Lavagem de dinheiro
Aparentemente no México até os traficantes de droga são devotos católicos que acreditam em dedicar parte dos respectivos proventos à «santa» Igreja. E para os piedosos eclesiásticos mexicanos dinheiro é dinheiro, sendo irrelevante se provem de narcotráfico ou outra qualquer actividade criminosa. Essa é pelo menos a opinião do Bispo Ramon Godinez que afirmou na segunda-feira que o dinheiro pode ser sujo inicialmente mas «transforma-se» mal entra na Igreja. Informando ainda que são habituais doações à Igreja ligadas a tráfico de drogas e que não é responsabilidade da Igreja averiguar a sua origem.
Claro que o governo mexicano reagiu de imediato às considerações do Bispo e no dia seguinte o porta-voz do governo, Ruben Aguilar, avisou que «Nunca, sob nenhuma condição, alguém pode receber dinheiro ilegal. Ninguém pode ajudar desta forma a lavar dinheiro e ninguém pode ser a favor de o crime organizado actuar com impunidade».
Godinez reagiu às declarações governamentais ripostando que «Se eles têm dinheiro têm de gastá-lo; não percebo porque se fez um tal escândalo disto. Se um traficante de droga dá dinheiro à Igreja, nós não vamos investigar se ele é um traficante ou não. Deixem-me explicar: nós vivemos disto, de ofertas dos fiéis. E não vamos investigar onde eles foram buscar o dinheiro».
O curioso de mais este «pequeno» apontamento de uma Igreja para a qual os fins justificam os meios, e não há fim mais louvável que dinheiro para a Igreja, não importa como foi obtido, «imoralmente», como no caso das Filipinas ou ilegalmente neste, é o facto de ele vir a lume depois de um lamento de Ratzinger, aka Bento XVI. Que se lamentou num encontro no Vaticano com Bispos mexicanos …da corrupção, tráfico de drogas e crime organizado que grassam no México. Que segundo o Papa «levam a várias formas de violência, indiferença e menosprezo para o valor inviolável da vida». Como para o Vaticano apenas a vida não nascida (e os doentes terminais) tem valor inviolável fiquei na dúvida se o governo de Fox pretende legislar sobre a interrupção voluntária da gravidez, proibida em qualquer circunstância no México.
Mas de qualquer forma acho interessante o relativismo moral denotado por todo o episódio, especialmente se considerarmos que o Vaticano culpa o relativismo ateu, que não reconhece as «verdades absolutas» da santa Igreja, por todos os males, e mais alguns, que assolam a humanidade!