13 de Maio – feira anual
É preciso muita insensibilidade para não sentir dó dos numerosos peregrinos que vão a pé a Fátima. Seguem em bandos pela orla do caminho, atravessam estradas, distraídos, pés inchados, rostos suados, corpos sofridos, em busca do alívio de uma promessa cumprida por um favor implorado ou uma graça recebida.
Acreditam que alguém, algures noutro astro, se importa com vidas tristes e cinzentas. Imploram a protecção da virgem viageira que poisa em azinheiras, fala com pastorinhos e põe o Sol a fazer piruetas. Crêem no Pai, no Filho e no Espírito Santo, confiam em anjos e demónios, em bruxas e maus olhados, na confissão como detergente, nas propriedades nutritivas da eucaristia e na água benta como desinfectante.
Muitos rezam ainda pela conversão da Rússia e pelo fim do comunismo. Pedem a Deus que ilumine os governantes e lhes dê longa vida enquanto outros, mais esclarecidos, os advertem, a estes não, e voltam às contas do rosário a desfiar ave-marias e padre-nossos numa interminável cantilena com que esperam indulgências que os conduzam à vida eterna.
São longos os caminhos e demorada a viagem. Rezam pelo Santo Padre, sem se darem conta de que ele precisaria de muitas orações se acaso estas resultassem ou ele lograsse tornar-se melhor. E voltam ao rosário, às jaculatórias, aos mistérios gozosos, dolorosos ou gloriosos, consoante o dia da semana, e à alienação dos padre-nossos e ave-marias.
São devotos que se revêem no Francisquinho, mais dado à contemplação mística do que à frequência escolar, que rezam à Jacintinha com enorme devoção, que anseiam pela canonização da Lúcia. São crentes, portadores de uma fé cada vez mais anacrónica, que exultam com a procissão das velas e se comovem com a bênção apostólica, que mantêm abertas as igrejas e a próspero o Vaticano.
São estes peregrinos que vão em busca de Deus e se satisfazem com um cardeal, alguns bispos e numerosos padres, julgando-se perto do Céu. São como crianças que vão ao Jardim zoológico e crêem viajar pela selva e embrenhar-se em florestas tropicais.
A fé não move montanhas mas cria montanhas de ilusões.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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