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Mês: Maio 2005

5 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Timor, meu amor

Os católicos afirmam que Deus castiga os que mais ama. Se Deus existisse e o sadismo que lhe atribuem se confirmasse, não restavam dúvidas de que Timor Lorosae tinha sido a escolha para a malfeitoria.

Primeiro foi o colonialismo português, depois a ocupação indonésia, agora o despotismo da Igreja católica. Em Timor Lorosae as homilias transpiram ódio, as orações alimentam a intolerância, a eucaristia promove a cegueira. A fé está ávida de sangue, o clero busca o martírio e o poder. Os bispos promovem o obscurantismo e os padres e freiras adubam o fanatismo.

Quem sente o ódio do clero não pode acreditar na bondade do seu Deus. A liberdade é um perigo a esconjurar e a democracia uma criação demoníaca a erradicar. Em Timor Lorosae a teocracia avança alimentada a hóstias e regada a água benta, ao som de cânticos e orações. A volúpia do poder retira a máscara aos bispos e à religião.

Nas trevas da fé medra a aversão à modernidade. A liberdade religiosa é um perigo que pode lançar dúvidas e libertar pessoas. A pílula e o preservativo são invenções satânicas que urge esconjurar. O planeamento familiar é uma ofensa que põe Deus de mau humor. A liberdade e a democracia não vêm na Bíblia. A ICAR amaldiçoa o progresso.

A detenção e agressão a dois portugueses na residência do bispo de Díli, vítimas de julgamento popular por manifestantes católicos, são um crime que fica impune, um acto de violência gratuita, uma manifestação eloquente do que a ICAR é capaz, quando pode. O catolicismo combate e subverte o Estado de direito. Os timorenses continuam reféns da cáfila clerical e das alfurjas diocesanas onde medra o ódio e a intolerância.

Quem sabe se as torpes manifestações de fé, trogloditas e agressivas, não esconde, para além da vocação totalitária da ICAR, uma chantagem pelo dízimo a que se julga com direito – a comparticipação nas receitas da exploração do petróleo no mar de Timor!?

De qualquer modo, a democracia está em perigo como alertou Vital Moreira no artigo «Escalada teocrática», no «Causa Nossa».

5 de Maio, 2005 Palmira Silva

Yom Hashoah

Hoje 5 de Maio de 2005 ou 26 de Nisan no calendário judaico, celebra-se o Dia de Lembrança do Holocausto. Em que se recordam os seis milhões de mortos judeus para que nunca mais seja possível o horror que aconteceu há 60 anos. Para perpetuar a memória e as lições do Holocausto para as futuras gerações e para que imagens como estas nunca mais se repitam!

Mas o Yom Hashoah é também um dia de esperança em que simultaneamente se celebra a revolta heróica no ghetto de Varsóvia em 1943. Assim como as acções dos «Justos entre as Nações». Porque há sempre esperança se todos repudiarmos tiranos em nome de uma ideologia, religião ou do que quer que seja…

5 de Maio, 2005 Ricardo Alves

O padre bom é o padre que se cala e obedece

Segundo a Agência Ecclesia, o teólogo brasileiro Leonardo Boff foi insultado pelo presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, Geraldo Majella Agnelo, que afirmou que Boff «não é uma pessoa de fé» e lhe chamou «ingrato».
Estas críticas acontecem após Boff ter declarado que o Papa Bento 16º seria «difícil de amar». Deve notar-se que foi Ratzinger, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que reduziu Leonardo Boff ao silêncio, proibindo-o de escrever e falar.
Agnelo recordou ao «católico progressista» Boff que outras pessoas foram condenadas ao silêncio e que «nunca abriram a boca para denegrir a Igreja, o Evangelho e o Papa». Por outras palavras, mandou Leonardo Boff calar a boca. A ICAR é, antes de tudo, obediência. A liberdade de expressão não é um valor católico, como todos os católicos, «progressistas» ou não, têm obrigação de saber.
4 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Senhor, dai-lhe a morte

«Crescem as rezas entre os colonos judeus extremistas da Faixa de Gaza para que Ariel Sharon morra ou seja morto» – lê-se hoje em «A Capital», (site indisponível).

