Notícias d´álem-mar
De comentarista e grande admiradora deste Diário, passo agora a fazer parte de sua equipe. Como brasileira, pretendo contribuir trazendo informações, críticas e avaliações sobre o que se passa nessas bandas de cá do Atlântico, no maior país católico do mundo.
O Estado brasileiro é oficialmente laico desde a sua primeira Constituição republicana, promulgada em 1891. Passados mais de 100 anos, no entanto, ainda não conseguiu manter-se totalmente desinfectado da influência da ICAR. E enquanto ainda engatinhava nesta tarefa, eis que surgiram novas influências nefastas representadas pelas igrejas neopentecostais, cada vez mais atuantes e ameaçadoras.
De um lado do ringue, temos a ICAR perdendo cada vez mais o seu rebanho. De outro, o crescimento das igrejas evangélicas, que prometem prosperidade em troca do dízimo e – o que é pior! – do voto. A ICAR continua a se imiscuir nos assuntos do Estado através de suas constantes pressões contra decisões do Congresso Nacional ou do Poder Judiciário. A IURD e outras neopentecostais optaram por uma estratégia mais direta: fazer parte do Estado, lançando ou apoiando candidatos evangélicos para cargos executivos e legislativos municipais, estaduais e federais. A chamada «bancada evangélica» hoje representa uma das mais graves ameaças a laicidade do Estado brasileiro. Por fim, e em grande desvantagem, encontram-se aqueles que lutam por uma completa separação entre religião e Estado.
A imagem acima é um exemplo do que temos por aqui. Mas não é só na nossa moeda que o nome de um deus aparece: nossa última Constituição, de 1988, foi promulgada «sob a proteção de deus». Temos crucifixos em quase todas as repartições públicas, das escolas primárias ao Supremo Tribunal Federal. São feriados nacionais o Corpus Christi (Corpo de Deus), o Natal, a sexta-feira da paixão e o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país. No Rio, temos ainda os feriados de São Jorge e de São Sebastião. O ensino religioso confessional já é uma – amarga, estúpida, intragável! – realidade nas escolas públicas dos Estados do Rio de Janeiro e da Bahia.
Este é o Estado «laico» em que vivo. Não creio que o que aconteça por aqui seja de interesse apenas dos brasileiros. O avanço da intolerância, do obscurantismo e do poder das igrejas em qualquer canto do mundo merece sempre ser denunciado e combatido. Essa é uma luta de todos nós.