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Mês: Outubro 2005

16 de Outubro, 2005 Palmira Silva

IVG I: dogmas secularizados

Agora que as eleições autárquicas terminaram e os tabus presidenciais estão prestes a levantarem-se, podemos certamente esperar um recrudescer das hostilidades, quer na agenda política quer na mediática, em relação ao tema pseudo-polémico/fracturante da interrupção voluntária da gravidez, vulgo IVG ou aborto.

É um tema que eu considero pseudo-polémico porque o que na realidade está em causa é decidirmos se devemos permitir que a lei nacional, a seguir por todos independentemente da sua crença ou falta de crença religiosa, se sujeite aos dogmas da religião maioritária no país e consagrar como criminoso e punível com pena de prisão aquilo que é «pecaminoso» aos olhos da Igreja. Não há qualquer razão objectiva, biológica ou moral, para criminalizar a IVG. Há apenas um dogma católico explícito nos muitos vociferadores em nome de Deus com que somos frequentemente agraciados nos meios de comunicação e implícito naqueles que rejeitam motivação religiosa para a sua objecção ao livre arbítrio sobre o tema.

Na realidade, todos estamos sujeitos a «programação» religiosa via dogmas secularizados. O homem é o mamífero superior cujas crias nascem mais impreparadas para o mundo, numa fase em que o seu cérebro mal começou a desenvolver-se. Na realidade todos os nascimentos humanos, como qualquer estudante de biologia sabe, poderiam considerar-se abortos de fetos viáveis. Esse é quiçá o acaso da selecção natural que resultou no maior trunfo da Humanidade, aquele que distingue o ser do Homem do ser dos demais animais, já que a selecção natural privilegiou os exemplares capazes de dar à luz fetos viáveis sensivelmente a meio do tempo de gestação «normal», fetos com poucas conexões neuronais estabelecidas mas a cujo nascimento uma maior percentagem de gestantes sobreviviam. E é um trunfo que a evolução proporcionou porque o desenvolvimento cerebral extra-uterino é muito mais rico em estímulos o que permite uma «programação» francamente mais diversa e flexível que a possível uterinamente. E boa parte dessa programação é efectuada durante os primeiros anos de vida, como os tristemente célebres casos de crianças selvagens indicam claramente. Um dos casos mais bem documentados, o da menina-lobo Kamala encontrada com 5 anos, mostra quão importantes são os estímulos externos no desenvolvimento de um ser humano e quão difícil é a reprogramação humana.

Assim, se considerarmos a História nacional em que até há pouco mais de 30 anos o condicionamento social era estrita e institucionalmente católico não é de espantar que muitos dogmas religiosos se tenham secularizado. Nomeadamente o dogma em relação ao aborto. Mas já é tempo de a sociedade portuguesa reconhecer pelo nome um dogma religioso e progredir para um estágio em que a laicidade preconizada na Constituição e a liberdade religiosa sejam um facto e não uma ficção.

Exactamente o que quero dizer com dogma secularizado é melhor ilustrado com um exemplo de outra sociedade com a qual não partilhamos todos os dogmas. Quando vivi nos Estados Unidos um dos meus amigos era um israelita ateu que se encontrava em San Diego a fazer doutoramento em música na UCSD. Não obstante ser ateu, o Avi recusava-se a comer carne de porco ou a ingerir refeições na qual constassem carne e leite como ingredientes simultãneos. Claro que no nosso círculo de amigos tal facto era alvo de comentários de espanto aos quais o Avi retorquia que não havia nada de religioso na sua recusa em comer alguns pitéus, simplesmente era-lhe repugnante sequer pensar em ingerir semelhantes barbaridades gastronómicas. Como co-habitante de uma casa com dois biólogos sabia que não havia algo de «impuro» no denegrido suíno nem alguma justificação lógica ou biológica para as suas idiossincrasias alimentares. Mas simplesmente fora programado na sua (mui tenra) infância em Israel a abominar as ditas «delicatessen», programação que o seu ateísmo ainda não fora capaz de ultrapassar. O Avi estava (e suponho que continua) refém de um dogma secularizado!

