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Mês: Maio 2005

3 de Maio, 2005 Palmira Silva

Oxy-morons

Galileu enfrentando a Inquisição, Cristiano Banti (1857)

Como já tive oportunidade de escrever, a disputa do cristianismo contra a Ciência pela posse da verdade é História antiga. No Ocidente, o embate mais mediático e conhecido foi o caso Galileu. Essa batalha foi vencida pela Igreja, que obrigou Galileu a renegar as suas teses para não sofrer o destino de Giordano Bruno: ser imolado pelo fogo em nome da pureza e verdade da fé.

Outra disputa mediática entre ciência e fé pela explicação do mundo aconteceu há oitenta anos com o julgamento de John Scopes (o famoso «Monkey Trial»), o professor que ousou ensinar a teoria da evolução num liceu do Tennessee. Neste século XXI em que paira sobre a humanidade a ameaça dos fundamentalismos religiosos, que tentam recuperar o integrismo religioso medieval, a evolução volta ao banco dos réus, desta vez no estado do Kansas. De facto, o oxímoro(n) Conselho de Educação do Kansas começa esta quinta-feira em Topeka um julgamento de seis dias em que o réu é a evolução, ou, mais propriamente, o ensino da evolução.

O defensor da evolução, o advogado Pedro Irigonegaray, já afirmou o absurdo deste julgamento e considera que «debater a evolução é similar a debater se a Terra é redonda». Os cientistas americanos parecem partilhar desta opinião, para além de considerarem que o pretenso julgamento é apenas uma farsa que encenaram para proibir o ensino da evolução em favor do criacionismo.

São cada vez mais preocupantes os sinais do fundamentalismo cristão no outro lado do Atlântico. Como nos informa o Filipe Castro, «a Harper’s deste mês traz mais informações sobre os tais 30.000.000 (um terço do eleitorado americano) de Evangélicos/Baptistas que querem fazer dos EUA um estado religioso. Uma das coisas pelas quais eles se batem com vigor é a instituição da pena de morte para os crimes de apostasia, blasfémia e sodomia». Para além de existir uma «proposta em cima da mesa para instituir a pena de morte por crimes de bruxaria».

Não é de estranhar que muitos americanos considerem que a democracia americana está sob assalto destes fundamentalistas que pretendem instalar uma teocracia nos Estados Unidos, já que consideram que a laicidade é um «mito socialista».

2 de Maio, 2005 Mariana de Oliveira

Fitas e água benta

A Bênção das Pastas é uma cerimónia religiosa católica, presidida pelo Bispo de Coimbra, que se realiza todos os anos em que em que são abençoadas as Pastas com as Fitas dos Quintanistas.

Este ritual pretende «pretende simbolizar, de certo modo, o fim da vida académica do Estudante, traduzindo-se num ritual de passagem que marca a entrada no mundo do trabalho. No compromisso, feito pelos Fitados, parte central da Bênção, estes propõem-se participar na construção duma sociedade mais justa e fraterna».

Esta é uma entre muitas tradições da Praxe que se vive na Academia Coimbrã. Como estudante da Universidade de Coimbra, Quintanista Fitada, e como ateia, não me repugna a existência de uma cerimónia organizada pelos colegas católicos e a eles destinada assim como não me repugnaria uma bênção das pastas budista ou de qualquer outra religião. O que me repugna, isso sim, é o fenómeno de «carneirização». Passo a explicar: há uma semana que amigos me questionam se vou ou não àquela cerimónia sendo a resposta, obviamente, negativa. Ora, muitos se espantam por isso pois, de acordo com eles, é um evento da Praxe ao qual se vai porque sim.

Este espírito de «carneirada» acrítico potencia uma posição de hegemonia da Igreja Católica no panorama universitário. Para além desta cerimónia, a Universidade de Coimbra é acompanhada por diversas instituições religiosas católicas: Serviço Pastoral do Ensino Superior, o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, o Centro Académico de Democracia Cristã, uma residência de estudantes da Opus Dei – a Residência de Estudantes da Beira – e um Lar Universitário das Irmãs Doroteias. É contra estas demonstrações de poder e de organização que nós, livres pensadores, devemos lutar com um olhar crítico e perscrutador.

2 de Maio, 2005 André Esteves

Um obituário para dois modestos gigantes

Dois dos homens que mais influência tiveram nas nossas vidas, morreram nos últimos dias.

