Religião e política
De todo o mundo nos chegam exemplos da mistura explosiva, por vezes sangrenta, que resulta da imiscuição da religião na política. No entanto, também em todo o mundo, assistimos a um eclodir de movimentos fundamentalistas de religiões sortidas que, como requisito de todos os fundamentalismos caracterizados pela sua oposição visceral à laicidade do estado, querem subordinar a esfera pública aos seus ditames anacrónicos. Fundamentalismo a que a Igreja Católica, como há muito denunciamos no Diário Ateísta, não está imune, muito pelo contrário, como indicam claramente os recentes desenvolvimentos da eleição de Ratzinger. Desenvolvimentos em que se incluem, por exemplo, o apontar da laicidade como «inimigo da liberdade», a reconciliação, que também previmos, com o integrismo católico de Marcel Lefebvre e a escalada de negação do concílio Vaticano II.
Um dos últimos exemplos das tentativas de controle da política por grupos religiosos (ultra)fundamentalistas chega-nos da Nova Zelândia onde um secto cristão, a Irmandade Exclusiva (Exclusive Brethen), que no ano passado gastou mais de meio milhão de dólares em anúncios de jornais apoiando a reeleição de G. W. Bush, se empenha em fazer chegar o Partido Nacional ao governo neo-zelandês através de outra campanha milionária dirigida contra o Partido Trabalhista e os Verdes, um provável parceiro de coligação com os primeiros. Campanha em defesa dos «valores morais» cristãos (que incluem denegrir quem não os defende, claro) e com as já habituais acusações de destruição da família «tradicional». Um dos luxuosos panfletos distribuídos pessoalmente pelos membros da seita afirma mesmo que a agenda política dos trabalhistas e verdes pretende a «abominação» de «ver homens em vestidos e travestis nas casas de banho de mulheres».
Esperemos que a campanha difamatória da seita cristã tenha um efeito contraproducente nas eleições de 17 de Setembro, que as últimas projecções indicam estarem empatadas entre o Partido Nacional e os trabalhistas (com cerca de 40% cada). Num país em que no Census de 2001 26% da população se declarou ateísta e 17,2% simplesmente não indicou religião, uma campanha com estes contornos não terá certamente o sucesso da sua congénere nos Estados Unidos!