Miami vices
A Flórida, governada pelo mui religioso irmão do ainda mais devoto presidente dos Estados Unidos, ambos defensores intransigentes da vida, como tivemos oportunidade de apreciar durante o caso Terry Schiavo, é um estado de profundas contradições.
Um mês depois de aprovada uma lei que permite que qualquer cidadão possa matar um potencial agressor na rua (anteriormente já o podia fazer em casa, no carro ou local de trabalho) e que os opositores garantem ir transformar as ruas da Flórida em versões modernas do velho Faroeste, Jeb Bush afirmou-se novamente um «cruzado» pela vida, ou, como ele próprio se descreveu, o governador mais pró-vida da História.
Em causa estava a gravidez de uma criança de 13 anos confiada à guarda do Estado e que o Estado pretendia ser demasiado «imatura» para acatar a sua decisão de terminar essa gravidez que, de acordo com idade de consentimento expressa na lei da Flórida, é resultado de uma violação. Assim o estado da Flórida tentou impedir a adolescente de efectuar uma interrupção voluntária da gravidez.
A ACLU (American Civil Liberties Union) interpôs um recurso em nome da adolescente e segunda-feira o juíz Ronald Alvarez que apreciou o caso decidiu que a esta poderia realizar o aborto.
O estado decidiu, quiçá recordando o desfecho do caso Terry Schiavo, desistir da sua intenção de impedir a livre escolha da adolescente.
O governador Jeb Bush vai certamente continuar a trabalhar na sua defesa intransigente da vida, tal como esta defesa é entendida pela esmagadora maioria dos cristãos americanos, ou seja, a defesa de embriões, espermatozóides, óvulos e células estaminais embrionárias. Porque como disse a senadora da Carolina do Norte Elizabeth Dole na convenção do Partido Republicano em Setembro do ano transacto «A protecção da vida não é algo que os republicanos inventaram mas é algo que os Republicanos defenderão». Para além, claro, da famosa afimação de que «A Constituição garante liberdade de religião não liberdade DA religião (The Constitution guarantees freedom of religion, not freedom from religion)».