Ser beato ou não ser
De acordo com uma fonte da Santa Sé, foi constituída uma comissão no Vaticano «para reexaminar o dossiê do padre Dehon».
O padre Léon Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, que conta com mais de 3000 adeptos por todo o mundo, devia ter sido beatificado no passado dia 24 de Abril, mas a morte de João Paulo II obrigou ao cancelamento da cerimónia.
Agora, a comissão deverá analisar as acusações de anti-semitismo que surgiram algumas semanas antes da beatificação. Por exemplo, numa conferência, em 1897, o padre declarou: «os judeus são um perigo para a religião, para a propriedade e a liberdade, para a pátria (..). Eles são cosmopolitas e não podem nunca ser sinceramente patriotas». No seu catecismo social (1898), afirma que os «povos cristãos» são «invadidos e dominados» pela «influência judia».
As afirmações anti-semitas completam-se com uma análise da franco-maçonaria, que até teve direito a um livro: «Le Plan des Francs-maçons en Italie et en France», cuja intenção é a denúncia de uma pretensa conspiração daquela organização que, de acordo com Dehon, era uma «daquelas sociedades secretas ao serviço de Satã que têm como objectivo, mais ou menos velado, a destruição da Igreja fundada pelo nosso divino redentor».
Esta polémica junta-se agora com a questão da beatificação de Pio XII, que se manteve ensurdecedoramente calado aquando da exterminação dos judeus pelos nazis.