Um deles carregava com o fardo de ter construido as primeiras bombas atómicas e foi o primeiro observador informado no local, da destruição atómica em Hiroxima e Nagasaki. Foi um dos primeiros homens a propor o controle dos arsenais nucleares e a propor a observação do espectro dos microondas à procura de sinais de vida extraterrestre. O outro, sobrevivente de uma família destroçada pela pobreza e pelas doenças infecto-contagiosas, ao descobrir uma cópia escondida da «Origem das espécies» de Charles Darwin, encontrou o estímulo para estudar e tornar-se um dos maiores microbiologistas do século XX.

Falo de Phillip Morrison e Maurice Hilleman.

Talvez o leitor não os conheça, mas o facto de hoje estar vivo talvez se deva aos dois.

Phillip Morrison iniciou a crítica inteligente e informada dos cientistas atómicos (os mesmos que construiram a bomba) ao complexo político-religioso-militar-industrial americano que via a bomba como uma benção de Deus à américa e assim ajudou a afastar o espectro da guerra nuclear global. Maurice Hillerman criou mais de 20 vacinas ao longo da sua carreira como microbiologista. Salvaram, não-linearmente, centenas de milhões de pessoas ao longo da segunda metade do século XX.

Eu conheci Phillip Morrison a partir das páginas da Scientific American, e tive a oportunidade de seguir a sua excepcional série de divulgação científica, «The Ring of Truth».

Numa altura em que se glorifica e mistifica a imaginação do público pela ciência com a última masturbação da física teórica, Phillip Morrison conseguia tornar entusiasmantes e óbvios conceitos e experiências basilares da física.

É inesquecível o episódio em que o átomo é nos revelado. Como usando um lago e uma colher de óleo de cozinha conseguimos obter uma estimativa do tamanho dos átomos e sempre insatisfeitos, vamos de descoberta em descoberta até vermos, literalmente, os átomos á nossa frente.
Ou outro episódio, dedicado à natureza do método científico em que nos são apresentadas as duas faces da mesma moeda: a percepção e a ilusão. Recorrendo à magia e ao ilusionismo somos introduzidos à teoria dos erros e aos cuidados que temos que ter ao percepcionar o mundo que nos rodeia. Ainda hoje, a maioria dos divulgadores científicos foge desse assunto com preconceito, tratando-se na verdade, uma das maiores lições de vida que a ciência nos pode dar.

Apesar de ter passado a vida diminuído pela doença e preso a um carrinho de rodas, Phillip Morrison transbordava de uma sede de conhecimento e felicidade em explorar tudo, que lhe preenchia a vida e contagiava quem o podesse ouvir e conhecer.

Maurice Hilleman nunca se alardeou dos frutos do seu trabalho. Fazia-o porque estava apaixonado por ele. Criou as técnicas modernas de produção de vacinas em massa, bem como a forma liofilizada das vacinas modernas que podem ser guardadas durante longos períodos de tempo em segurança.
Em 1957, antecipou e eliminou uma pandemia global de gripe, tornando-se o primeiro homem a criar uma vacina para uma forma mutante futura de um vírus. Estima-se que o último surto equivalente, a gripe espanhola, matou pelo menos 100 milhões de pessoas.

Hoje, estamos vivos graças ao seu trabalho.
Vivos porque, algures em Montana, uma biblioteca salvou uma cópia da «Origem das Espécies» de Charles Darwin das leis de censura da cidade, fundamentalista cristã. O então adolescente Maurice Hilleman encontrou aí a sua paixão pela biologia, ao descobrir uma outra maneira de ver o mundo com que lidava como míudo do campo. E utilizou o que aprendeu com Darwin para prever e antecipar a evolução de vírus e salvar vidas.

Sem seguidores, crentes e máquinas de propaganda para enganar os homens, sem báculos e tiaras, eram luzes na escuridão. Modestos gigantes desconhecidos.

Humanos como nós, eu vos saúdo.

Links:
– Obituário no The Guardian de Hilleman
– Obituário no MIT de Morrison
– Morrison na Wikipedia
– Hilleman na Wikipedia

2 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Coimbra é uma lição

O bispo de Coimbra, Albino Cleto, conseguiu atrair ontem algumas centenas de finalistas da Universidade de Coimbra para a missa da bênção das pastas. As tradições têm sempre adeptos, à semelhança da praxe e de outras manifestações trogloditas onde se inserem as tradicionais bebedeiras da «queima».

