Sex and the Holy City – II
No programa da Panorama podemos assistir a um exemplo elucidativo sobre o modus operandis da Igreja no terceiro mundo, que, mesmo em países em que o catolicismo não é a religião maioritária, se infiltra através de grupos de ajuda supostamente humanitária e impõe a sua cultura de morte através destas instituições. O Quénia é esse exemplo, um país em que apenas cerca de 28% da população é católica, mas em que a Igreja católica praticamente controla a saúde e a educação. Quando o governo queniano declarou a SIDA como um emergência nacional e tentou adoptar o uso de preservativos como uma forma de controlar a epidemia, a Igreja católica local reagiu violentamente contra tal medida, levando um dos membros do Parlamento local a declarar a Igreja católica como «o maior obstáculo na luta contra o HIV/SIDA». De igual forma a minoritária mas poderosa e influente Igreja Católica opôs-se vigorosamente e boicotou um programa de educação sexual nas escolas, apesar de a ONU recomendar esta como uma das formas fulcrais para evitar a disseminação da SIDA.
No programa é entrevistado o Cardeal Maurice Otunga, o responsável máximo da ICAR local, que conduziu várias manifestações de fé e devoção cristãs, com o ponto alto na queima de preservativos e folhetos educativos sobre a SIDA. Dignitário que considera e afirma publicamente sem qualquer prurido de consciência, tal como Raphael Ndingi Mwana’a Nzeki, o arcebispo de Nairobi, que o uso de preservativos dissemina a SIDA. Otunga mantém, tal como o piedoso cardeal Alfonso Lopez Trujillo, responsável pelo Conselho Pontifical da Família, que o HIV é suficientemente pequeno para passar através dos preservativos (que têm… poros!). Reafirmando que «os preservativos podem mesmo ser uma das principais razões para a disseminação do HIV/SIDA», ecoando o que a conferência dos bispos da África do Sul, um dos países mais flagelados pela doença, tinha afirmado uns anos antes.
Por isso, e apesar de todo o corpo de conhecimento científico em contrário e as recomendações da organização Mundial de Saúde, sustentadas em factos médicos e não em preconceitos religiosos, a propaganda anti-preservativo da Igreja católica no Quénia atingiu proporções desastrosas e teve um sucesso mortal. Um inquérito levado a cabo pela Kenyan Media Institute indica que 54% dos quenianos não acreditam que os preservativos sejam eficientes a prevenir a infecção com o HIV e concordam que «os preservativos encorajam a imoralidade que por sua vez expõe as pessoas ao risco de contraírem o vírus».
No programa assistimos ainda a uma visita de uma freira católica à família de um homem queniano infectado com o HIV, que não usa preservativo porque, de acordo com os piedosos ensinamentos cristãos, reiterados na visita, «sabe» que o preservativo deixa passar o vírus…
Mentira deliberada que podemos ver propagada pela Igreja católica em todo o mundo, da Ásia à América latina, via os seus 100 000 hospitais e 200 000 agências de serviço social, mantidos com o dinheiro de todos nós! E insatisfeitos em «apenas» disseminar mentiras, proíbir o uso e informação sobre os preservativos (ou qualquer método contraceptivo) nas instituições católicas, a Igreja usa todos os mecanismos de pressão política de que dispõe para que tal seja geral, mesmo em ONG’s seculares. Em Lwak, perto do Lago Vitória, o director de um centro de combate à SIDA afirma que não pode distribuir preservativos devido à oposição da Igreja. Gordon Wambi afirma no programa: «Alguns padres têm dito que os preservativos estão contaminados com o vírus HIV»