De forma a podermos reconhecer como dogma religioso a motivação dos chamados pró-vida (que não o são de facto) é didáctico analisar não só as origens como as inconsistências do dogma. Porque normalmente fomos expostos a este dogma específico numa fase de programação mais tardia e como tal é racionalmente ultrapassável se reconhecido como tal!

16 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Ovos da evolução

Um dos ossos de contenção dos criacionistas reside nos dinossauros, cujo nome significa «lagarto terrível» (do grego deinós, terrível) e assim denominados em 1841 pelo paleontólogo inglês Sir Richard Owen que os classificou como membros da família dos sáurios.

Hoje em dia a maioria dos cientistas acredita que alguns dinossauros são os antepassados das aves. Aliás embora reconhecidas muito mais tarde, as semelhanças entre aves e répteis tradicionais foram notadas por anatomistas desde muito cedo (século XVI) e entendidas à luz da evolução quando em 1860, pouco depois da publicação da «Origem das Espécies» de Darwin, foi encontrado por um trabalhador de uma pedreira alemã um fóssil de Archaeopteryx lithographica no calcário da formação Solnhofen (fim do Jurássico). Este fóssil, um exemplo de uma «forma transicional» entre dois grupos, répteis e pássaros, foi aceite durante muito tempo como o pássaro conhecido mais antigo, e é um elo importante entre pássaros e coelurosaurs (membros dos terópodes, um grupo que inclui o Tyrannosaurus Rex) e ajudou a construir a árvore da evolução ou filogenética do grupo.

Como nota de curiosidade o cientista Thomas Henry Huxley (um adepto tão militante da teoria da evolução que era conhecido como o Bulldog de Darwin), um dos que apontou as semelhanças entre as aves e os terópodes no século XIX, é o «pai» do termo agnóstico (para além de avô de Aldous Huxley, o autor do conhecido «Admirável Mundo Novo»).

O problema dos criacionistas puros e duros em relação aos dinossauros tem a ver com a linha de tempo que os fósseis destes estabelecem. Assim acredita-se que os dinossauros surgiram em meados do Triássico (cerca de 240 milhões de anos atrás) após uma extinção em massa, atravessaram o Jurássico e extinguiram-se (isto é, desapareceram os gigantes que popularizaram os dinossauros no léxico do nosso imaginário) no final do Cretáceo (há cerca de 65,5 milhões de anos). Para quem acredita que a Terra tem uns escassos 6 000 anos, os dinossauros são um osso demasiado grande para roer e as afirmações mais mirabolantes e cretinas são fabricadas por estes criacionistas para justificar a coexistência temporal do Homem e dos dinossauros e negar o suporte que os dinossauros e a sua história fóssil dão à teoria da evolução.

Os IDiotas, que admitem a microevolução ou evolução dentro de uma espécie, mas negam a macroevolução e que tentam, por todos os meios inclusive completamente desonestos, descartar todas as evidências científicas de macro-evolução, inclusive os fósseis transicionais entre espécies, especialmente os de dinossauros dado o fascínio que estes exercem na maioria de nós, têm agora mais um obstáculo na sua já impossível missão de venda do neo-criacionismo. De facto, há menos de um mês foram reportados os mais pequenos ovos de dinossauros encontrados que apresentam claramente uma mistura de características entre dinossauros e aves e que parecem provir de mais uma espécie transicional, uma espécie de pássaro-dinossauro minúsculo que viveu no ínicio do Cretáceo, há cerca de 100-145 milhões de anos, muito antes da já referida extinção dos dinossauros não alados no final do Cretáceo.