É preciso muita fé para tanto ódio. A oração é um placebo mas os crentes não sabem. Deus é uma criação humana mas os fanáticos não acreditam. A morte é um crime ou uma fatalidade biológica mas os devotos julgam-na uma prerrogativa divina.

É nestas alturas que recordo o ódio fanático das doces catequistas da minha infância, a instilar piedosamente o ódio contra judeus, maçons e comunistas. Os primeiros por terem matado Cristo, os segundos porque eram inimigos da ICAR, único veículo homologado para a salvação eterna, e os últimos porque eram ateus e matavam criancinhas.

Desejar a destruição de alguém é um sentimento perverso que se insere na cultura da morte. É um ímpeto totalitário que começa com orações e, em caso de fracasso, passa à bala. Foi o que aconteceu a Yitzhak Rabin. É a orgia da fé no seu máximo esplendor.

Vejam lá, leitores, se encontram diferença entre os radicais islâmicos, estes exaltados judeus, os cristãos evangélicos que assassinam médicos e enfermeiros nos EUA, nas clínicas onde se fazem abortos, ou os católicos que em Timor ameaçam o Palácio do primeiro-ministro que pretende tornar facultativa a aula de religião católica?

Por todo o lado, piedosas cavalgaduras encontram na morte e no ódio a exaltação da fé e a forma de agradarem ao seu Deus.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Bispos de Timor ensandeceram!

As palavras não são minhas mas podê-lo-iam ser: na página «Notícias Lusófonas» onde tenho recolhido boa parte das notícias do comportamento aberrante, anacrónico e anti-democrático da Igreja católica em Timor, que transcreve notícias da Lusa na sua maioria não utilizadas pela nossa imprensa nacional pode ler-se: Igreja Católica quer que o caos passe ao Poder em Timor-Leste
«Novas exigências da igreja católica timorense inviabilizaram hoje o fim da manifestação anti-governamental que há 16 dias mantém o país em suspenso. Exorbitando todas as suas funções num Estado de Direito, a Igreja parece apostada em levar o país para o caos, indiferente aos apelos do Vaticano e das instituições internacionais. Pediram a mão e o Governo cedeu, agora querem o braço, e depois se verá…»

A situação em Timor parece o proverbial barril de pólvora prestes a explodir a qualquer faísca. E o o porta-voz do Episcopado, padre Domingos Soares, bem se esforça por «incendiar» os ânimos dos manifestantes, sendo certamente um dos visados pela declaração do superintendente-chefe da Polícia Nacional de Timor-Leste de que «alguns padres querem que algo corra mal, para atirarem a culpa para cima da PNTL e do Governo». O piedoso prelado tenta acirrar os ânimos da multidão de fanáticos que arregimentou explicando-lhes como devem actuar no caso de a Polícia utilizar gás lacrimogéneo, bem como a forma de a enfrentar caso os tente dispersar pela força.

O primeiro ministro Alkatiri já fez cedências «importantes» à Igreja, um erro estratégico, e assim a saga continua. E a História permite prever que continuará até ao estabelecimento de uma teocracia se as cedências face à despótica Igreja se mantiverem. Não obstante fontes religiosas sugerirem que os bispos de Timor estão a ser pressionados pelo Vaticano para uma mudança do rumo das reivindicações, cada vez mais claramente de índole política. Sugestão pouco credível já que o Núncio Apostólico esteve recentemente em Díli a apoiar os protestos e subscreve as reinvidicações dos bispos timorenses.