O senhor Bispo considerou que a ida dos estudantes à missa «é sinal de que Deus é Pai». Não explicou se a ausência significaria a falsidade da paternidade ou que, por exemplo, Deus é Mãe. Estes raciocínios eclesiásticos são tão difíceis de seguir!…

Segundo o «Diário as Beiras, o senhor Albino Cleto salientou o facto de «numa vida académica , muitas vezes não se cumprir aquilo que Deus espera», sem explicar o que o dito Deus espera, e ele bispo supostamente sabe, nem o que correu mal nas relações entre aqueles estudantes que até foram à missa benzer as pastas e o Deus do S. Bispo.

Entre várias trivialidades o senhor Bispo afirmou que «Onde estiver a pessoa humana, aí está a Igreja». É exactamente por isso que não podemos dormir descansados. Com Deus podemos nós bem mas com as religiões há sempre um perigo iminente a pairar sobre as pessoas.

No que diz respeito à ICAR, após ter sido confiada a defesa da fé ao pastor alemão Ratzinger, é natural que, mesmo entre católicos, desponte a preferência por lobos.

2 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Um talibã com tiara

O Espírito Santo deixou de ser uma das alegadas pessoas da Santíssima Trindade para se transformar num lacaio do Opus Dei – uma espécie de Al-Qaeda da ICAR -, por ora sem braço armado, mas com recursos financeiros inesgotáveis.

Só assim foi possível que o Inquisidor-Mor da Cúria romana tenha sido feito Papa pelos 115 cardeais alumiados por essa lamparina de serviço aos conclaves – o Espírito Santo -, que ilumina pouco mas é suficiente.

É verdade que Ratzinger, segundo alegou, pediu a Deus para não o fazer Papa, donde se deduz uma de três coisas: Deus não o ouve, o que é pouco recomendável para quem se apresenta como seu representante; mentiu descaradamente à clientela pois, desde um clube de fãs até à homilia para sufragar a alma de JP2, que bem precisava, tudo fez para influenciar os outros cardeais e reunir o número de votos necessários à sua eleição; ou, pura e simplesmente, Deus não existe.

Passada a eleição, feita ao jeito do centralismo democrático, que os partidos comunistas já abandonaram e que a ICAR conserva, Bento XVI sucedeu a JP2. Este conheceu o nazismo, o comunismo e o catolicismo, três formas extremas de repressão e tornou-se o ayatola católico que uma imensa máquina de propaganda pretendeu humanizar. Bento XVI só conheceu o nazismo e o catolicismo. É o homem certo para uma boa síntese.

O Mullah Ratzinger não era um piedoso beato agarrado ao hissope ou que passasse as noites a rezar o terço para aplacar a ira de Deus, que tem um feitio ruim, é rancoroso e gosta de intimidar os crentes e vê-los a rastejar ou de joelhos. O supremo Inquisidor admoestava os livres-pensadores, proibia livros e perseguia réprobos.

Já em 1988 escrevia que «A Igreja (leia-se ICAR) deve ter direitos e fazer exigências sobre lei civil e não pode meramente retirar-se para a esfera privada». É a esta luz que deve ser compreendida a desvairada ofensiva contra o Governo espanhol por causa dos casamentos homossexuais e o fim da obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas.

Aqui ficam alguns pensamentos do talibã Ratzinger, de acordo com o seu último livro «Dios y el mundo» apresentado em 29 de Abril, em Espanha, pelo secretário-geral da Conferência Episcopal e pelo teólogo do Opus Dei, Josep Ignasi Saranyana, comentado por ANTONIO M. YAGÜE – MADRID «El Periódico 30/04/05»:

– A família tradicional, abençoada por Deus, «é a maneira correcta de ordenar a sexualidade»;
– É contra os casamentos homossexuais;
– Defende o veto da Igreja aos contraceptivos;
– Condena o uso do preservativo: « A miséria resulta da desmoralização social e a propaganda do preservativo é parte dessa desmoralização»;

Os apresentadores, acima referidos, não regatearam elogios ao livro. Disseram que foi uma bênção para a Igreja que o Inquisidor estivesse 24 anos à frente do ex- Santo Ofício. «Será o Papa da evangelização da Europa» – ameaçou Saranyana.