15 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Vitória contra o terrorismo

Numa notável operação a polícia holandesa desarticulou e prendeu um grupo de crentes que ansiavam por rios de mel e dezenas de virgens através da violência, do terrorismo e de assassinatos.

Os facínoras de Alá, habituados a exibir o traseiro em sentido contrário a Meca, queriam agradar a Deus lançando o pânico, a destruição e a morte.

A polícia, pouco dada à oração e indiferente ao destino da alma, apanhou os díscolos e enviou-os a tribunal.

Não foi apenas um bando de assassinos, comprometidos na morte de Theo van Gogh, que a polícia arrecadou, foi um grupo de crentes cuja fé está de acordo com o Corão, uma cáfila de beatos, uma associação de malfeitores que, por amor a Deus, odeiam a humanidade.

A fé é a fonte do terrorismo que urge vigiar. As três religiões do livro são o instrumento perturbador da paz, o alimento demencial de devotos para quem o crime é uma oração, rezada à bomba, e o sangue um sacrifício que oferecem ao divino.

As religiões não são a terapêutica de coisa nenhuma, são a doença de todas as coisas.

15 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Mais um prego no caixão dos criacionismos

Um dos argumentos dos criacionistas (e dos neo-criacionistas ou IDiotas) contra a evolução reside no que eles chamam a impossibilidade da abiogénese, ou seja, a formação da primeira molécula com capacidade de auto-replicação a partir de material não biológico. Na realidade a objecção é falaciosa uma vez que o evolucionismo é independente de qualquer hipótese abiogénica, ou seja, apenas explica a evolução das espécies a partir de ancestrais comuns sem propor qualquer teoria sobre como esses ancestrais surgiram.

Mas a abiogénese pode ser explicada, independentemente da teoria da evolução, apenas com base na química dos elementos, especialmente os constituintes dos compostos orgânicos, e na química destes compostos orgânicos, nomeadamente na sua capacidade de auto-organização (self-assembly) que consiste na formação (espontânea) de estruturas complexas a partir de componentes simples. Um exemplo de uma estrutura destas, que permite a realização de tarefas que os componentes isolados são incapazes de promover, é a membrana celular cuja formação é mimetizada facil e regularmente em laboratórios de todo o mundo.

A NASA revelou na quinta-feira que compostos orgânicos que desempenham um papel crucial na química da vida são bastante comuns no espaço. De acordo com um artigo científico publicado na revista Astrophysical Journal apresentando o trabalho da equipa liderada por Douglas Hudgins, do centro de investigação Ames da NASA, estes compostos são «prevalecentes através do Universo». Afirmação que é suportada pela investigação efectuada com recurso ao telescópio espacial Spitzer da NASA, que mostrou que «moléculas complexas orgânicas chamadas hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH’s) se encontram em cada canto e recanto da nossa galáxia»

Embora estes PAH’s de per se não sejam muito atractivos para os astrobiólogos, a descoberta de Hudgins que no espaço a maioria destes compostos incorpora azoto na sua estrutura alterou tudo. Porque, como relembrou um dos membros da equipa, «A clorofila, o composto que permite a fotossíntese em plantas, é um bom exemplo desta classe de compostos, chamados heterociclos policíclicos aromáticos de azoto (PANH’s). Ironicamente os PANHs são formados abundantemente em torno de estrelas moribundas. Assim, mesmo na morte, as sementes da vida são semeadas».

Não é muito difícil de prever que os criacionistas de todas as versões vão ignorar este novo dado experimental, mais uma evidência científica que deita por terra os mitos da criação cristãos!

15 de Outubro, 2005 Palmira Silva

As tácticas intimidatórias da Igreja da Cientologia

A Igreja da Cientologia ameaçou iniciar uma acção legal para ficar com a posse de um domínio de Internet que expõe o comportamento bizarro em prol da sua religião de um dos cientologistas mais famosos do mundo, Tom Cruise.