Aliás, a Igreja timorense segue ipsis verbis o preconizado pelo finado Papa, expresso no seu best-seller, «Memória e identidade» em que João Paulo II diz claramente que «Parlamentos que criam e promulgam essas leis devem estar conscientes de que transgridem os seus poderes e se colocam em conflito aberto com a lei de Deus e a lei natural». Aliás em consonância com a encíclica «O Evangelho da Vida» (1995), em que João Paulo pedia a desobediência pública a César em nome de Deus «Quando uma lei civil legitima o aborto ou a eutanásia», escreveu, «deixa de ser, por essa mesma razão, uma verdadeira lei civil, e por isso moralmente obrigatória… Está inteiramente privada de autêntica validade jurídica». Aliás o próximo santo no panteão católico nunca aceitou sem reservas a democracia, a que chamou «uma liberdade que cria escravos», uma nova serpente biblíca a tentar com o fruto do conhecimento populações que certamente preferiria, tal como o actual Papa, manter simples e longe da influência de intelectuais…

4 de Maio, 2005 Mariana de Oliveira

Malditos amuletos

Um homem de cerca de trinta anos chamado, Mamadou Obotimbe Diabikile, tentou assaltar o Banco de Desenvolvimento do Mali convencido de que estava sob a protecção de um feitiço que o tornaria invisível (A Cabra, ed. nº 132, ano XIV, pág. 23). O ladrão foi preso, tendo sido alvejado antes da detenção pelas forças policiais.

De acordo com fonte policial, o homem trazia consigo «cerca de quinze quilos de amuletos» e possuía mais em casa.
Mamadou declarou às autoridades que queria «vingança» e parecia pertencer a uma seita. No entanto, não foi capaz de dar uma explicação coerente para a tentativa de assalto.

A religião e a superstição podem conduzir a estes comportamentos estranhos e absurdos para qualquer um que consiga articular um raciocínio mais ou menos lógico.

4 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Deus e os padres

Deus criou o Mundo e emigrou. Não fez obra asseada nem mostrou regular bem da cabeça, mas não faltam voluntários a enaltecer a obra nem candidatos a testamenteiros da vontade divina.

Quem se julga feito à imagem e semelhança de Deus tem direito a essas e outras tolices. Mas não tem o direito de impor a vontade à força, de converter incréus pela violência, de purificar os pecadores pelo fogo, lapidação e outras formas de pedagogia de que as religiões gostam.

O clero é uma classe parasitária que vive da venda de uma mercadoria cuja existência não pode provar, que exerce poder e influência graças a truques de utilidade duvidosa, que promete o Paraíso a preços insuportáveis com o alibi de que tem o monopólio da verdade e o alvará da única agência de transportes.

O que me surpreende é a clientela que mantém, a fidelidade dos fregueses e a sua dedicação.

Há dias, o Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa entregou na Torre do Tombo um dossiê de 121 folhas, em papel almaço dactilografado, com agentes daquela organização fascista que recolhia informações sobre os democratas. Ora, na cáfila de delatores e gente de mau porte, havia duas páginas de párocos. Acontecia, aliás, o mesmo na PIDE onde piedosos bufos de sotaina denunciavam democratas antes ou depois da confissão.

Como cidadão lamento que os esbirros não tenham sido julgados e os crimes da PIDE e da Legião Portuguesa tenham ficado impunes mas, como ateu, – e é isso que interessa aqui -, fico perplexo com a boa fé dos crentes que se genuflectem aos pés de primatas tão abjectos. Sempre me enojou a subserviência de quem é capaz de beijar a mão de um padre, a fragilidade de quem é capaz de confessar actos cuja indignidade uma recta consciência devia impedir de cometer.

Claro que não são todos. Pudera! Mas alguém duvida da poderosa arma que constitui a confissão e das numerosas vezes que foi, é e será usada para benefício da santa cáfila que se dedica aos negócios de Deus e à conquista metódica e persistente do poder?

Comemora-se ente ano, em França, o centenário da separação do Estado e da Igreja. Esta, sem a laicidade comportar-se-ia em Portugal de forma diferente do que em Timor? Em Espanha a ICAR respeita o Governo e a legalidade democrática?

Esperem que em Portugal os temas do aborto, da eutanásia e das uniões homossexuais se encaminhem para a regulamentação legal e verão, caros leitores, os uivos, as injúrias e os anátemas com que a ICAR nos vai brindar. O clero não muda, tal como o camaleão apenas se adapta ao meio para melhor nos confundir.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Desenvolvimentos em Timor

O Comando-geral da Polícia Nacional de Timor-Leste, pela pena do seu superintendente-chefe, Paulo Martins, solicitou por escrito aos responsáveis da Igreja Católica timorense que ponham fim à manifestação que se desenrola há quinze dias a 150 metros do palácio do Governo. Evidenciando o carácter ilegal da mesma e a violência infligida pelos manifestantes a quem tivesse comportamento «diferente», a PNTL pôs como prazo para a desmobilização da manifestação o final do dia de ontem, terça-feira.