O Episcopado espanhol e o Opus Dei dizem que a obra contém a chave do pontificado.

É bem feita para os católicos mas os outros podem defender-se do pastor alemão. A vacina contra a raiva chama-se laicidade.

1 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Vale a pena bater no ceguinho

Antes do 25 de Abril de 1974 o único bispo que discordou da ditadura foi António Ferreira Gomes, bispo do Porto. Sofreu dez anos de exílio e foi a excepção que confirmou a regra de uma Igreja comprometida com a ditadura, silenciosa perante as prisões arbitrárias, alheada do degredo, da tortura e dos assassinatos que a ditadura cometeu contra o povo português..

Depois de Abril, a ICAR tolerou a democracia, apesar da azia que apoquentou os bispos que viram muitos padres trocar o múnus pelo tálamo conjugal, optar pelo Kamasutra em vez da Bíblia, abandonar as pessoas da Santíssima Trindade por uma única mulher.

Hoje pode dizer-se que a Igreja tem uma postura civilizada, com excepção no que diz respeito à defesa e ampliação dos privilégios que a pusilanimidade dos governantes consente. Interfere nas leis que dizem respeito à família, vai buscar à gamela do orçamento o ordenado dos capelães militares e hospitalares, os vencimentos dos professores de religião católica e o dinheiro necessário à reparação dos estabelecimentos comerciais, designados igrejas.

Desde 1975 que nenhum outro bispo ameaçou com a «heresia e as penas do inferno» quem não votasse no CDS como o fez o bispo de Braga, Francisco Maria da Silva. Não consta que a Igreja tenha voltado a comprometer-se com o terrorismo depois de extintos o MDLP e o ELP. Até o bondoso cónego Eduardo Melo se entregou mais ao Sporting de Braga e à saudade que tem por «esse grande estadista» que pensa ter sido Salazar.

Mas os bispos não podem ignorar as palavras do paladino da liberdade que foi o Cardeal Ratzinger, que usa agora o pseudónimo de Bento XVI: «O cristão é uma pessoa simples» e «os bispos devem defender esta gente sincera dos intelectuais».

É por isso que em Timor é mais fácil cumprir a vontade de Deus. Ximenes Belo proibiu o uso dos contraceptivos. Agora, Alberto Ricardo da Silva e Basílio do Nascimento, bispos de Díli e Baucau, respectivamente, não toleram o carácter facultativo da religião nem a redução da carga horária. A salvação das almas não pode estar sujeita à vontade dos homens. Deus não se discute. A Bíblia não se põe a votação. Os sacramentos não são mercearia, à espera dos fregueses.

Na diocese de Díli castiga-se o corpo dos réprobos para lhes salvar a alma, prendem-se os suspeitos para os libertar dos pecados, ameaça-se a vida dos danados para que possam arrepender-se e gozar a vida eterna.

Não falta liberdade em Timor. Todos podem rezar o terço. Há missas frequentes. Os cânticos religiosos são estimulados. Os casamentos abençoados procriam para maior glória de Deus. A Virgem Santíssima viaja em papel colorido nas mãos dos crentes.

Em Timor cada homem é um soldado de Cristo cujos batalhões são comandados por dois bispos, auxiliados por uma multidão de freiras e padres. Em Timor o catolicismo avança em plena Idade Média. Em Portugal, o Governo e a Conferência Episcopal não sabem o que se passa em Timor e aguardam instruções divinas ou do Papa, dois intrujões com provas dadas e mentalidade anacrónica à espera de reciclagem.

A ICAR é pacífica.

1 de Maio, 2005 fburnay

Está aí alguém?

Bastante agoniado pela desculpa, já esfarrapada do uso, de que a Igreja é feita de homens que cometem erros, mesmo sob o dogma da infalibilidade papal, e que assim tenta perdoar os crimes do passado sob o manto da má memória e das vicissitudes históricas, lembro aos seguidores da ICAR que esta não perde tempo a fazer uso dessa propriedade tão humana que é a imperfeição.

É que a ICAR está a cometer um erro, bem recente mas nada original, em Timor.

A atitude da parte dos crentes também não é propriamente inovadora. Vão querer esperar uns anos para condenar o que está a acontecer agora? Vão querer deixar as coisas arrefecer e então ouvir as desculpas do vosso infalível pontífice para depois desbobinarem a posição oficial da ICAR sobre o assunto a quem constrangedoramente optar por pegar no assunto? Ou será que os acontecimentos que têm tido lugar em Timor são inocentes demais para rivalizar com o passado da vossa Igreja?