O dono do site ScienTOMogy ou a Paixão de Cruise recebeu de representantes da Cientologia dezenas de faxes e emails que ameaçam acções legais pedindo 100 000 dólares de indemnização se o nome do domínio em causa não for transferido. Este tipo de ameaças, conhecido em meios legais como cartas cease&desist (acaba e desiste) e quasi a imagem de marca de Cientologia, é muito criticado por grupos de defesa das liberdades cívicas e da liberdade de expressão, já que é usada por indíviduos ou corporações milionárias para intimidar ao silêncio oponentes menos prósperos financeiramente. De facto, a maioria dos receptores destas cartas obedece às exigências, mesmo injustificadas, nelas expressas para evitarem dispendiosos processos que não podem suportar financeiramente, mesmo quando estas exigências são tão disparatadas que a decisão judicial será necessariamente a favor dos ameaçados.

Esta táctica, muito habitual na Cientologia, de intimidação legal aos seus críticos, usada por exemplo para tentar silenciar o site Xenu.net que denuncia o modus operandi extorsionário e as imbecilidades extra-terrestres da Igreja, é no caso em apreço complementado com outras formas mais físicas de intimidação.

De facto, o dono do ScienTOMogy.info, um site baseado na Nova Zelândia que tem conhecido um invulgar afluxo de visitantes desde que a pretensão da Cientologia foi conhecida, tem sido perseguido pelos (muito poucos, cerca de 200 em toda a Nova Zelândia), cientologistas locais com visitas e (muitos) telefonemas indesejados.

É interessante notar como todas as religiões abominam os críticos e se devotam a tentar silenciar as vozes que denunciam as suas charlatanices. A característica comum a todas as religiões, independentemente do «produto» que vendem, é assim uma feroz oposição à liberdade de expressão. As diferenças entre elas residem apenas no poder de que dispõem para efectivar o seu ódio a um dos mais fundamentais direitos do Homem: enquanto as religiões maioritárias se refugiam em Sharia’s, leis da blasfémia e afins que o seu poder político faz aprovar, a Cientologia usa o poder financeiro conseguido pelo seu esquema mirabolante de sacar dinheiro aos mais incautos!

14 de Outubro, 2005 Ricardo Alves

Em defesa da República

As calúnias e falsidades sobre a 1ª República, originalmente inventadas pela propaganda católica e muito inculcadas durante as duas gerações de salazarismo, são hoje tomadas como verdades e repetidas dogmaticamente por muitos, inclusivamente por alguns não católicos.

A falsidade mais comum é a atribuição a Afonso Costa da frase «Em duas gerações Portugal terá eliminado completamente o catolicismo», que no entanto não terá sido por ele pronunciada, conforme provei num artigo anterior. Essa frase é geralmente citada em abono da tese de que a República «perseguiu» a ICAR. Convém notar, a este respeito, que a ICAR se diz perseguida sempre que se legisla num sentido divergente daquele que deseja. Por exemplo, aqui ao lado em Espanha e nos dias de hoje, a ICAR considera-se «perseguida» porque pessoas não católicas podem casar-se através de uma cerimónia não católica e eventualmente serem felizes de uma forma não católica porque homossexual. Em 1911, a ICAR sentiu-se igualmente «perseguida» por legislação que não a afectava directamente, como a lei do divórcio ou a lei da família.

Raramente aqueles que defendem a tese da «perseguição» à ICAR em 1910-26 são concretos quanto à substância dessa «perseguição». Uma das raras tentativas recentes que se encontra na blogo-esfera está num artigo do blogue Semíramis intitulado «5 de Outubro-As Origens». Aí, aponta-se o ter-se medido o crâneo aos jesuítas detidos como exemplo dos «extremos inverosímeis» da famosíssima «perseguição à Igreja Católica». Esconde-se que era esse o procedimento de rotina para todos os detidos, fossem quem fossem, e que nos dias de pólvora da revolução republicana se disparava e largavam bombas a partir dos conventos e contra a população republicana. Extremamente chocante é o total relativismo ético que a autora desse artigo evidencia quando afirma que o acto de medir o crâneo aos detidos jesuítas «não é diferente do que os “cientistas” nazis fizeram com os judeus», o que sugere que para conspurcar a República vale tudo, até comparar o assassinato de milhões de pessoas nas câmaras de gás e à bala com medições ao crâneo a algumas dezenas de jesuítas…

