Oxy-morons
Como já tive oportunidade de escrever, a disputa do cristianismo contra a Ciência pela posse da verdade é História antiga. No Ocidente, o embate mais mediático e conhecido foi o caso Galileu. Essa batalha foi vencida pela Igreja, que obrigou Galileu a renegar as suas teses para não sofrer o destino de Giordano Bruno: ser imolado pelo fogo em nome da pureza e verdade da fé.
Outra disputa mediática entre ciência e fé pela explicação do mundo aconteceu há oitenta anos com o julgamento de John Scopes (o famoso «Monkey Trial»), o professor que ousou ensinar a teoria da evolução num liceu do Tennessee. Neste século XXI em que paira sobre a humanidade a ameaça dos fundamentalismos religiosos, que tentam recuperar o integrismo religioso medieval, a evolução volta ao banco dos réus, desta vez no estado do Kansas. De facto, o oxímoro(n) Conselho de Educação do Kansas começa esta quinta-feira em Topeka um julgamento de seis dias em que o réu é a evolução, ou, mais propriamente, o ensino da evolução.
O defensor da evolução, o advogado Pedro Irigonegaray, já afirmou o absurdo deste julgamento e considera que «debater a evolução é similar a debater se a Terra é redonda». Os cientistas americanos parecem partilhar desta opinião, para além de considerarem que o pretenso julgamento é apenas uma farsa que encenaram para proibir o ensino da evolução em favor do criacionismo.
São cada vez mais preocupantes os sinais do fundamentalismo cristão no outro lado do Atlântico. Como nos informa o Filipe Castro, «a Harper’s deste mês traz mais informações sobre os tais 30.000.000 (um terço do eleitorado americano) de Evangélicos/Baptistas que querem fazer dos EUA um estado religioso. Uma das coisas pelas quais eles se batem com vigor é a instituição da pena de morte para os crimes de apostasia, blasfémia e sodomia». Para além de existir uma «proposta em cima da mesa para instituir a pena de morte por crimes de bruxaria».
Não é de estranhar que muitos americanos considerem que a democracia americana está sob assalto destes fundamentalistas que pretendem instalar uma teocracia nos Estados Unidos, já que consideram que a laicidade é um «mito socialista».