Ratzinger abre-se à extrema direita
Joseph Ratzinger estará disposto a reintegrar na ICAR a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), uma seita integrista que reune dissidentes de extrema direita da ICAR e que foi fundada por Marcel Lefebvre. Um primeiro sinal será dado na próxima segunda-feira em Castelgandolfo, quando o líder actual da FSSPX, Bernard Fellay, for recebido pelo Papa da ICAR (a notícia em Português; a notícia em Inglês). Em cima da mesa estará a reconciliação da ICAR com estes «católicos tradicionalistas», que colocam como condições para a reunificação a revogação da excomunhão de Lefebvre e dos seus bispos e o poderem celebrar a missa latina sem autorização escrita.
Recorde-se que a FSSPX se separou da ICAR em 1988, na sequência da nomeação, por Marcel Lefebvre, de quatro bispos que foram considerados «cismáticos» por carecerem da autorização de JP2 e que foram portanto excomungados em conjunto com Lefebvre. À época, Joseph Ratzinger serviu como mediador e tentou evitar a ruptura dos tradicionalistas com a ICAR. Lefebvre fundara a FSSPX em 1970 com outros padres fundamentalistas desgostados com o Concílio Vaticano 2, cujas conclusões rejeitavam, e que mantiveram a «missa tridentina» (em latim). A FSSPX tem conexões com sectores fascistas em vários países: em Portugal, alguns dos seus membros estiveram ligados à fundação do PNR, enquanto em França estão ligados à Frente Nacional de Le Pen, tendo sido num convento de Nice pertencente à FSSPX que foi detido, em 1989, o criminoso de guerra Paul Touvier. Lefebvre, ele próprio, lançou um livro na sede do partido (franquista) de Blas Piñar e apelou ao voto em Le Pen em 1985. A FSSPX contará, hoje, com sete seminários e quase 500 padres em cerca de 40 países.
Conforme se pode ler no último boletim da FSSPX, os seguidores de Lefebvre encaram B16 com uma expectativa positiva, devido à desconfiança deste pelo diálogo inter-religioso (afirmam que terá apresentado a sua demissão a JP2 aquando do primeiro encontro de Assis) e devido ao facto de a sua eleição ter sido feita contra os «progressistas» (aliás, o boletim da FSSPX é muito rico em detalhes sobre o conclave, pois fornece informações inéditas sobre o número de votos que Ratzinger terá tido desde o início -cerca de 50- e sobre a desistência do bispo de Buenos Aires, Bergoglio, após a segunda volta).
Os herdeiros de Lefebvre suspeitam que Ratzinger quer utilizá-los, dentro da ICAR, como contrapeso aos católicos «progressistas», o que permitiria a B16 aparecer como um moderado. Eu penso que estão a fazer uma leitura correcta.