de Pombal empreendeu uma reforma profunda do estado português visando a sua modernização e seguindo os modelos de que acompanhara de perto a implementação durante a sua anterior carreira diplomática, nomeadamente entre 1738 e 1743 na sua qualidade de ministro plenipotenciário em Londres, onde assistiu à modernização da monarquia britânica levada a cabo por Jorge II e pelo seu primeiro-ministro, Robert Walpole. Mas a experiência mais inspiradora viveu-a em Viena, onde chegou em 1745 como Enviado Especial-Ministro Plenipotenciário, mediador numa discórdia relativa aos direitos de nomina da cúria entre as cortes de Viena de Áustria e de Roma, isto é um braço de ferro entre o imperador Francisco I e o papa Bento XIV. Nesta época o conde von Kaunitz, ministro da arquiduquesa Maria Teresa de Habsburgo, reformava a administração austríaca e reduzia consideravelmente o poder da Igreja no Estado. Igreja que despoletara a guerra da sucessão austríaca (1740-1748) reconhecendo como imperadores Maria Teresa e o seu marido Francisco I (de acordo com os desejos do falecido imperador Carlos VI expressos e reconhecidos na Sançao Pragmática de 1713) e Carlos Alberto da Baviera. A guerra da sucessão só foi resolvida, a favor de Maria Teresa e seu marido, pelo Tratado de Aix-la-Chapelle ou Aachen, em 1748.
Assim e depois do papel crucial assumido pelo marquês de Pombal no pós-terramoto, a primeira vez na história em que um governo chamou a si responsabilidade de organizar e coordenar a resposta a uma catástrofe, este passou a deter a confiança ilimitada de D. José. O seu enorme poder político, praticamente absoluto, permitiu-lhe concretizar a sua ambição de modernização e laicização do Estado nacional, que na realidade se traduziu numa renovação moral nacional.