Deixando as congregações religiosas, afirma-se ainda no artigo referido e quanto à substância da «perseguição» à ICAR, que «O Estado passou, de facto, a administrar a Igreja, destruindo-lhe a hierarquia e privando-a de meios de subsistência». Há aqui uma falsidade óbvia, pois a Lei de Separação libertou o Estado da obrigação de «administrar» a dita Igreja, embora o Estado mantivesse a seu encargo a manutenção de muitos edifícios adstritos ao culto católico (o que ainda hoje acontece) e tivessem sido atribuídas pensões aos padres. No entanto, há uma parte de verdade: antes do 5 de Outubro, o clero católico português era um ramo do funcionalismo público e a ICAR era financiada pelo erário público, situação à qual a Lei de Separação veio pôr cobro (em parte!). Porém, não sei como se pode considerar que o Estado tem a obrigação de onerar os cidadãos com impostos a favor de estruturas eclesiásticas. As igrejas, na minha laica opinião, devem sustentar-se a si próprias. E em abono da verdade, diga-se que houve padres católicos que não apenas não consideraram a Lei de Separação como uma «perseguição» como a aceitaram na sua integridade.
Finalmente, seria útil deixar de contemplar a Lei de Separação exclusivamente a partir do ponto de vista dos interesses católicos: a outra religião activa em Portugal em 1910 não apenas saudou efusivamente a República que a vinha tirar da semi-clandestinidade, como considerou que a Lei de Separação ainda deixava a ICAR com muitos privilégios
14 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

O Sínodo da ICAR

No Vaticano continua aquela orgia mística, em que participam 256 bispos e cardeais de 118 países, chamada sínodo.

Em três semanas de reclusão, sob o olhar indiferente de um Cristo com ar de passador de droga, rodeados de santos com aspecto demente e da Virgem parida e insatisfeita, 256 celibatários debitam trivialidades e convencimento. Têm a clientela a preservar, um livro estúpido a defender e rituais obsoletos a manter.

B16, guardião da fé e almocreve da tradição, pede a quadratura do círculo para que a atracção do circo se mantenha e o recrutamento de vendedores da fé se dinamize. Vão maus os tempos para quem não se adapta ao mercado.

Aparecem outros charlatães, mais ousados e divertidos, com músicas novas a tomar o lugar do cantochão, a coreografia e o bailado a substituir o ritual romano, milagres em directo e ao domicílio e a expulsão de demónios às mãos cheias.

Após três semanas de albergue e castidade, relatórios e orações, a massajar a próstata em cadeirões, persignando-se para esconjurar o demo, as 256 criaturas certificam que «nas sagradas espécies Jesus Cristo está real e substancialmente presente».

É a transubstanciação, um fenómeno alquímico que com farinha e água recria o corpo e o sangue de Jesus. E os beatos, convictos da endrómina, engolem a hóstia receosos de trincar um tendão, mastigar uma cartilagem, romper uma artéria, ferrar um canino no escroto ou triturarem uma víscera do divino JC com os molares.

Por tão pouco, foi desperdício a viagem ao Vaticano.

Claro que é sempre possível às excelências reverendíssimas levar numerário, trazer relíquias, e transformar pós da Colômbia em substâncias aromáticas para abastecer o turíbulo e disfarçar a alergia ao banho.

13 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Prémio Nobel da Literatura

O prémio Nobel da literatura foi atribuído este ano a um professo e confesso ateu, Harold Pinter.

