O mais famoso espião duplo americano, Robert P. Hanssen, o agente do FBI preso em 2001, foi condenado um ano depois a prisão perpétua sem hipótese de perdão, sem nunca explicar o que o motivou a trair o seu país.
O que intrigou o público americano, que não conseguia perceber quais as razões que levariam o devoto católico, membro da Opus Dei e fervoroso anti-comunista Hanssen a trair o seu país vendendo segredos à União Soviética durante mais de 15 anos. Especialmente porque o espião, contraproducentemente, afirmou quando foi preso que traiu o seu país por lealdade.
Esta afirmação suscitou uma série de teorias sobre a que lealdade se referiria Hanssen, sendo lealdade à Opus Dei uma resposta frequente.
Outra teoria apenas atribui indirectamente à sua filiação na Opus Dei a razão da traição ao seu país. Uma teoria que explica o sucedido porque, embora traindo o seu país, Hanssen consideraria justificados os seus actos uma vez que o dinheiro recebido dos russos foi usado para mandar os seus 6 filhos para escolas, muito caras, da Opus Dei. Os seus filhos eram bons alunos e ele esperava que no futuro, fruto da boa educação proporcionada, pudessem fazer parte de uma guerra santa que faria dos Estados Unidos um país «melhor», dedicado a Deus e em que fossem banidas abominações como o aborto, divórcio, contracepção e outros males que ele e a Opus Dei execravam.
Luminita Solcan, a romena que assassinou o irmão Roger Shultz, o fundador da comunidade ecuménica Taizé, sofria de ilusões paranóicas relacionadas com a religião e tinha como ambição ser freira.
A romena, que tinha tentado infrutiferamente ser admitida em vários conventos e que tentava admissão na comunidade Taizé, contou à polícia que se dirigiu ao irmão Roger para o avisar da existência de «maçons e monges perversos» na sua comunidade. Confirma ter-lhe apontado uma faca mas nega o esfaqueamento que o vitimou.
O funeral do irmão Roger realiza-se hoje em Taizé. De acordo com os seus desejos será um funeral seguindo os ritos católicos e não os da sua confissão protestante.
Amanhã será possível adquirir em DVD o fantástico documentário «The God Who Wasn’t There», de Brian Flemming, em que o ex-cristão renascido explica, baseado em dados históricos, que Jesus nunca existiu e é apenas uma figura mitológica. O realizador permite ainda que quem adquira o DVD o divulgue livremente, retendo eventuais lucros que o visionamento gere.
Com David Byrne na banda sonora e a colaboração de Richard Dawkins, do historiador Richard Carrier, de Robert M. Price e Sam Harris é certamente um documentário a não perder!
Como explicou Flemming quando inquirido porque razão devotou o filme a refutar a existência de Jesus e não a sua «divindade», «a ideia de que um indíviduo pode ser o filho de um deus é de si tão ridícula que não precisa ser desmascarada». Mas é necessário explicar que o suposto fundador da seita cristã é apenas uma figura mitológica, cuja existência só aparece nas Escrituras e nas piedosas interpolações cristãs de textos de, por exemplo, Tácito e Josephus!
Claro que, como tão sabiamente afirmou Pio XII em 1955, no Congresso de História em Roma: «Para os cristãos, o problema da existência de Jesus Cristo concerne à fé e não à História».
«justa bella ulciscuntur injurias» (Guerras justas vingam injúrias) Agostinho de Hipona
Muito se tem escrito nos últimos tempos sobre «guerras justas». Poucos saberão, porém, que a doutrina do bellum justum, da guerra justa, se fundamenta nas lucubrações sobre o assunto dos dois teólogos mais celebrados pelo anterior e actual Papas, os sempre inescapáveis Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino. O termo, que desenvolve um conceito introduzido por Cícero, foi cunhado por Agostinho que qualifica como «guerra justa» aquela que obedece a um desígnio divino assim como justa é também a guerra que vinga injúrias ou pretende a restituição do que fora indevidamente tomado, embora recomendando que, mesmo justas, o homem sábio as encare com contrição e dor!
Assim, Agostinho admite que as guerras poderiam ser empreendidas pela vontade de Deus, para combater o «pecado», além de constituirem um privilégio dos governantes, como escreve no seu Contra Faustum (XXII, 75): «A ordem natural, que quer a paz entre os homens, exige que o poder de fazer a guerra seja reservado à autoridade pública». Tudo, claro, não deixando também de afirmar a prioridade ontológica da paz sobre a guerra, já que até Agostinho a doutrina cristã era eminentemente pacifista. Aliás um dos pontos de dissenção de Roma, com uma tradição de tolerância em relação a todas as religiões, residia exactamente na recusa dos primeiros cristãos em pegar em armas. Mas no tempo de Agostinho já o Império Romano era cristão e o seu Imperador um «legítimo» representante de Deus na terra que precisava urgentemente de mão de obra para os seus exércitos. Agostinho torneou a doutrina cristã existente para justificar as «guerras justas» que o seu Imperador católico precisava travar. A sua teologia bélica é apresentada essencialmente em «A Cidade de Deus» e no «Contra Faustum manichaeum».
