Defesa Intransigente da Vida
Excertos do Memorando confidencial enviado pelo então cardeal Ratzinger a Theodore McCarrick, arcebispo de Washington, tornado pública em Julho de 2004. Relembrando que nessa época se disputava a Presidência dos Estados Unidos entre Bush, um evangélico anti-aborto e Kerry, um católico pessoalmente contra o aborto mas respeitando a consciência de quem o escolhia e como tal pró escolha, e que, supostamente, o Papa era veementemente contra a guerra no Iraque.
« 2. A Igreja ensina que o aborto e a eutanásia são um pecado grave. A carta evangélica Evangelium vitae, com referência a decisões judiciais ou leis civis que autorizem ou promovam o aborto ou eutanásia, estipula que «existe uma grave e clara obrigação para a sua oposição por objecção de consciência. […] No caso de uma lei intrinsecamente injusta, como uma lei que permita o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito, por conseguinte, obedecer a essa lei ou fazer propaganda em favor dessa lei ou votar a seu favor’» (no. 73). Os cristãos têm uma «grave obrigação de consciência de não colaborarem em práticas, mesmo que permitidas pela legislação civil, que são contrárias à lei de Deus. […] Esta colaboração nunca pode ser justificada por invocação do respeito à liberdade de outros ou apelando ao facto que a lei civil o permite ou requer»(no. 74).
3. Nem todas as questões morais têm o mesmo peso que o aborto ou a eutanásia. Por exemplo, se um católico tiver opinião contrária da do Papa na aplicação da pena capital ou na decisão de iniciar uma guerra, ele não deve ser considerado por essa razão indigno de se apresentar para receber a sagrada comunhão. Pode existir uma legítima diversidade de opiniões entre católicos sobre uma guerra e a aplicação da pena de morte mas não em relação ao aborto e eutanásia.»
Ou seja, para Ratzinger os cristãos devem ser contra decisões judiciais e leis que autorizem o aborto e a eutanásia, considerados pecados graves. Aliás é seu dever ser completamente intolerantes com quem não se reger pelo dogma da sacralidade do embrião e com quem reclama o direito a morrer com dignidade.
Nas recomendações de como devem os católicos votar, explica assim que um católico será considerado culpado por cooperar com o mal, e não poderá receber a comunhão, se votar num candidato político que seja a favor da eutanásia e/ou do aborto. Em contrapartida um candidato político que seja (fervorosamente) a favor da pena de morte (afinal inscrita e abundamente prescrita na palavra de Deus revelada, i.e. na Bíblia) ou que decida por uma guerra injusta com centenas de milhares de vidas inocentes como «danos colaterais» deve ser aceitável para qualquer cristão.
Fico sempre muito baralhada com a defesa intransigente da vida advogada pela Igreja Católica…