O Diário Ateísta aproveita o ensejo para recomendar a leitura da obra de Pinter, reconhecido internacionalmente como o dramaturgo mais complexo do pós-II Guerra Mundial, e, em conjunto com Samuel Beckett, um dos expoentes do teatro do absurdo.

Não obstante o anúncio por Pinter, um acérrimo crítico da guerra do Iraque, da sua decisão de abandonar a prosa em favor de um maior empenho em actividades políticas, aparentemente o «bichinho» da escrita não se alimenta apenas de poesia e Printer, para grande alegria dos fãs, nos quais se inclui esta vossa escriba, produziu um peça radiofónica transmitida pela BBC no seu 75º aniversário, na passada segunda-feira.

13 de Outubro, 2005 Ricardo Alves

Prisão por crime de blasfémia no Afeganistão

Mohaqiq Nasar, o chefe de redacção da revista afegã Hoqooq-i-Zan («Direitos das Mulheres») foi detido no dia 29 de Setembro sob a acusação de blasfémia. A detenção terá sido ordenada pelo conselheiro religioso do Presidente afegão (Hamid Karzai) e viola, aparentemente, as condições da lei de imprensa do Afeganistão.

O «crime» de Nasar consistiu em publicar, antes das eleições de 18 de Setembro, um artigo em que defendia alterações à lei penal do seu país, que pune a blasfémia com a morte, o adultério com o apedrejamento e o roubo com a mutilação das mãos (deve notar-se que a Constituição de 2004, redigida após a queda do regime talibã, exige a conformidade de todas as leis com a chária).

O caso está agora nas mãos do Tribunal Supremo do Afeganistão. Deve notar-se que este Tribunal é presidido por um clérigo fundamentalista que, em Agosto de 2003, condenou dois jornalistas à morte pelo crime de blasfémia.

(Fonte: boletim noticioso por correio electrónico da Rationalist International; a notícia do caso de 2003 pode ser lida aqui.)
12 de Outubro, 2005 Carlos Esperança

Todos os dias 13

Hoje, milhares de peregrinos regaram a fé e os ossos a caminho da Cova da Iria. O Deus pusilânime e mesquinho mandou a água que faltou nos incêndios, arruinou as culturas e secou as nascentes.

Muitos rosários e dores de pés acompanharam os devotos até ao lugar onde monsenhor Luciano Guerra aguarda o óbolo em géneros e numerário e um bispo ou cardeal prepara a missa e a bênção e aguarda a comissão.

Há 88 anos, em Maio, o Sol fez ali piruetas enquanto a Virgem, com cio, roída de saudades do Espírito Santo, saltitava de azinheira em azinheira à procura de um pastor faminto. Saíram-lhe três fedelhos embrutecidos pelo padre e pelos pais, cheios de fome e missas, a recordar-lhe as fraldas e o olhar reprovador do carpinteiro.

Apanhada naquele ermo com o manto de luz, e nada por baixo, mandou-lhes fazer o que sabiam, rezar o terço, pedir a conversão da Rússia e, para disfarçar, disse tonteiras: «é preciso consagrar o mundo ao meu imaculado coração», «a guerra vai acabar» e «Deus anda muito zangado», como se o mau humor fosse culpa das crianças.

Pobres peregrinos, levam preces e fé e apanham gripes e desenganos. Chegam cansados e regressam benzidos e mal pagos às fábricas falidas do vale do Ave e às pobres courelas de Entre Douro e Minho.

É assim todos os dias 13, mercados mensais da fé cuja feira anual tem lugar em Maio e é preparada com milhares de velas e rosas, centenas de padres e freiras, bispos, cardeais e outros parasitas da fé em retiro espiritual ou viagem de negócios, a prometer o Paraíso e a ameaçar com o Inferno.

Às vezes, de Roma, chega o Papa a abanar a tiara e a adejar os paramentos. É o delírio.