O conceito da «guerra justa» foi refinado uns séculos depois por Tomás de Aquino, que refuta os argumentos contra as guerras, justas, claro, na sua Summa Theologica. Na Suma (II-II, 40, 1) indicam-se e explicam-se as três situações que legitimariam uma guerra: a autoridade do «príncipe», a justa causa e a intenção recta dos beligerantes.
Assim, a interpretação hoje em dia denominada de escotista ou franciscana, o estrito cumprimento do mandamento «não matarás», desde muito cedo que desapareceu do cristianismo. A corrente tomista sobre o tema, na qual se incluiu Agostinho, que dominou e domina a teologia da ICAR, especialmente desde o concílio de Trento, nos seus pressupostos metodológicos, afirma que Deus somente proibia a morte «injusta» de alguém, interpretando o mandamento como: «não matarás os inocentes». Assim é lícita a pena de morte, pois o direito à vida não é absoluto e existem muitas excepções. Como reiterado pelo finado Papa na Evangelium Vitae onde se pode ler, no meio de uma imensidão de platitudes e condenação do aborto, eutanásia e contracepção, que «a vida é sempre um bem» que «não se reduz à mera existência no tempo» já que «o homem que vive é glória de Deus», porém «a vida do homem consiste na visão de Deus» e assim «a vida na sua condição terrena não é um valor absoluto». O ponto 57 da maçadora encíclica resume a posição da ICAR sobre a inviolabilidade da vida humana: apenas condena «a eliminação directa de um ser humano inocente». Ou seja, o grande defensor de espermatozóides e óvulos dá o seu aval à eliminação directa de «culpados» e a «mortes colaterais», certamente das «guerras justas» aprovadas com o catecismo de 1997.
Bento XVI lançou um apelo aos jovens ontem um Colónia para que estes voltem às bases do cristianismo, rejeitem o secularismo e aquilo a que chamou «religião faça você mesmo». Pretendendo com esta observação que os católicos não podem escolher quais das «santas e infalíveis» emanações da Santa Sé devem seguir e quais devem rejeitar. Condenou ainda os movimentos inspirados nas religiões orientais e os nascidos das igrejas católica e protestante.
Na realidade Bento XVI denota simplesmente que é de facto (e sempre será) Joseph Ratzinger e que não há qualquer inspiração do Espírito Santo ou quejandos a ditar as suas acções e palavras, incluindo as infalíveis ex-cathedra, como muitos devotos católicos críticos de Ratzinger tentaram suavizar o choque da sua eleição. Bento XVI é Ratzinger com toda a carga que tal acarreta.
O autor de Dominus Iesus (aprovada de forma especial por João Paulo II), que considera que a mensagem de Cristo apenas «subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele», já anteriormente tinha criticado o fascínio que as religiões orientais exercem sobre os europeus. «Se o Budismo é atractivo é apenas porque sugere que sendo budista se pode tocar o infinito, se pode ter felicidade sem obrigações religiosas concretas. É erotismo espiritual» afirmou em 1997. Ratzinger criticou igualmente o hinduismo que, segundo ele, oferece «falsa esperança» garantindo purificação com base no conceito «moralmente cruel» de reincarnação, que parece «um ciclo contínuo de Inferno». Na altura, Ratzinger avisou que o Budismo substituíria o marxismo como o principal inimigo da Igreja Católica.
E para prevenir sincretismos perigosos para a ICAR ordenou que o frade beneditino Willigis Jäger, também um mestre Zen conhecido por Ko-un Roshi, cessasse todas as suas actividades públicas, incluindo palestras, cursos e publicações. A acção de Ratzinger contra o frade foi confirmada em 2002 pelo abade de Münsterschwarzach Abbey, em Würzburg, Nokter Wolf, ao National Catholic Reporter.
A preocupação de Ratzinger com as famigeradas religiões orientais já era evidente em 1989, nomeadamente na forma de um dos múltiplos documentos emanados da ex-Inquisição, «Alguns aspectos da meditação cristã», em que adverte para os malefícios da adaptação de formas de meditação inspiradas nessas religiões, esclarecendo numa nota de rodapé que os métodos errados de meditação para um cristão são a meditação Zen, a meditação transcendental e o yoga.
