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Contradições

Uma resposta a um procedimento legal do novo guardião da pureza da fé, que substituiu Ratzinger quando este foi elevado ao trono máximo do Vaticano, em 1994 o Arcebispo de Portland, William Levada, está a chocar os devotos católicos americanos.

Em 1994 Stephanie Collopy, que teve uma relação com o então seminarista hoje padre Arturo Uribe, interpôs um processo contra a arquidiocese pretendendo que esta pagasse uma pensão de alimentos para o fruto dessa relação. A arquidiocese contrapôs como razão para não ter de o fazer que Stephanie praticou «relações sexuais desprotegidas – quando (ela) deveria saber que tal poderia resultar em gravidez». Ou seja, a «culpa» da gravidez foi de Stephanie, que deveria ter usado um qualquer método anti contraceptivo, incluindo o tão famigerado preservativo, na sua relação com o futuro padre.

Na altura a história e resposta da arquidiocese mereceram pouca atenção dos media mas tal não aconteceu, certamente devido à nova posicão de Levada como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, quando no mês passado Stephanie voltou à barra do tribunal pretendendo mais apoio financeiro para o seu filho, que sofre de problemas crónicos de saúde. Um artigo na Times detalhou a resposta da arquidiocese, dirigida então pelo agora inquisidor mor Levada.

As reacções de choque por parte dos devotos católicos americanos não se fizeram esperar. Não apenas porque, na boa tradição católica, toda a culpa da gravidez foi assacada a Stephanie, a Eva que tentou o pobre seminarista, mas especialmente porque a argumentação da arquidiocese vai contra tudo o que é debitado pela santa Igreja de Roma, que condena vigorosamente qualquer forma de contracepção não «natural».

E de facto é chocante que uma Igreja que organiza queimas massivas de preservativos em países africanos massacrados pelo flagelo da SIDA, que nem sequer sanciona o uso de preservativos no caso de um casal em que um dos membros está infectado pelo HIV, tenha tentado escapar ao legítimo pagamento de uma pensão de alimentos a uma criança gerada por um dos seus membros com o pretexto de que a mãe deveria ter recorrido a um qualquer método para prevenir a gravidez.

É caso para dizer que as emanações doutrinárias de Roma só são para aplicar quando tal não mexe no bolso da Igreja e que acima de quaisquer considerações «morais» (tal como definidas pela santa Igreja) estão considerações monetárias.

Bem prega Frei Tomás…

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