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Código Da Vinci

Finalmente li.

Antes de ler, sabia algumas coisas sobre esse livro: que a ICAR o tinha colocado no «índex» (muito auspicioso, tendo em conta a enorme quantidade de obras literárias de referência que lá foi parar…); que o Umberto Eco o tinha classificado como «lixo literário» (mau prenúncio, visto que tenho uma ideia muito positiva a respeito de Umberto Eco); que era um gigantesco sucesso de vendas (embora ainda longe de superar o verdadeiro best seller – a Bíblia); e que alguns amigos mo aconselharam com vivacidade.
Sabia também que o livro deveria ser lido com um olhar crítico, pois muitos dos factos «históricos» mencionados não são necessariamente verídicos.

E lendo concluí o seguinte:

a) Não é propriamente um «marco incontornável da literatura universal»

b) Também não me parece «lixo literário» – ainda para mais tendo em conta que eu até já li um livro de Paulo Coelho e de Margarida Rebelo Pinto

c) Lê-se com prazer e facilidade

d) Recomendo a quem tiver curiosidade e tempo livre

e) Recomendo cepticismo na leitura. Convém ir procurar algumas críticas que foram feitas ao livro, para não se ficar com uma ideia distorcida de alguns factos históricos.

E sobre o ateísmo?
O livro está muito longe de ser uma perspectiva ateia sobre o mundo que nos rodeia. O autor afirma-se cristão, mas, pela leitura do livro, dá a impressão de ser alguém que aprecia o esoterismo e o misticismo «new-age». O livro não contém qualquer espécie de ataque ao racionalismo ou às posições racionalistas, mas ficamos com a impressão que não estamos propriamente perante um paladino da frieza do empirismo e da lógica cartesiana…

Quanto a ataques à Igreja Católica… quase nada. E aí reside em grande parte a força da sua ameaça para a ICAR.
O livro apresenta uma perspectiva do cristianismo muito diferente daquela que decorre dos dogmas da ICAR, mas, apesar de uma crítica ou outra que qualquer pessoa razoável considerará pertinente (a dominância masculina da condução dos destinos da ICAR, por exemplo), no geral, evita em absoluto demonizar a ICAR. Pelo contrário: os personagens da ICAR são retratados como pessoas de Fé, de valores, dispostas a sacrificar-se por aquilo que acreditam, dispostas a seguirem o que consideram ser o bem; dispostas a compreenderem os seus erros e a arrependerem-se sinceramente por estes.
Com esta postura de compreensão face à ICAR, é muito mais difícil que o leitor católico demonize o livro. E se o leitor não rejeita o livro com nojo e repulsa, pode encarar as perspectivas do livro… e questionar a forma como encara a Fé.
E é o que tem acontecido: jovens nas igrejas, nos seminários, nos confessionários, na catequese, foram relatando aos sacerdotes e professores as suas dúvidas e angústias.

E a reacção foi a que conhecemos: um ódio profundo ao livro. Acusa-se o livro de falta de respeito, acusa-se o livro de «atacar a igreja», acusa-se o livro de «enganar as pessoas», acusa-se o livro de ser uma ferramenta do Diabo. Procurem. Vão encontrar todas estas acusações e muitas outras mais que nem consigo começar a imaginar. E quando lerem o livro e virem os «ataques» à ICAR, vão provavelmente desatar-se a rir.
«Aquilo» é um ataque? Quer dizer que um crente não pode sequer conceber essas possibilidades? Não pode sequer ser sujeito àquelas dúvidas? Não pode sequer pôr isto ou aquilo em questão?

Quando a ICAR proibiu aos seus fiéis a leitura do «Código da Vinci» eu entendi isso como um sintoma de que não evoluíram tanto quanto deviam com os tempos, no sentido de conviver com a liberdade de pensamento. Agora que li o livro entendo que nem sequer «sabia da missa a metade».

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