1 de Maio, 2005 Palmira Silva

Inquisição em Dili

De acordo com o Diário de Notícias, que cita uma testemunha que pede o anonimato (pelas razões óbvias) os dois portugueses que foram agredidos pelos fanáticos católicos que se concentram em frente à residência do primeiro-ministro timorense foram sujeitos a um «tribunal popular na casa do bispo de Díli e maltratados durante quatro horas».

A testemunha acrescenta que «Os dois estavam sentados num canto, todos escavacados, num pequeno anexo, insisti para que os levassem a um hospital, mas diziam que não, que ‘eles tinham de ser julgados, num tribunal à maneira’, com jurados e tudo». Os dois portugueses, um professor e um funcionário de uma empresa de construção, só foram libertados deste reviver da boa tradição inquisitorial quando outro português decidiu ficar como refém dos tresloucados e prepotentes delegados da Igreja de Roma em Timor, certamente para permitir tratamento médico às primeiras vítimas desta tentativa de golpe de estado teocrático.

Segundo o Diário de Notícias, o português que testemunhou o «tribunal popular» disse ainda que numa tentativa de menorizar o sequestro de dois cidadãos estrangeiros em casa do Bispo, o porta-voz do Episcopado, padre Domingos Soares, terá dito que «também temos aqui jovens timorenses que não se portaram bem, não são só os portugueses».

O mesmo padre Domingos Soares acabaria por reconhecer os acontecimentos ao jornalista da RTP/Antena 1 em Díli «Todas as pessoas de quem desconfiamos, e cuja atitude é diferente, são levadas para o centro de investigação para esclarecer as suas atitudes». Ou seja, admite que há um «tribunal popular» em casa do Bispo. Como nos «saudosos» tempos da Inquisição, a Igreja Católica timorense arroga-se ao direito de julgar cidadãos, crentes ou não crentes, por atitudes «diferentes» das preconizadas pela «santa» Igreja!

1 de Maio, 2005 jvasco

Aspiração clericalista

Não só em Timor, mas em muitas partes do mundo, vários crentes de diferentes religiões lutam para conseguirem concretizar as suas aspirações…

1 de Maio, 2005 Mariana de Oliveira

A luta continua

De acordo com o presidente da FRETILIN, Francisco Guterres «Lu-Olo», a Igreja Católica mantém cárceres privados na residência do bispo de Díli e que cidadãos se encontram lá detidos.

Esta notícia surge depois de doze dias de manifestação, organizada pela ICAR, contra a decisão do governo timorense de tornar o ensino da religião facultativo e pago por aquela confissão religiosa, em 32 escolas nacionais.

Não se ficando pela tentativa de invasão do Palácio Governamental, censura de jornalistas e de pressões várias, cidadãos portugueses foram agredidos pelos protestantes.

De acordo com o artigo 12º Constituição da República Democrática de Timor-Leste, «o Estado reconhece e respeita as diferentes confissões religiosas, as quais são livres na sua organização e no exercício das actividades próprias, com observância da Constituição e da lei». Ora, a Lei Fundamental, no artigo 16º, consagra o princípio da igualdade e da universalidade, ou seja, «todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres» e, assim, «ninguém pode ser discriminado com base na cor, raça, estado civil, sexo, origem étnica, língua, posição social ou situação económica, convicções políticas ou ideológicas, religião, instrução ou condição física ou mental». Conjugando estes dois preceitos, temos que o Estado Timorense é laico e que, ao entender que a disciplina de religião e moral, no ensino público, deve ser facultativa e financiada pela confissão religiosa em causa, está apenas a observar os princípios constitucionais mais básicos.

Para além disso, apesar da liberdade de reúnião e de manifestação estar assegurada no artigo 42º, esta implica que seja «pacífica e sem armas». Não parece que o incitamento ao derrube de um governo e a agressão a cidadãos estrangeiros se insira na definição de «pacífico».

Em suma, a Igreja Católica, ao tentar um golpe de Estado – por uma bagatela, diga-se de passagem – está a imiscuir-se nos assuntos de Estado de uma jovem República de forma injustificável e inadmissível numa Democracia civilizada.