Ou seja, ontem Bento XVI demonstrou que continua igual a Ratzinger, pelo menos no que se refere às religiões orientais e à única exegese «verdadeira» da Bíblia, a de Roma, claro. Não é de esperar que o novo papa divirja do ex-inquisidor mor no que se refere à sacralidade de uma célula estaminal adulta, à legitimidade de se limitar os direitos dos homossexuais, inerentemente predispostos a «um mal moral intrínseco», a remeter as mulheres a «seguirem os papéis previstos pela sua biologia», isto é a serem glorificados úteros, predestinadas «divinamente» a serem dominadas pelos homens, à condenação do uso profiláctico do preservativo no combate à disseminação do HIV, (que considerou inadmissível mesmo recorrendo ao princípio clássico católico do «mal menor»), enfim, que divirja uma vírgula do que debitou profusamente sobre as «verdades absolutas» do catolicismo enquanto Ratzinger!
Basta recordarmos que uma das primeiras acções de Ratzinger como Bento XVI foi forçar a demissão do editor do periódico jesuíta «America», o padre Thomas Reese, com quem tinha um historial de discórdia como Ratzinger, por publicar artigos discutindo o uso profiláctico do preservativo, a ordenação de padres (publicamente) homossexuais, a posição dos católicos pró-escolha na ICAR, o secretismo nas medidas de disciplina na Igreja e outros assuntos que Ratzinger não queria discutidos.
O Times de sábado tem um artigo que recomendo vivamente, do jornalista e escritor Simon Worrall, baseado na investigação para o seu próximo livro sobre os «Pais Peregrinos», os fanáticos fundamentalistas cristãos que embarcaram no Mayflower por verem fustradas as suas tentativas de transformar a Inglaterra numa teocracia governada estritamente pela lei cristã, a interpretação literal das Escrituras.
Particularmente interessante é a história de William Brewster, o líder do grupo que foi o primeiro governador da Nova Inglaterra. Brewster, um político caído em desgraça quando o seu mentor Sir William Davison, o secretário da rainha Elisabeth que assinou a sentença de morte de Mary, rainha dos escoceses, foi preso após a decapitação de Mary.
Falido e com a sua carreira política terminada Brewster regressou à sua terra natal, Scrooby, onde «encontrou» Deus e se dedicou a criar uma «Nova Ordem» baseada nas Escrituras e, claro, com Brewster como líder! Assim estabeleceu os Separatistas, um pequeno grupo que se encontrava em segredo pelas aldeias em redor de Scrooby, e que foi o núcleo dos peregrinos que depois fundaram uma colónia do outro lado do Atlântico.
Na sua teocracia fundamentalista os bares seriam fechados, a dança e o jogo seriam banidos e vestuário sóbrio seria mandatório para homens e mulheres, especialmente para estas, que seriam obrigados a envergar o equivalente da burka, sem um milímetro de pele tentadora à mostra. E, claro, a Bíblia alicerçaria toda a sociedade civil.
O que fizeram mais tarde nas colónias, depois de perseguidos em Inglaterra e de uma passagem por Amesterdão, em que Brewster e restantes fanáticos fundamentalistas introduziram leis que tornavam ilegal viver-se sózinho, permitiam a execução de crianças que não obedeciam aos pais, enfim, um «paraíso» bíblico! Vale a pena ler todo o artigo!
Em Colónia, na Alemanha, anda à solta o pastor alemão que um bando de cardeais, com a cumplicidade do Espírito Santo e do Opus Dei, fez ditador vitalício da única teocracia europeia.
Cobre-o, até aos tornozelos, um alvo vestido, de fino tecido e delicado corte, que realça os sapatinhos vermelhos do animador do circo que levou a Colónia centenas de milhares de jovens para promoção dos interesses da Cúria Romana. Pende-lhe do pescoço a trela que termina em refulgente cruz, riquíssimo adorno do traje feminino.
A brancura do vestido, a condizer com o cabelo, destoa do modelo que o exibe.
Para este espectáculo, que não é cultural nem recomendável, foi pedido um patrocínio à presidência da Comissão Europeia. Não sei se o precedente foi aberto, para que bandas musicais, circos ambulantes e companhias de teatro venham a conseguir apoio.
B16 não tem o arrojo de JP2. Sente-se mal como charlatão de feira. Prefere organizar as pantominas no ar condicionado do Vaticano. Não verga a coluna para oscular o chão, uma espécie de felação de quem julga que Deus está em toda a parte e a Terra é a braguilha da humanidade.
Cumpre os rituais do múnus com a alegria do boi que caminha para o açougue, qual Cristo da mitologia católica a caminho do gólgota.
O barulho encomendado aos jovens há-de azucrinar-lhe os ouvidos, as lambidelas da mão hão-de causar-lhe nojo, as missas que repete há mais de meio século cansam-no e mantém aquele impenetrável rosto enquanto distribui água benta, benzeduras e hóstias consagradas, ad majorem Dei gloriem.
Vai ser uma semana infernal para o vigário de Cristo, um odioso trabalho de campo para um homem de gabinete, repetir até à náusea gestos, palavras, esgares, até ao desfazer da feira, enquanto a boa imprensa entoa hossanas ao impostor que se diz agente do divino.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.