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Teorias criminais

Um dos pioneiros do teoconservadorismo e da introdução da religião no debate político nos Estados Unidos é o republicano católico devoto William J. Bennett, uma dos mais destacados cruzados nas guerras culturais que assolam os Estados Unidos. Bennett defende a moral e bons costumes cristãos afincadamente na cena política norte-americana há mais de 20 anos, primeiro na qualidade de presidente da National Endowment for the Humanities, sob Ronald Reagan, na qual preleccionou exaustivamente contra a permissividade académica. Promovido depois a ministro da Educação foi um crítico acerbo do ensino público e do multiculturalismo subjacente, defendendo um ensino centrado nos «valores» ocidentais e na religião cristã. Quiçá por isso tenha fundado a empresa K12, devotada a ajudar pais avessos à ideia de os seus filhos frequentarem imorais escolas públicas. Empresa que teve em 2004 um financiamento estatal de 4.1 milhões de dólares…

Mas foi como o Czar das drogas de Bush pai que se destacou, nomeadamente com afirmações tais como a decapitação de traficantes de droga é «moralmente plausível».

Depois da sua saída da vida política activa o devoto Bennett escreveu «O livro das virtudes», um compêndio de parábolas utilizado por milhões de pais e professores como a última palavra em questões morais. Escreveu também «A morte da indignação» onde lamenta que o público americano não tenha condenado os «pecados» de Bill Clinton mais acesamente. Aliás, Bennett considera que os Democratas são intrinsecamente menos morais que os conservadores e menos vocacionados a denunciarem os pecados que «destroem» a família. Pena é que Bennett se tenha esquecido da justiça e respeito pelos outros na sua enumeração das virtudes a seguir e, de entre os vícios que destroem as famílias, condenar o vício do jogo, que nos Estados Unidos atinge proporções e tem os efeitos do mui combatido vício das drogas. Quiçá porque a justiça não faz parte do dicionário dos teoconservadores e porque Bennett, o grande paladino dos valores morais, dotado de um sentimento de superioridade moral tão exarcerbado que lhe permite debitar dislates inconcebíveis é (ou foi, como afirma depois de os seus hábitos terem sido descobertos) ele próprio um viciado em jogo, cliente VIP de uma série de casinos em Las Vegas e Atlantic City.

O último dislate deste tão devoto católico levantou ondas de indignação e repúdio de todos os sectores nos Estados Unidos, incluindo a Casa Branca cujo porta-voz, Scott McClellan, esclareceu que o Presidente considera as palavras pronunciadas por Nennet aos microfones do seu programa nacional, «Manhã na América», ouvido por milhões de americanos, «inapropriadas».

Qual foi então o dislate debitado por este paladino da moral e bons costumes cristãos que tanto indignou a esmagadora maioria dos americanos? Simplesmente uma congeminação despoletada por uma chamada de um ouvinte que equaciona a raça como única variável na (elevada) taxa de criminalidade nos Estados Unidos:

«Poder-se-ia abortar todos os bébés negros neste país e a taxa de crime diminuiria. Essa seria uma coisa impossível, rídicula e moralmente repreensível de fazer mas a taxa de crime diminuiria».

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