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Guerras da evolução II

As guerras da evolução continuam acesas nos Estados Unidos. Nesta altura os olhos dos fundamentalistas cristãos estão focados na pequena cidade de Harrisburg, Pensilvânia, onde decorre desde 26 de Setembro mais um julgamento IDiota. Neste caso, contrariamente ao que se passou no Kansas, não é a evolução que está em julgamento mas sim a decisão unilateral do Conselho Escolar de Doverde introduzir o Desenho Inteligente nos curricula de ciência. Decisão que conta com a oposição dos professores locais de ciências que, como seria de esperar, consideram que a IDiotia não é ciência. Os queixosos, que incluem as associações laicas American Civil Liberties Union e Americans United for the Separation of Church and State, asseveram que a IDiotia é apenas um cavalo de Tróia que pretende de facto promover a religião e criacionismo cristãos nas escolas públicas de Dover, em clara violação da Constituição americana.

Até agora os testemunhos são demolidores para os fanáticos cristãos! Não só foi testemunhado que o Conselho escolar discutiu Deus, religião e criacionismo antes da alteração em Outubro de 2004 do curriculum de biologia que prevê o ensino da IDiotia como, tal como já tinha sido referido no Diário Ateísta, foi confirmado que o livro recomendado no novo curriculum, supostamente IDiota, «Of Pandas and People», é de facto originalmente um livro criacionista puro e duro em que o termo criacionismo foi substituido por IDiotia, em que Deus foi substituído pelo tal misterioso «designer» e foram cortadas as passagens bíblicas originais.

Deveras interessante foi o testemunho de John Haught, um professor de teologia na Universidade de Georgetown, chamado a depôr para esclarecer as diferenças filosóficas entre ciência e religião, já que a tarefa (impossível) do advogado de defesa do Conselho Escolar, Richard Thompson, é argumentar que a IDiotia é ciência e não religião. O testemunho foi completamente contraproducente para o efeito até porque algumas perguntas de Thompson foram autênticos tiros no pé. Nomeadamente o argumento de que Deus poderia ter feito o genoma dos homens e macacos parecer semelhante e, como tal, o conceito de que estamos relacionados por um ancestral comum é «mera conjectura»! Ou seja, a pergunta de Thompson estabeleceu claramente a diferença entre uma teoria genuinamente científica (fundamentada em factos) e uma explicação religiosa (essa sim mera conjectura sem qualquer suporte experimental).

Se a vida evoluiu segundo uma padrão hierárquico em que novas espécies derivam de espécies já existentes preservando variabilidade genética, então deveremos encontrar os mesmos padrões a nível genético em espécies próximas nesta hierarquia. Se o homem e o chimpazé partilham um ancestral comum devem apresentar genomas semelhantes, como apresentam de facto. Se recuarmos na cadeia ancestral (usando as árvores filogenéticas propostas por dados anatómicos, genéticos e fósseis) devemos encontrar genomas cada vez mais diferentes à medida que recuamos na árvore da evolução, uma vez que os genomas tiveram mais tempo para divergir e acumular diferenças. E é exactamente o que encontramos. A teoria da evolução é consistente com todos os dados disponíveis e é portanto falsificável. O ancestral comum para o homem e o macaco caíria por terra se a análise genética das espécies não o corroborasse. A IDiotia teria exactamente a mesma resposta se, por acaso, os genomas do homem e do chimpazé fossem radicalmente diferentes: os desígnios insondáveis de Deus«designer»! Desígnios que são «corroborados» por quaisquer dados e os seus opostos já que são insondáveis (aka não falsificáveis)… isto é, assentes em lucubrações/conjecturas teológicas e não em ciência, aliás são a antítese da ciência!

Para os nossos leitores que se questionarão sobre o tempo aparentemente inusitado que devotamos à IDiotia criacionista, considerada por muitos uma idiossincrasia norte-americana, recordamos que não só na velha Europa já foram tentadas manobras de introdução das IDiotias nos curricula de ciências como em Portugal, supostamente um estado laico, o criacionismo é parte integrante da anti-constitucional disciplina de Moral e Religião. Ou seja, os nossos jovens desde tenra idade são expostos e encorajados nas escolas públicas a pensamento anti-científico, acéfalo e acrítico. Apresentado como tal mesmo por alguns membros da hierarquia da Igreja Católica…É uma questão de interesse nacional que seja abolida esta disciplina das escolas públicas ou, pelo menos, que seja garantido que os nossos jovens não são contaminados com criacionismos apresentados como «verdades absolutas», que dificultam e muitas impedem o desenvolvimento da tão necessária capacidade de raciocínio lógico, crítico e científico!

A ser discutido o criacionismo cristão em salas de aulas públicas que o seja em conjunto com outros mitos da Criação nas disciplinas apropriadas: História ou Filosofia. Assim os nossos jovens aperceber-se-ão claramente da diferença entre realidade factual e ficção mitológica!

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