«Face à violência que perturbou a ordem pública, o Comando- Geral da PNTL ordena que esta manifestação acabe terça-feira, dia 03 de Maio» pode ler-se na carta enviada à residência oficial do bispo de Díli, onde está instalado o «tribunal popular» que «julgou» os dois portugueses que foram agredidos pelos católicos manifestantes.

Uma vez que a Igreja de Timor não desiste do seu propósito de derrubar o governo democraticamente eleito a resposta do padre Apolinário Guterres, Vigário-geral da Diocese de Díli, foi simplesmente o reinstar da supremacia da Igreja em relação à lei afirmando que a manifestação ilegal «acaba quando tiver que acabar, e não com ultimatos da polícia».

Uma vez que a manifestação decorre no coração da cidade onde estão instalados diversos organismos internacionais, nomeadamente os escritórios do Banco Internacional, para além do Banco Central timorense, fechados desde segunda-feira, e o clima de tensão vivido no local tem conhecido uma escalada devido à existência de um «sentimento de provocação» por parte dos manifestantes, já que «alguns padres querem que algo corra mal, para atirarem a culpa para cima da PNTL e do Governo», a polícia timorense propôs hoje à igreja a mudança do local da manifestação após uma reunião promovida pelas Nações Unidas.

O padre Filomeno Jacob, secretário do bispo de Díli, não se quis comprometer com qualquer resposta a esta proposta para recuar 200 metros da localização actual, sem antes consultar a hierarquia da igreja.

Esperam-se novos desenvolvimentos da situação em Timor, que de momento não parece estar a desenrolar-se muito favoravelmente para a delegação timorense da Igreja liderada por Bento XVI, o Papa anteriormente conhecido como o inquisidor-mor Joseph Ratzinger.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Miami vices

A Flórida, governada pelo mui religioso irmão do ainda mais devoto presidente dos Estados Unidos, ambos defensores intransigentes da vida, como tivemos oportunidade de apreciar durante o caso Terry Schiavo, é um estado de profundas contradições.

Um mês depois de aprovada uma lei que permite que qualquer cidadão possa matar um potencial agressor na rua (anteriormente já o podia fazer em casa, no carro ou local de trabalho) e que os opositores garantem ir transformar as ruas da Flórida em versões modernas do velho Faroeste, Jeb Bush afirmou-se novamente um «cruzado» pela vida, ou, como ele próprio se descreveu, o governador mais pró-vida da História.

Em causa estava a gravidez de uma criança de 13 anos confiada à guarda do Estado e que o Estado pretendia ser demasiado «imatura» para acatar a sua decisão de terminar essa gravidez que, de acordo com idade de consentimento expressa na lei da Flórida, é resultado de uma violação. Assim o estado da Flórida tentou impedir a adolescente de efectuar uma interrupção voluntária da gravidez.

A ACLU (American Civil Liberties Union) interpôs um recurso em nome da adolescente e segunda-feira o juíz Ronald Alvarez que apreciou o caso decidiu que a esta poderia realizar o aborto.

O estado decidiu, quiçá recordando o desfecho do caso Terry Schiavo, desistir da sua intenção de impedir a livre escolha da adolescente.

O governador Jeb Bush vai certamente continuar a trabalhar na sua defesa intransigente da vida, tal como esta defesa é entendida pela esmagadora maioria dos cristãos americanos, ou seja, a defesa de embriões, espermatozóides, óvulos e células estaminais embrionárias. Porque como disse a senadora da Carolina do Norte Elizabeth Dole na convenção do Partido Republicano em Setembro do ano transacto «A protecção da vida não é algo que os republicanos inventaram mas é algo que os Republicanos defenderão». Para além, claro, da famosa afimação de que «A Constituição garante liberdade de religião não liberdade DA religião (The Constitution guarantees freedom of religion, not freedom from religion)».